domingo, 6 de setembro de 2015

MACHISMO

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"Ninguém jamais vencerá a guerra dos sexos: há muita confraternização entre os inimigos"
(Henry Kissinger)

O machismo sempre existiu. Mas, ultimamente está em voga. Tudo é machismo, se um home ri de uma mulher que escorregou na calçada...é machismo. Não deu lugar a uma mulher no transporte público ...é machismo.  Roubou o momento de sucesso de uma colega de trabalho...é machismo. Estamos esquecendo que falta de educação existe, que mal-caratismo existe, que inveja existe e tantas outras mediocridades e mesquinhez da índole humana, e colocamos tudo o que vem de um homem em relação a uma mulher na conta do machismo.
Obviamente sempre haverá uma pitada de, mas isso não significa que o seja em essência. O machismo não é uma norma social instituída como o casamento e a monogamia. Ou uma classificação discriminada como adultério para fins de identificação e encaixe numa norma social. O machismo, entendido como o exercício de superioridade do homem em relação à mulher, é dado como natural. (Deus quis e assim instituiu através das diferenças naturais e não se questiona). Isso é engendrado em nossas vidas através da cultura, dos costumes, e principalmente, das religiões e inoculado em nossas medulas desde que nossos pais descobriram a que gênero pertencemos. E ali começam as diferenças sutis, carinhosas, imbuídas de proteção e aconchego: "proteja sua irmã, ela é menina"... "Isso não é para menina"...tire seu irmão daí...isso é coisa de mulher". As profissões de poder são para os meninos, as subalternas são para as meninas. E assim vão se acirrando as diferenças à medida que crescemos. Essas diferenças, além de serem anatômicas e fisiológicas, passam a ser morais, sociais e que se dispõem em superioridade e inferioridade, ao invés de serem simples diferenças que nos completam. E nossos pais, por mais que tentem, é impossível resolver essa questão no âmago de sua existência em, apenas, uma geração.
A celeuma da superioridade masculina é ontológica, vem de longa data e passeia pelos meandros históricos e religiosos como algo institucionalizado. Muita coisa mudou? Sim. Em 100 anos passamos de "Senhor, meu marido" para "Tá, fulano"; passamos de pessoas que não tinham inteligência para votar, em eleitoras; de 'entes' que não precisavam ler, porque a função era parir, em escritoras profícuas.Num interstício de 100 anos as gerações mais duras morreram e deram lugar a outras que mudaram seu comportamento a partir da memória de incômodo e desconforto do que era viver daquela forma, e ensinaram aos seus filhos, às gerações futuras, que farão o mesmo num ciclo de evolução lenta, que tem funcionado. Os avanços foram empreendidos através de  experiências dentro das realidades cotidianas, sem histerismos. E ainda acontecem e continuarão a acontecer, pois a vida é devir. A igualdade de direitos é necessária, e hoje, real, em pleno aperfeiçoamento. Mas, independente desses avanços todos, homens também têm inveja de mulheres de sucesso, e isso não é machismo, é mediocridade humana. Acomete a todos os que vão ao banheiro.
Quando nos ocorrer o afã de chamarmos  as situações mais gritantes do cotidiano de machismo, olhemos para o lado e vejamos e percebamos as silenciosas: o colega de trabalho que te trata bem, que te abraça e tira de você uma oportunidade de crescimento para a qual você tem cabedal (formação/títulos) e dá para um outro colega porque o salário é alto e mulher não precisa disso, tá de bom tamanho as migalhas que caem da mesa....isso  é machismo, e você continua sendo muito bem tratada pelo seu amigo. Salvo os casos de violência, em que o exercício de 'superioridade' é patológico, o machismo vem com carinho, subestimação de inteligência e usando o que temos de mais precioso, o afeto, e a condição de acreditar no ser humano e na sua, possível, nobreza e essência de bondade. O machismo é exercido dentro de casa, no trabalho, no meio de nossos amigos, hediondamente com um sorriso. Mas a isso não chamamos de machismo.
Vencemos o machismo estudando, trabalhando, pagando nossas contas, sendo felizes, sem precisarmos de histrionismos, sem precisar gritar. Afinal, o que é, é, não precisa de publicização. Houve épocas em nossa História - e falo de Brasil - em que uma mulher não tinha direto a herança de seus pais se não fosse casada. Hoje construímos nosso próprio patrimônio no nosso nome. Quando a gente não faz o caminho de volta, não percebe quanta coisa já foi  mudada,  continua mudando e vai mudar. Agora, gritar que TUDO é machismo, não dá. Isso só contribui para quebrar a coerência de um movimento que vem se fazendo forte e profícuo.
Se pensarmos bem, a histeria é tudo o que o machismo precisa para nos chamar de incoerentes. Não nos esqueçamos que quem gera os homens, decide se vão ou não nascer - tendo ou não legalização do aborto - e os educamos, somos NÓS. E isso é PODER. Mas chamarmos essa linha de raciocínio para o rinque a gente não quer, não é não? A corda puxa para o nosso lado, e  a responsabilidade pesa nos ombros e mudamos de assunto. É mais fácil nos fazermos de vítimas com a velha pecha do machismo para tudo.
Que machismo existe, existe. Mas ele se manifesta muito mais sutilmente do que a gente está querendo ver. Afinal, subestimarmos os machistas, de que seriam indiscretos e pouco inteligentes não é coisa que se faça. É interessante não confundir machismo com péssimo caráter, num contexto em que o indivíduo agiria da mesma forma em qualquer outra circunstância e com qualquer outra pessoa, inclusive de seu gênero; nem com inveja e outros adjetivos comezinhos que acometem a todos os que não são espíritos evoluídos como os serafins e os querubins.
Não somos vítimas coisa nenhuma. Somos senhoras de nossas histórias, só que isso tem preço, resta saber se a gente quer pagar. Até porque, poder a gente pode.
Em suma, a menos que o histrionismo e a vitimização seja parte de uma tática de distração para que olhem para o outro lado enquanto tomamos o poder, é interessante usar o bom senso. Senão até o que conquistamos se perde, e aí se está falando do respeito pela coerência.