"Se você é pobre é porque não soube explorar o outro. Ninguém é pobre impunemente...Logo não é defeito é uma qualidade" ( Sérgio Ricardo - compositor e cineasta)
Tem um vírus por aí que mata. Tem um vírus por aí que contamina qualquer um, que faz com que queiramos lucrar acima de tudo, que façamos tudo para sermos os melhores, mas um melhor piorado, mesquinho, mais vil, mais sem se importar.
Tem um vírus por aí, que corrói o caráter das pessoas, que deleta a alteridade, que exclui a empatia, que mata a alma, se hospeda e torna seu hospedeiro um zumbi.
Tem um vírus por aí, que impede que o indivíduo enxergue um palmo á frente do nariz e volta a visão periférica para o umbigo.
Mas não é só isso, essa é só a ponta do iceberg na trajetória desse vírus horrendo. Desde que inventamos a moeda, o livre mercado e o nosso glorioso modo de produção, criamos também a incubadora do vírus...um exército de pessoas que só tenha como patrimônio sua força de trabalho e que a venda bem baratinha para que possamos ter lucro. Mas é claro que isso não é suficiente, queremos sempre mais.
O vírus é contagioso e o nome da doença é ganância. A dita cuja deixou de ser uma epidemia restrita às multinacionais empoderadas como instrumento de hegemonia de superpotências, para se tornar uma pandemia que contagia desde as grandes corporações até o padeiro da esquina, que coloca bromato na massa do pão para usar menos farinha e assim lucrar mais.
Os gananciosos são os nossos ícones, exemplos de sucesso. Instituiu-se, entre nós, que dignos de nossa admiração e respeito são os de ascendência social, com patrimônio invejável e com acessos às rodas de poder do mundo. Uma das revistas mais respeitadas do planeta é a Forbes, que faz ranking dos mais bem sucedidos capitalistas. Assim, a vida, o existir, a chance de se conviver com iguais, como humanos, a aquisição de valores intrínsecos, não conta para ranking de nada. Virou chavão de fracassados.
A desigualdade social não é a que nos separa do consumo de bens duráveis, é a que define e institucionaliza a miséria como alicerce para esse modo de produção. Há a necessidade de um exército de miseráveis que consuma o que sobra, que carreguem papelões para reciclagem, que limpem o lixo que deixamos e que venda a força de seus braços a troco de nada. Mas alguém pode alegar que aquele indivíduo tem as mesmas chances que todos, que tudo depende dele, da sua força,...não é bem assim (vide links no final do texto). Quanto mais consumimos, de mais quantidade deles precisamos para que a produção acompanhe a demanda e os preços não se alterem, já que sua mão-de-obra vale nada, dando lucro a quem produz e a quem vende.
A indústria que mais cresce hoje não é automobilística, nem a de fabrico de linha branca, nem a da construção civil, nem a de aeronaves e embarcações fluviais, é a da miséria, a da produção de mão-de-obra barata, sem capacidade de consumo.
O verdadeiro alicerce do modo de produção capitalista é a miséria, e isso é tão corriqueiro, tão banal, estamos tão anestesiados que não nos damos conta. A miséria é algo tão invisível, olhamos se quisermos, se não, passamos ao largo e continuamos vivendo. Com fome vendemos a alma, com fome prostituí-mo-nos, com fome não pensamos, com fome não temos dignidade, com fome não se cresce em aspecto algum. Reinventamos a escravidão com selo de qualidade ISO 9001.
Não se trata de ser totalmente contra o capitalismo, tudo tem dois lados, no mínimo. Ser contra sem apresentar uma alternativa não é inteligente. Talvez o problema do capitalismo sejamos nós, que não conseguimos inventar algo mais justo e que ainda temos como exemplo de sucesso a ostentação e o consumo desenfreado. A produção do sistema capitalista é a de consumidores, cada vez mais ávidos, mais insatisfeitos, formando um ciclo vicioso que não acaba. Na verdade, se trata de mudança de atitude em relação à responsabilidade social e a de limitação de consumo.
Pequenas mudanças de atitude no nosso cotidiano podem fazer diferença a longo prazo: Percebemos que o produto que usamos está nos usurpando? Não compremos mais! Descobrimos que aquele serviço que contratamos mudou suas regras?! Cancelemos! Troquemos por outro! ou aprendamos a viver sem ele, se assim for possível. Notamos que um certo lugar que frequentamos nos trata como gado, só porque é VIP e porque é fashion dizer que lá estivemos?! Saiamos!...mas normalmente o que pensamos é "...Se eu não consumir outro vem e consome, não adianta, e eu fico sem o meu prazer". É! Mudemos nosso prazer, nada é estático. Não deixemos que outros digam do que precisamos ou como devemos agir....Façamos! Veremos que alguém nos seguirá (porque o incômodo é de todos) e outros seguirão os que nos seguem (porque o que falta é coragem) e a longo prazo alguma coisa muda.
O objetivo não é desistirmos de consumir o que precisamos, é consumir, somente e apenas, o que realmente precisamos, com consciência. Somos felizes com muito pouco, não precisamos de todas as quinquilharias que possuímos para sermos felizes. Essa necessidade é criada, inventada e engendrada em nós como um programa, para que sejamos engrenagens de um sistema injusto, mesquinho e cruel.
Sejamos felizes exercendo o poder de escolher o que , de fato, precisamos, tendo o prazer de "desobedecer" aos apelos da propaganda, que cria em nós uma necessidade que não temos. Exerçamos o poder de escolha consciente de consumo e assistamos o mundo mudar.
Tá na hora de dar um basta nesse vírus e tomar um antídoto - a conscientização - e uma vacina eficaz - o amor - e fazer a manutenção anual, examinar a realidade ao nosso redor e rever as nossas pequenas atitudes de consumo e ganância no nosso cotidiano, porque é de pouco em pouco que tudo se transforma em muito.
A doença tem cura, se usarmos a compaixão, a empatia, o altruísmo, a temperança regados com amor. Utopia?!!!! É! Mas para que serve a utopia, senão para sairmos do lugar de onde estamos e evoluirmos, melhorarmos? Se não fosse a utopia ainda estaríamos na idade da pedra. Sonhar, não custa nada....ainda. E utopia serve para caminhar.
Saiba mais:
Tudo o que você gostaria de saber sobre o capitalismo mas tinha vergonha de perguntar.(Confira!)
Por que o capitalismo precisa da pobreza? (Veja!)
A questão social como força motriz (aqui!)
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