domingo, 25 de maio de 2014

INTRIGAR-SE, ESPANTAR-SE E MARAVILHAR-SE

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Existe uma santíssima trindade que faz parte do processo de viver. E existe um viver que se mistura com o processo de aprender, e que  é de ação aumentativa. Aumenta a sabedoria, o amor pela vida, a capacidade de pensar. E pensar é voar sobre o que não se sabe, é perscrutar o vazio e o desconhecido do não-saber a ser explorado pelas asas da curiosidade. E, talvez, esse seja o sentido dessa coisa sem sentido que é a vida.
Dizia Antônio Machado, "o caminho se faz caminhando". E, possivelmente, o mais importante não seja chegar, mas sim o que se aprende enquanto se caminha. O aprender é aprender o mundo. E o mundo é divertido, é um caldo de novidades sempre. E quem aprende ensina a aprender. O aprender e o ensinar deviam se juntar eternamente e formar um verbo só aprenderensinaraprender.
E o processo do aprender implica em intrigar-se. E isso deixa livre a curiosidade. Se intrigar com alguma coisa é confessar, sem precisar abrir a boca, que não se sabe daquilo que nos intriga. É permitir-se, é chafurdar no mundo, na vida, nos seus enlaçamentos, seus nós, suas ramificações, imbricações e interseções que são infinitas e que, jamais, em uma vida esgotaríamos essa diversidade e multiplicidade de possibilidades. Então, o intrigar-se, o franzir a testa, o ir pé-ante-pé em direção àquilo que salta aos olhos, é para sempre.
O espantar-se é descobrir que alguma coisa já sabíamos, sem saber que sabíamos, e/ou descobrir que, o que nunca havíamos pensado existir, está diante de nós. E que por causa disso, nos tornamos maiores, crescemos um pouco na escala do desenvolvimento de nós mesmos. Ser de espanto é ser aberto a proporcionar a nós mesmos a oportunidade daquela sensação de criança estupefata diante das coisas para o resto da vida. Ser de espanto é ser aliado da vida.
E o maravilhar-se?!.....Ah! O maravilhar-se é descobrir para que serve. Como podemos usar o que nos intrigou e nos espantou e começar a entender o mundo, torna-lo menor, mais compreensível, pelo discernimento do aprendido. Isso, provavelmente, se traduza como o uso da inteligência, o uso das potencialidades que são nossas intrinsecamente. A inteligência é intrínseca a nós como o voo o é para o pássaro, não precisa ser ensinado, apenas encorajado. O uso da inteligência, do pensar, do fazer conexões, do aprender a fazer perguntas, do uso da imaginação, da ação da tentativa, passa pela capacidade de intrigar-se, espantar-se e maravilhar-se.
Acordar pela manhã é uma infinita possibilidade dessa santíssima trindade atribuir sentidos vários às nossas vidas. Talvez, o nosso problema seja querer um sentido apenas, e mais do que isso, que ele seja o mesmo para todo mundo, e que existam respostas certas e certezas. Aí não dá! É deixar de ser águia para ser tartaruga.
 
"Como é diferente o corpo movido pelos sonhos, do corpo movido pelas certezas"
(Rubens Alves)


domingo, 11 de maio de 2014

SEGUIDORES DO TALVEZ

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Talvez é uma palavrinha mágica que abre caminho para tudo e não responsabiliza ninguém.
talvez  é uma janelinha aberta para "n" possibilidades que podem ser cogitadas sem serem contadas.
O Talvez nos oferece outros e variados caminhos, e nos dá de presente o maior dos patrimônios da sabedoria ....A dúvida. Essa é uma outra janela espetacular para o crescimento e expansão.
Na minha imaginação, o talvez e a dúvida são janelas porque são furtivos e fugidios. São escapes marginais, tangenciais e oficiosos. Diferentes das portas que simbolizam as certezas e o oficial.
Gosto do talvez, ele é sempre sinalizador de saídas inteligentes, espetaculares ou pequenas escotilhas para considerações que não podem nem devem ser ignoradas.
O talvez fomenta vida, movimento e nos livra do engessamento e da fossilização das ideias. O Talvez é um remédio divino que lubrifica as articulações do modo de ver, e nos possibilita uma perspectiva de trezentos e sessenta graus. O Talvez nos joga num espaço infinito de "tudo". Não existe limite de cogitações quando o santo talvez está presente.
Sou seguidora do Talvez, do provavelmente, do possivelmente...são meus ídolos e protetores. Me dão possibilidades de aventar os caminhos que eu quiser ou por onde meus pensamentos e fabulações puderem alcançar. Me eximem de compromissos, de confrontos e me livram do é/são e me põem de cara com o está/estão. Viabilizam mudanças, deixam uma brecha para o desejo, para o extraordinário, para a metafísica, para a criatividade e para a evolução, seja lá do que for.
Se vou mudar?... talvez.
Se estou certa? ...provavelmente.
Se estou errada?...possivelmente.
E não é isso aí.....está isso aí!

