domingo, 30 de setembro de 2012

JORNADA

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Jornada é um caminho, uma história. Uma jornada é feita de sonhos, planos, decisões, alegrias, tristezas, aprendizados....movimento. Uma jornada não é jornada se nada acontece, se ficamos parados. Jornada implica em agir, prestar atenção, ter presença de espírito.
Não importa se foi como planejada, o quanto deu certo ou  não deu, se o final foi triste ou glamouroso, o que importa na jornada é paisagem e o que aprendemos; quantos sóis vemos, sim porque ele é outro a cada dia; quantos mares e suas diferentes cores; quantos solos e suas diferenças; as diferentes umidades do ar; os frescores das brisas; as diferentes temperaturas, tipos de chuvas, vegetações e tempestades. Como reagimos a tudo isso e o quanto de tudo isso fica em nós.
Jornada é um presente que só nossos olhos, nossa pele e sentidos podem perceber. Jornada é a confiança da responsabilidade em nossas mãos. Não importa se ela será longa ou curta, o que importa é que seja o que precisamos, que tenha o que necessitamos para melhorar, crescer e virar outro nós.
Abrir mão da jornada é covardia, é devolver o presente, é não merecer a confiança. Abre-se mão da jornada   anestesiando-se ou entregando a outros as responsabilidades e cuidados que seriam nossos.
Jornada... a cruz agradável de carregar, pois é o que  precisamos e  o que pedimos.

domingo, 23 de setembro de 2012

CORPO

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A você que me possibilita sentir.
A você que me faz existir numa forma que se integra, se relaciona.
A você que me possibilita saber o que é a emoção do riso, do choro, do gozo.
A você que me leva onde quero.
A você que me possibilita calçar um sapato, vestir uma roupa, pertencer a um meio. 
A você que é meu companheiro, fiel, leal, meu outro eu.
A você que me possibilita respirar e sentir a leveza de ser cheio de vida, que me permite sentir a suavidade da tez de uma flor, o calor de uma outra pele, enxergar o brilho do olho do outro e que através dos hormônios dão a essas experiências outro tom, outro viés, outro sentir.
A você que é o presente, a condição de existir nesse mundo, meu muito obrigada!
Obrigada por perdoar os maus tratos de uma fase sem conhecimento.
Obrigada pelas recuperações estupendas, pelas respostas rápidas, pela disposição, pela alegria, por me ensinar o que é dor primitiva e o que é prazer primitivo.
Obrigada por me ensinar a olhar, a perceber, a me cuidar, a me dar limites.
Obrigada por me ensinar a respeitar as leis da física.
Obrigada por me ensinar a diferenciar os amores físicos dos amores espirituais.
Obrigada por promover essa festa que é VIVER.


domingo, 16 de setembro de 2012

SEGREDOS

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Segredos são nossa verdadeira face escondida. Escondida dos outros e de nós  mesmos. Pelos segredos damos a vida, pelos segredos calamos. Que força tem a palavra que calada nos poupa, nos protege. Que força tem os segredos, que diz quem somos.
Segredos...bons ou ruins são a marca d'agua da nossa alma, do que somos capazes de fazer, de sofrer, do que somos capazes de não mostrar; seja pelo medo, seja por vergonha ou por empobrecer um ato tal que, em segredo, viva eternamente com a mesma força do momento em que aconteceu.
A nobreza da lingua que cala.
Bem-aventurado o que controla seus ímpetos de fala;
Bem-aventurado o que descobre e continua a corrente; 
Bem-aventurado aquele que sabe recolher um segredo;
Bem-aventurado o que não se curva pela língua;
Bem-aventurado os que possuem segredos, mantém os seus e os dos outros;
Bem-aventurado esse 'nipe' de espiritos encarnados que têm um brilho diferente e vêem a vida de uma outra forma, que têm o referencial em si mesmo e respeita o perímetro da vida alheia.
Quão admirável são os olhos que contemplam, os lábios que calam, a alma que aprende e o gesto que agradece.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O BATMAN DE NOLAN

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Trilogia Batman. Aventura, drama, fantasia e ação Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman, Morgan Freeman;Produtores: Emma Thomas, Charles Roven, Larry J. Franco; Trilha Sonora: Hans Zimmer, James Newton Howard; Diretor: Christopher Nolan; ; 2005/2008/2012.

