domingo, 25 de setembro de 2011

O FOCO AMBULANTE DO PRAZER

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Quando nascemos o nosso radar de prazer é a boca. Com a boca amamentamo-nos. É a nossa fonte de vida. Sentido do paladar. Porta de entrada do gosto e da saciedade da fome. Tudo o que é encontrado pela casa leva-se à boca. É o lugar de observação da vida.
Mais adiante, as mãos. Quem já não ouviu estas frases?
- Menino! se vê com os olhos e  não com as mãos.
- Óóóó! Não ponha as mãos, é só pra ver.
Pois é, o tato, o registro das espessuras, das texturas, da temperatura, é a forma de captação de mundo. E o cérebro registra isso como prazer. Já temos mais aspectos acumulados de sensação, que só o sabor.
Em seguida desenvolvemos o ouvir, aprendemos a ouvir. É a fase do aprendizado da escrita, da descoberta de novos mundos. A fase das músicas altas, nasce a vontade de ser baterista de uma banda. As meninas acuram este radar, os meninos apenas o usam.
O tempo passa e chega-se à puberdade e os olhos são os novos radares. Buraco de fechadura são os óculos preferidos. Ver com os olhos passa a ser muito importante. A sensação que acomete o indivíduo é a de embabacamento. Os meninos acuram este radar. As meninas fecham os olhos, sentir é mais importante.
Estamos a um passo de usarmos todos esses radares ao mesmo tempo, em função do prazer, quando o radar-mor criar vida doada pelos hormônios. O sexo.
E a partir daí, no ápice da maturidade sensorial, desenvolvidas suas potencialidades, nos achamos prontos e somos imortais. Como é bom ser humano, ter corpo, vida e saber o que é amar. Achamos que eternamente será essa a forma de obtenção prazer. Ledo engano.
À medida que o tempo passa, descobrimos o prazer associado à gentileza, ao bom trato, ao olhar apaixonado, à vontade de ficar junto, ao sentir o calor do outro, a saber que um outro corpo é também quase seu e amadurecemos os radares do prazer.
Descobrimos o prazer na boa palavra, no toque, no ficar quietinho em concha e na paz acompanhada. E o próprio corpo vai apagando a intempestuosidade da paixão e dos radares corpóreos e expandindo o SIVAM da alma.
O prazer passa a ser também etéreo, o que se sente, o que não se vê, a energia, o silêncio, a presença, o saber-se estar dentro da alma de alguém, o saber-se ter alguém consigo o tempo todo. A isso chamamos fases da vida. A ambulação do prazer, a sua ascenção aos céus, ao sublime, ao divino, ao eterno. A junção de tudo isso chama-se desprendimento, evolução. E não adianta pirracear. A vida é como é.
A resignação é a grande lição a ser aprendida. Não se luta contra a natureza e a natureza não é injusta, ela é sábia. Acumulamos pontos no cartão fidelidade e vamos adquirindo vantagens, milhas e mais milhas de experiência que nos levam a aproveitar muito melhor todos os radares e seus potenciais. Alguns dirão: " Mas a memória é uma pedra no sapato". A memória é para nos lembrar que nós vivemos e que no vídeo-game que nós jogamos, estamos no nível avançado.
Logo, não nos lamentemos e usemos o radar que temos, porque no momento, essa é a parte que nos cabe neste latifúndio. Sejamos Felizes!