sábado, 3 de maio de 2014

PENSAMENTO: UM RASTRO DE EXISTÊNCIA

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Há duas semanas cumpriu sua missão e voltou para casa Gabriel Garcia Marquez. Um colombiano que viveu oitenta e sete anos entre nós. Um devoto da palavra. Um dos tantos e, nem por isso menor, escritores latinos que nos agraciou, quiçá, nos honrou com suas ideias, devaneios e histórias de mundos imaginados. Umas com o pé na realidade e outras com eles completamente suspensos, mas que encontrava dentro de nós um lugar comum, uma identificação de sonho, de desejo e de imaginário de nós mesmos.
Editor, jornalista, escritor, poeta, contista, prêmio Nobel de literatura (1982), cineasta por um tempo (não necessariamente nesta ordem), mas acima de tudo gente, muito gente, orgulhosamente gente como todos os mortais do planeta. Sua paixão era o cotidiano do povo, o povo, os movimentos do povo, através da política e do seu grande laço com a vida, a escrita.
Instigou-nos com seu veneno abençoado, nos levou às árias do fantástico/poético/político. Gabriel fez literatura como poucos. Em Cem Anos de Solidão nos brindou com a cidade imaginária de Macondo, um nome tirado de uma plantação de bananas avistada em uma viagem com a avó, na infância, e a saga dos Buendía com uma jornada que misturava o extraordinário com o ordinário e transformava discrepâncias em lugar comum. Em Amor nos Tempos de Cólera conta, nada mais nada menos, que a história de amor dos próprios pais e nos apresenta uma forma espetacular de reinventar a vida cotidiana, uma perspectiva diferente de ver. Em Memórias de Minhas Putas Tristes ousa falar do amor aos noventa anos, só para citar algumas das vidas extraordinárias que habitavam a mente e alma de Gabriel.
Mas seu grande feito foi tê-las dividido conosco, se libertar desses mundos imaginados/inventados/criados a partir do vivido e apostar que alguém leria, que em alguém teria ressonância. Pertencia ao grupo seleto dos que driblam a barreira da ignorância, dos que socializam o saber, dos que fomentam no outro o desenvolvimento de suas potencialidades, dos que provocam a reflexão e que tocam na alma alheia à distância.
Quando se foi todos sentimos, todos lamentamos, mas pensando bem ( e gosto de crer assim, me conforta) Gabo foi ao encontro da total liberdade, despojado da vestimenta que é mais esponja de interferências do que veículo de exercício de potencialidades....se foi Gabriel...pra Macondo... depois de ter nos embebedado com seu mais puro néctar da existência: o pensamento.
Morrer?!! Quem se desdobra, se expõe, ousa e deixa seu rastro, não morre. EL GABO está mais vivo que nunca e pode ser revisitado através de sua extensa e magnífica obra que se impõe como um registro de existência e de missão muito bem cumprida e que continuará inoculando esse vírus altamente contagioso nas futuras gerações.
Para qualquer ser humano que tem como prazer da existência e do viver o pensar, Gabriel se libertou de uma roupa que não servia mais. Mais do que dizer vá em paz urge dizer MUITO OBRIGADA!


 Saiba mais sobre o processo de escrita de Gabriel Garcia Marquez. (Aqui!)

Principais obras:
A revoada(1955); Ninguém escreve ao coronel(1961);  A má hora: o veneno da nadrugada (1962): Os funerais da mamãe grande (1962); Cem  anos de solidão (1967); Um senhor muito velho com umas asa enormes (1968); Relato de um náufrago (1970); A incrível e triste história de Cândida Erendira e sua avó desalmada (1972);  Olhos de cão azul (1972); O outono do patriarca ( 1975); Crônica de uma morte anunciada (1981); O verão feliz da senhora Forbes (1981); O amor nos tempos do cólera (1985); O general e seu labirinto (1989); Doze contos peregrinos (1992); Do amor e outros demônios (1994); Como contar um conto (1995); notícias de um sequestro (1996); Memória de minhas putas tristes (2004).