domingo, 14 de dezembro de 2014

CERTEZAS

Partilhar
Quando a gente pensa que sabe. Quando a gente junta tudo o que viveu e define isso como de todos. Quando a gente emite um juízo de valor baseado na gente. Quando a gente pensa que todo mundo vê do mesmo jeito. Quando a gente impõe a fisiologia da experiência como sendo a mesma para todo mundo. Quando a gente segue uma linha de raciocínio e institucionaliza que só existe essa. Quando a gente, misericordiosamente, admite outras, mas a nossa é  melhor. Quando a gente impõe com verborragia  humilhação ao outro. Quando a gente usa de retórica com os enfeites "eu sei"  "é assim" "eu tenho certeza" "não tem outra maneira" "esse é o único caminho"....são todos enfeites dos grilhões das certezas.
"Eu sei"....mas os outros sabem outras coisas, que são tão válidas e pertinentes quanto o "seu saber" mesmo sendo diferente dele, sobre a mesma questão.
"É assim"...para você. Pois, aqui, em outros lugares, em outras culturas, para outras pessoas com outras experiências, o assim é outro.
"Eu tenho certeza"...(esse é o melhor!!!). O que é certeza para um ser que enxerga até uma certa distância, escuta a partir de alguns decibéis e até outro tanto, depois não mais e tem capacidade cognitiva fantástica, mas limitada? Possivelmente, um delírio esquizofrênico socialmente aceito.
"Não tem outra maneira"... (essa também é boa!). A cogitação de que do alto de nossas condições de atuação estão esgotadas  todas as maneiras de fazer...é no mínimo prepotente, se não quisermos entrar na seara psicanalítica.
"Esse é o único caminho"... (é outro bastante interessante!) Este  reveste o ser que assim pensa de uma superioridade absoluta, por ser conhecedor e proprietário do único caminho para se chegar a algum lugar, a alguma conclusão (quem tem certeza não considera, conclui).
Quando se é adepto das certezas, se desiste de aprender, se desiste de continuar avançando na maneira de ver, de compreender, de ser e de viver. Se assume que a vida acabou e ainda por cima, carrega-se outras pessoas para esse abismo sem fim, iniciando uma cadeia de fósseis em vida.
Certezas são uma modalidade "fofa" de fundamentalismos.
Não tenha certeza de nada. Procure ver o quanto em 1m² tem gente que tem considerações diferentes sobre uma mesma coisa e todas elas podem ser altamente pertinentes.
Não tenha certeza de nada. Se desvencilhe dos grilhões e assuma que não sabemos nada, não controlamos nada e se conseguirmos dar conta, com graça, dos imprevistos da vida, já estamos no lucro.
Quando você vir alguém que abra mão do talvez ponha o pé atrás, pode ser um hospedeiro do vírus das certezas. O primeiro sintoma é a expressão...EU SEI. Quando ouvir essa, corra!

Nenhum comentário:

Postar um comentário