Baixada a poeira do alvoroço que foi o lançamento de Batman The Dark Knight Rises, está na hora de fazer uma leitura do que foi, na opinião da crítica cinematográfica mundial, o melhor Batman de todos os tempos.
Surgido nos quadrinhos (HQs) em 1939, criado por Bob Kane e Bill Finger, no início da segunda guerra mundial, remetendo a uma esperança que nascia da noite vivida pela   guerra, Batman conquistou público e virou seriado de curta-metragem para o cinema em 1943, em pleno recrudescimento do evento.
Ao longo de 70 anos de existência esse super-herói soturno povoa o imaginário social evoluindo de acordo com as novas tecnologias cinematográficas, novos modelos de estética e contexto político.
A trilogia de Nolan divide-se em temáticas cujo contexto real é o terrorismo,  vivido escancaradamente desde os atentados de onze de setembro de 2001. Batman Begins tem como temas o medo, a justiça e a vingança. A abordagem é a própria vida pessoal de Bruce Wayne ( Christian Bale), atormentado pela morte de seus pais na infância e à procura de uma forma de fazer justiça e lidar com o proprio medo. O contexto de Batman Begins é a corrupção interna da justiça e o submundo do tráfico de drogas.
Em Batman The Dark Knight a instituição Batman está pronta, acabada, tornou-se um símbolo e a discussão ideológica clara sobre justiça e terror se personifica  através de Coringa/Joker interpretado brilhantemente por Heath Ledger. A temática é o terrorismo, a mensagem é acreditar, acreditar sempre.
Em Batman The Dark Knight Rises a personagem principal sofre uma cisão e temos duas histórias andando de mãos dadas, a pessoal, de Bruce Wayne e a institucional, de Batman. O contexto é a guerra civil, a luta de classes, o discurso socialista, a luta armada e a reflexão sobre o poder nas mãos das minorias e a temática é a liberdade.