domingo, 18 de setembro de 2011

ALMINHA BOA

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Nasci no Pará, sou paraense inconsciente. Sou amigo, meio tinhoso, mas confiável e confidente.Tenho cachinhos na testa, ouço que é uma maravilha.Tenho expressões pra tudo, meus olhos são acurados, vejo tudo, percebo tudo, sei quando estão tristes, alegres, pesarosos, estressados; vejo até coisas do outro mundo. Dizem que sou especial, nunca entendi isso, mas deixa pra lá. 
O que na verdade me interessa é falar de mim. Sou alegre e uso um filtro de seleção espetacular para escolher meus amigos: a energia, a aura, a sinceridade, tenho radares bons pra isso. Sou inteligente do meu jeito, tenho rotina e sigo-a melhor que muita gente.
Sou viajado, já cruzei o país inteiro, conheço do Oiapoque ao Chuí, saí do Mercado Modelo para os Pampas
Já posso escrever minhas memórias, a minha saga pela vida afora. Não contem a ninguém, mas sei falar, ler e escrever. Só não confesso isso pra não perder o posto de queridinho da família e passar de xodó a arrimo, seria triste. A indolência é meu defeito.
Ando, corro, como e durmo o dia inteiro. Guardo a casa. Hã..hã...pelo menos faço barulho, os outros acordam, tomam as providências e fica tudo bem, salvei todo mundo. Defendo as damas na pracinha, pra nenhum indivíduo de energia mais ou menos se aproximar. Me imponho mesmo.
Mas o principal, nesta minha jornada aventureira é que sou cuidado e me amam, zelam por mim e eu retribuo da melhor maneira possível.
Sou uma alminha em evolução, que sente, que sofre, que se alegra, que se comunica, que entende as coisas de um jeito muito próprio.
Sou um instrumento de carne e osso que serve pra ensinar as pessoas a amar  e desenvolver lealdade e confiança. Não estou aqui à tôa. Ninguém está.
Sou amigo, sou fiel, sou leal, sou Spike, o cocker da família Sanhudo Rocha. Vivo Feliz e dôo felicidade. Estou no lugar certo.





Esta é uma homenagem a Spike, um Cocker Spaniel de 8 anos, a alminha boa, com a qual a  família tem o prazer de conviver e que, a cada dia aprende coisas novas e ensina outras tantas.

domingo, 11 de setembro de 2011

A ÁGUA DA NOSSA ALMA

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O que nos move a praticar um gesto? uma atitude? do que é capaz uma ação?...não qualquer ação, refiro-me a uma ação leve, lenta, acompanhada do olhar, com todos os radares voltados para ela - o corpo, os olhos, o cérebro, a alma. A-ten-ção. Tempo dedicado a alguma coisa ou a alguém. Tempo parado.
Que diz este devotamento circunstancial e de curta duração? sei que você existe, gosto disso e prezo estar aqui. Sua presença me alegra, me traz boas sensações e quero isso. Que poder tem essa declaração dita com o olhar, com o toque, com o silêncio. Deram o nome desta "coisa" de carinho, é volátil, etéreo, preenche qualquer espaço, é incolor, inodoro e insípido. É a água da nossa alma.
Substimamos o valor do carinho. Tentamos conceituá-lo, defini-lo e classificá-lo. Como somos inteligentes, racionais e dispomos de uma gama de ciências que nós inventamos e metodologizamos para embasar nossos argumentos, conseguimos.
O carinho é universal atinge  todos os mundos em seus efeitos e em ser sentido na sua falta. No mundo dos animais irracionais é percebido, recebido e correspondido, só não é conscientizado. Animais sabem o que é carinho, gostam de carinho e sentem falta dele. No mundo vegetal, quanto mais carinho, mais viçosos ficam.
Mas carinho tem caras diferentes. Para as plantas, o conversar, o aguar, o adubar e estar presente. Para os animais, e aí nos incluímos, pode apresentar-se como um olhar, uma palavra, um toque, um aperto de mão, um afago, um voltar-se para conversar, o servir um café, um cozinhar com amor, um tempo do dia dedicado àquele.
Carinho tem esse nome porque, talvez chamar de raio de luz que invade a alma e quebranta ficasse muito extenso e alguém decidiu simplificar e chamar de CARINHO. O carinho é domador, conquistador, é manipulador, é subversor de naturezas e instintos. Confira!



O Instinto animal sempre estará lá...sempre, e grita, ruge para se manifestar. Mas o que se recebe é tão bom, tão reconfortante, tão evolutivo, tão prazeiroso, tão nirvana, tão desvirtuador, que a luta diária para suplantar os instintos vale a pena.
Carinho é moeda, carinho é território de influências, carinho é uma arma, carinho tem poder e  custa nada. Usemo-lo. Demos  de beber a nossa alma e a dos outros. Socializemos a água.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

