domingo, 19 de julho de 2015

O TREM DA VIDA

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Como não aproveitar a vida? Como não se sentir parte integrante de tudo o que nos cerca, principalmente da natureza? Dessa seiva que nos re-energiza, desse caldo mexido de verdes, de sol, de chuva, de vento, de sons de sensações? O mato, a rocha dura, a terra masserada, a montanha, crianças que acenam com tchau para desconhecidos, as flores vívidas no meio do mato seco.
Como não ver isso? Não sentir isso? Há que se fazer muita força, há que se desviar muito o olhar, há que se esconder demais, que se tapear muito a si mesmo. Há que se ter muito trabalho para sentir nada.
Viver dá menos trabalho do que não viver. Para não viver há que elaborar elucubrações intrincadas e difíceis para se convencer de que o que se sente não é o que se sente. De que o que se vê não  é o que se vê. Para não viver há que se ser um inventor muito bom. Inventar um porquê estar aqui, depois criar uma tabela de certezas e convencer muitas pessoas, fazer um clube de não-viventes.
Viver, não. Viver é para qualquer um, para os que têm um corpo e não tem medo das sensações que ele alardeia. É captar sinais, arrumar percepções na alma, enfileirar as sensações e embolá-las todas de novo, deixar-se sentir. Viver é para os que sentem e usam os sensores que têm, os que deixam a vida entrar pelos olhos, pela pele, pela alma e pelos ouvidos e aproveitam cada momento, cada brecha de um momento. Viver é estar ligado, sempre presente e perceptivo. Viver é para qualquer um. E é um dos fóruns em que é maravilhoso ser qualquer um. Estar aqui é mais do que estar aqui, é prestar atenção ao aqui.
Se somos imperfeitos, o lugar que estamos é perfeito para refletirmos sobre o conceito de perfeição, ou, pelo menos,  o que a gente consegue alcançar dele. Perfeito para a gente se conhecer e  evoluir, com paisagens que nos inspiram e situações que nos incentivam, perfeito para nos lapidar.
A vida é curta, mas é lenta. Passa devagar, uma hora por vez, é a gente que vive por atacado. O varejo da vida é muito melhor. De pouquinho em pouquinho, de pastilha em pastilha. Deixemos os blocos grandes para os deuses, que são eternos. A vida é um trilho numa montanha, tem partida e chegada, com subidas e descidas, no meio das pedras, do mato, com floresta densa e clareiras, muitos rios, alguns caudalosos outros mais mansos, mas sempre com muitos afluentes, com túneis escuros e grandes momentos de luz....mas sempre com uma vista espetacular, basta ligar os sensores e querer  usa-los.
Vista de trem entre as  cidades de Mariana e Ouro Preto - MG- Brasil - lugar das paisagens que inspiraram este texto.
 
 
 

domingo, 5 de julho de 2015

NOSTALGIA

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Dizem da nostalgia que é saudade do que passou. Que quem tem nostalgia vive no passado. Pode ser. Mas, como somos seres de invenção, nostalgia pode ser uma  forma de voltar no tempo e com a experiência de hoje e o olhar mais apurado, enxergarmos aquilo que não vimos na época.
Seres inteligentes usam suas potencialidades, e até a falha delas, a seu favor. No sentido da otimização da aprendizagem de vida, de acréscimo de experiência e de acúmulo da saber útil.
A nostalgia, às vezes, nos faz voltar a momentos da vida em que fomos melhores, mais úteis, funcionávamos de outra forma, acreditávamos em outras coisas, que hoje podem nos ajudar a compreender outras de uma maneira melhor. Ou, a uma época em que éramos tão incipientes e parcos, que  dá orgulho de atestar o quanto crescemos e melhoramos em tão pouco tempo.
Nostalgia é oportunidade de vasculharmos o baú de memórias e descobrirmos lá, coisas que não vimos antes e encontrarmos outras utilidades para elas que sequer cogitamos algum dia. Viva a Nostagia!