A jornada filmográfica do Batman de Nolan começa com uma queda. Bruce criança (Gus Lewis) caindo num poço escuro, numa alusão ao seu interior sombrio. Seus passos, ao longo da vida, são sempre em busca de algo que possa trazê-lo de volta ao mundo real, e sai mundo afora procurando desafios e respostas.....Enquanto isso do outro lado da cidade....A justiça é feita por corruptos burocratas e o promotor público da cidade, Dr. Jonathan Crane (Cillian Murphy) é o vilão, o maior traficante de drogas da cidade e orientado pelo líder da liga das sombras Ducart (Liam Neeson).
O herói, Batman, é humano, não tem super-poderes, não é sobrenatural. O grande mantenedor do herói é o capital e a tecnologia financiada pelo conglomerado Wayne através de um setor chamado ciências aplicadas, financiado pelo caixa-dois da empresa, pois não aparece nos livros-caixa oficiais, (Batman The Dark Knight). O super-herói ao invés de super-poderes tem super tecnologia, super financiamento. Em um dos diálogos o contador das empresas Wayne descobre um croqui do batmóvel e diz que sabe que o departamento de ciências aplicadas financia o super justiceiro e tenta chantagear Lucius Fox (Morgan Freeman) e ouve o seguinte: "...deixe ver se eu entendi bem, você descobriu que o homen mais rico e poderoso do mundo faz mingau de criminosos à noite e quer chantangeá-lo. É isso?" O poder político e econômico o tornam acima do bem e do mal.
O poder público é financiado pelo capital privado. A polícia recebe ajuda de empresários da cidade no caso do roubo de milhões de dólares evadidos para a China. As notas foram irradiadas e a promotoria questiona como a polícia teve dinheiro para usar um procedimento tão caro. Os fundos para defender Gothan City vem de festas beneficentes promovidas por Bruce Wayne, que diz para o comissário Gordon ( Gary Oldman) "... uma festa com meus amigos e não precisará de mais um centavo"
A institucionalização da espionagem desterritorializada é abordada quando a investigação do livro-caixa de uma empresa chinesa de seguros, supostamente pertencente à máfia, é viabilizada com falsas pretensões de negócios, usando-a (a espionagem) como instrumento oficial de combate ao crime.
Desrespeita a soberania do território nacional chinês invadindo-o e sequestrando um cidadão para ser julgado em território americano. Constrói sonares com os celulares de trinta milhões de habitantes de Gothan, transformando-os em microfones, numa completa e absoluta falta de ética.Constrói um olhar em alpha, que atravessa paredes, tornando o mundo devassável.
O nacionalismo também está presente, na forma de defesa da produção nacional e na forma de patriotismo. Quando tentam matar Harvey Dent ( Aaron Eckhart) com uma pistola fabricada na china e ela falha, ele sugere que use uma americana (Batman The Dark Knight) e no ataque terrorista a um estádio de futebol americano na hora  do hino nacional.( Batman The Dark Knight Rises)
Numa introdução sobre tipos diferentes de  idealistas, Alfred (Michael Caine) diz à Bruce (Christian Bale)   " Até os comuns são vendáveis, compráveis, menos os idealistas..."  e nesta lista, de idealistas de direita está Rachel Dowes (Kate Holmes e Maggie Gyllenhaal) - Batman Begins e Batman The Dark Knight respectivamente - que morre pelo seu ideal de justiça, e corroborando com esse raciocínio Harvey Dent ( Aaron Eckhart) diz: " ...ou você morre herói ou vive o bastante pra se tornar o vilão" realidade essa que seria a sua e que viria a ser o fio condutor do desfecho do terceiro episódio.
 Na caracterização do que seria um idealista do mal se encaixa Coringa/Joker (Heath Ledger) genuíno representante do terrorismo e é referido por Alfred (Michael Caine) da seguinte forma: "Alguns homens não procuram nada lógico, como o dinheiro. Não são compráveis ameaçáveis, razoáveis, negociáveis, alguns homens só querem ver o circo pegar fogo" . Batman Dark Knight foi o que mais apresentou discursos explicativos sobre os estereótipos. Coringa representa o estereótipo terrorista de uma época. Sentado em cima de uma pilha monumental de dólares, achincalha o capitalismo e sua civilização e traz falas absolutamente claras. Conversando com um mafioso: " Eu tenho gostos simples, curto dinamite, pólvora e gasolina" e queima uma tonelada de dólares..." sabe o que pólvora, dinamite e gasolina tem em comum?....São baratas (...) vocês só pensam em dinheiro, a cidade merece uma classe melhor de criminosos e eu vou dar a ela" à frente de uma fogueira de dólares diz ainda: "não é pelo dinheiro, é para passar uma mensagem" e na cena seguinte Bruce Wayne tenta  ajudar a evacuar a cidade, que está explodindo nos quatro cantos num Lamborguine.
Coringa, já no hospital, vestido de enfermeira - a assistente da cura - conversando com Harvey Dent continua: "(...) eu não planejo, eu apenas faço as coisas. A máfia, os tiras,Gordon fazem planos. Eu só mostro o quanto as pessoas que fazem planos e tentam controlar seu mundinho com esquemas são patéticas. Peguei seu mundinho e virei contra ele mesmo, veja o que eu fiz com a cidade com uns barris de gasolina e umas balas.(...) se você introduz um pouco de anarquia perturba a ordem vigente, tudo se torna um caos. Eu sou o agente do caos. Sabe qual é a chave para o caos? o medo"  e limpa as mãos com álcool gel.
