domingo, 31 de julho de 2011

A DOR DO CRESCIMENTO

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      Crescer dói. Quem não lembra, quando criança, daquelas dores na canela no final do dia? daqueles machucados, que fazíamos brincando, em algum local do corpo e que, no ano seguinte,  as cicatrizes haviam andado? sim, saído do lugar, se mais pra baixo mais pra cima, não importa....andavam no corpo, não estavam mais no local de origem da luxação. Aquilo era a prova de que estávamos crescendo. Alguns pais e mães escolhiam um caixonete da porta para marcar o crescimento dos filhos e, ambos se orgulhavam quando a marquinha do ano anterior ficava pra trás.
      Mas chega o dia em que a festa acaba. Não tem mais dores nas pernas, as cicatrizes não andam mais e as marcas na porta são alvo de conversas das tias. Achamos que acabou, somos adultos, homens e mulheres. Ah! tá só começando....
      O crescimento, para o qual de fato viemos, dá seu ar da graça. A perda de um amor que se acreditava eterno; a descoberta de um aspecto soturno na personalidade de um amigo; um entrevero na carreira; a descoberta da própria mortalidade; a noção exata da necessidade de se mudar a forma de viver, de se ver, de ver os outros, de amar; o desapego àquilo que se acreditava porque não se acredita mais; a perda física das pessoas; a real sensação de fragilidade diante de um carinho; a desconstrução da muralha que se pensava ser; a cessão de poder aos filhos; o assumir o lugar na existência, na sua própria geração e, dar consciente e elegantemente, lugar à nova geração na esteira de passagem que é a vida.
      Somos apresentados a nós mesmos durante a vida inteira, a nossa vida inteira. Porque a VIDA é muito maior que nós e que a nossa vida. É o caldo vivo de força motriz que nos move, nos impulsiona, nos ensina, nos conduz, nos molda e nos lapida e que prossegue sua missão, sem sequer percebermos que crescemos mais depois que paramos de crescer do que enquanto crescíamos e, as dores foram infinitamente maiores porque foram na alma, por isso nos moldaram.
      Crescimento implica em dor; dor implica sofrimento; sofrimento faz-nos aprender, porque da matéria etérea de que somos constituídos esse é o ferro de ferreiro que faz a  espada mais nobre e afiada.
      Somos um processo ainda em processo.