NADA DEMAIS

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Sem pretensões propedêuticas mas, relembrando as aulinhas da tia Tetéia....o capitalismo surgiu com o desgaste do feudalismo e com o comércio nos burgos, que a princípio era escambo, e o surgimento de um índice mensurador do valor das mercadorias. A arte do bom sucedimento neste novo modo de produção era o acúmulo desse índice. Produção em massa, empregados remunerados - o que significava mercado consumidor, troca de mercadorias por dinheiro, criação de corporações para um determinado fabrico - as fábricas, as empresas, os bancos. O mundo se arrumou muito bem.
Surgiram os estigmas " bem sucedido" e "mal sucedido". Estas pechas são rótulos atribuídos à vida pessoal, referenciadas ao modo de produção.
Alianças com interesses políticos e econômicos sempre houveram, junções de empresas, de reinos, de famílias. Mas eram alianças, não vendas espúrias e baratas de pessoas, eram acordos de clãs, de grupos que se protegiam e até na mesquinhez eram corporativistas.
Vejamos onde o mesmo modo de produção econômica tem adentrado nossas casas, nossas vidas, nossas famílias e a construção humana hoje. Assista!


Hoje o capitalismo é comprar. Se o indivíduo não consumir ou consumir a partir de uma necessidade e em silêncio, ele não é um indivíduo. A educação dos pequenos, hoje, é baseada no consumo. Não se sabe mais o que é estar com o coleguinha somente por estar, visitá-lo para brincar apenas. O objetivo é saber que brinquedo ele tem, qual a marca do celular, se a mochila é da marca X, se os cadernos são do desenho W e se os tênis são do super herói Z. Confira!


Mas isso é nada demais! Sim. Se esse indivíduo não se tornasse um adulto. Um adulto que escolherá  o namorado/namorada pela roupa que usa, que medirá sua auto-confiança e seu poder de relacionar-se pelo que pode proporcionar a alguém em valores monetários, que selecionará o outro pelo marca do carro, pela marca do relógio ou pelo presente que ganhar. Conheça o sonho de vida dos nossos jovens e adolescentes e que belíssimo exemplo!
Mas isso é nada demais! O mundo está todo assim! Vou criar meu filho para ser um extra-terrestre? Não. Vai criá-lo para ser o que a natureza determinou que fosse, um ser humano, dotado de alma e espírito, em suma, sentimentos e cuja missão é evolução e que dispõe de instrumentos chamados valores para o exercício dessa evolução e cujo palco de atuação é a vida.
Ensinamos aos filhos a verem o pai como Banco Central. Ensinamos aos filhos que basta querer, pois a culpa dos pais por não estarem juntos tanto quanto deviam/queriam, paga a conta. Ensinamos aos filhos a verem as outras pessoas como cifrões. E os tentáculos do capitalismo adentram a nossa vida emocional, vira referencial de escolha de amigos, de seleção de namorado, de aceitação de vizinhos, de afeto.
Deixar uma criança se transformar em alguém assim é construir um adulto infeliz, mesmo que acompanhado. Se for um cidadão com poder aquisitivo, será alguém que se acha no direito de comprar os outros ou que se protege em demasia por não acreditar em ninguém, e com razão. Se for um cidadão sem poder aquisitivo, será, quase sempre, alguém que se prestará a qualquer papel para obter o que quer, se vilipendiará por míseros bens materiais duráveis ou não.
E quando vemos pessoas procurando felicidade nas drogas, na contravenção, em exercícios de atividades ilegais e  afins, não sabemos porque. Nós fabricamos isso.
 As drogas hoje tem sido o anestésico para muitas pessoas que, quando estão sozinhas consigo mesmas, não aguentam saber que aqueles que os cercam não estão ali por eles, mas pelos que eles podem proporcionar. Temos exemplos de artistas famosos mortos por overdose, recentemente, Amy winehouse. Esse vazio que mora dentro de nós é o grito da alma dizendo existir e precisar de alimento. Quanto custa em dinheiro resolver isso? Nada e ao mesmo tempo não tem preço.
Tá na hora de colocar um limite a esses tentáculos na nossa vida pessoal, tá na hora dos valores emergirem como referenciais silenciosos e tomarem o seu lugar e isso se dá através da educação familiar. Comprar, verbo maldito!
Felicidade não se compra, lealdade não se compra, paz não se compra, aconchego não se compra, química com alguém não se compra, amigos não se compram, saúde não se compra, respeito não se compra, auto-estima não se compra.
Mas, felicidade, lealdade, paz, amor, aconchego, carinho, companheirismo, parceria, cumplicidade, amizade, fraternidade, saúde, originalidade, autenticidade, bom senso, bom caráter, isenção, imparcialidade, auto-estima e assertividade é NADA DEMAIS. Não é?!