Mas é em The Dark Knight Rises que o épico tem seu desfecho ideológico. Saído do submundo absoluto (abaixo da batcaverna), surge Bane o mercenário idealista e sem limites que sacudiria Gothan City. Usando uma mácara sob a boca, na representatividade dos que não tem voz, Bane arrebanha todas as minorias, os presidiários, os loucos, os trabalhadores braçais, os corruptos, os traficantes, os insatisfeitos com o sistema.
  Inicia atacando a bolsa de valores, o coração do capitalismo, deixa a bandeira dos E.U.A em frangalhos, faz um discurso socialista de tomada de poder pelo povo e para o povo, promove o caos pelas idéias e, é adepto da luta armada, destrói o discurso de hipocrisia em torno de Harvey Dent e postula a liberdade a qualquer preço.
Estereótipo de força física, superioridade e truculência leva Batman ao nocaute sem trilha sonora, promove uma batalha medieval corpo-a-corpo na Wall Street, centro financeiro do planeta, e põe Batmam para lutar contra a poderosa e inexorável bomba nuclear.
.....Enquanto isso do outro do lado do indivíduo....o de dentro, o Bruce Wayne caído no poço desde a infância tenta sair conotativa e denotativamente do poço para a liberdade sob o entoar de um canto gregroriano de ....Ressurja! Um imperativo que grita na alma de bruce e que é evocado e lembrado sempre pela sua consciência externa, Alfred, seu fiel escudeiro, mordomo, pai adotivo e, por fim, herdeiro de seu império.
A viagem introspectiva de Nolan a alma de Bruce Wayne é brilhante quando mostra no Batman Begins, Bruce fechando o poço com alguém dentro, que vê a ripas serem postas e Rachel Dowes (Kate Holmes) dizendo-lhe que a máscara não é Batman, Batman é o indivíduo, a máscara é Bruce.
A crise de identidade estabelecida em Batman The Dark Knight com espelhos que refletem o espectador, com quebras de vidraças e devassabilidade de dentro para fora e de fora para dentro, com máscaras reversas, tanto as de Batman quanto as de coringa. São os signos identificadores de uma alma em agonia, que por fim ressurge para a vida e assume sua existência "real", abandonada aos oito anos de idade, ao lado de Selina Kyle ( Anne Hattaway), numa declaração silenciosa de que a vida é devir, não tem regras e não se curva às nossas convenções.
Quanto à produção? Espetacular! A grandiosidade das imagens projetadas na versão IMAX (65mm) com uma inacreditável qualidade, numa tela que pode chegar ao tamanho de um prédio de dois andares nas melhores casas de exibição. A aposta de Nolan foi em detrimento da versão 3D e assim justificou sua escolha: "Eu prefiro a tela grande, olhar para uma tela enorme e com uma imagem que você sente que é maior que a vida" E isso amplificou a sensação de abarcação do mundo. a sinalização da visão panóptica de Batman em relação a Gotham City, que representa o mundo.. As cenas em sua maioria são amplas e abertas, apenas as que se referem a Bruce e alguns momentos de luta de Batman são fechadas e intimistas, pouquíssimas remetem as tomadas de quadrinhos (HQs) e estão mais presentes em Batman Begins e Batman The Dark Knight.
A trilha sonora é explendorosa e sacode a alma. A sensação provocada pela associação da imagem gigante e da qualidade e intensidade do som é de elevar a tatibilidade à enésima potencia.
A grandiosidade não pára por aí. Algumas das cenas mais perigosas e de ação não foram montagens gráficas, foram reais. Nolan, de fato, colocou alguém sob o pináculo de uma cidade vestido de Batman, o cone do avião da CIA em que que se dá a primeira briga de Bane, era um cigarro sem asas de um avião real içado por um helicóptero, e aqueles homens pendurados, eram reais. Absolutamente estonteante e corajoso.
O Batplane, era real. Foi contruída de fato uma traquitana gigantesca e inacreditável.
O que foi o Batman de Nolan?...Foi tudo.Mas muito especificamente, um homem. Alguém em quem o espectador,  teve com o quê se identificar. O que foi o Batman de Nolan?...Um mural de ideologia, um exemplo de que se pode misturar blockbuster com algum conteúdo.
A trilogia Nolan tem quase nove horas de película em que, realmente, se conta uma história e se dá um final grandioso para ela, e cuja mensagem  é a de que ninguém é insubstituível e que, romanticamente, termina dizendo que o herói pode ser qualquer um de nós, que no-fundo-no-fundo, para o  tipo de mundo que construímos e escolhemos viver já somos super-heróis.
O Batman de Nolan é ideológico, é político e de extrema direita. Mas mesmo assim, vai demorar para alguém superar essa obra cinematográfica. No Batman de Nolan qualquer semelhança não é mera coincidência.
Se Batman morreu?....Se os argumentos para inseri-lo num contexto findaram-se?...Se não há mais possibilidade de inventividade tecnológica em Batman?....Se Batman acabou?.....NOT YET!

Fique com o behind the scenes.....apoteótico: