domingo, 20 de abril de 2014

AUTOR E PERSONAGEM - A INVENÇÃO DE NÓS MESMOS

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Inventar pessoas é uma das atividades, quando da ociosidade, mais divertidas e profícuas que pessoas inteligentes,  ávidas por coisas novas e exercício de criatividade,  podem experimentar.
Olhar um outro, estranho, que talvez você nunca mais vá ver de novo e criar uma historia, é bárbaro.
Pelo brilho do olhar, devanear sobre a tristeza, a alegria, as dores, os amores e as superações.
Pelas ações, movimentos do corpo, se leves, pesados ou bruscos, criar um tratamento recebido, uma jornada inusitada, ou mesmo comum, mas com bastante ventura. Se é para inventar vamos inventar direito.
Pela maneira de falar, imaginar os lugares onde esteve, os livros que leu, os tipos de estilos de pessoas com quem conversou, conviveu e que ajudaram a montar a colcha de retalhos que somos todos nós.
Pela forma de tocar, o aperto de mão, o abraço, o beijo, viajar pelas possibilidades mais recônditas na vida de um indivíduo, as mais escondidas, possíveis e impossíveis.
Pelos assuntos que escolhe, o que, provavelmente, o constituiu , o que possivelmente espera de si, da vida, de nós....insanes observadores....como administraria imprevistos e sustos do destino e etc...etc...
Quer saber? Quem inventamos a partir de tudo isso somos nós mesmos. Nos espelhamos no outro, nos projetamos, no que fomos, no que somos e no que queremos ser.
Para além de tantos outros aspectos concernentes ao outro e a nós, com essa experiência, talvez descubramos, que só existimos e nos damos conta disso, através do outro. Porque como o vemos, o somos. E o que ele vê em nós ou de nós, também é através de suas significações e isso também nos faz existir de outra forma que não a que, de fato, somos ou achamos que somos.
Como dizia Bakhtin, em relação autor e personagem, no mínimo somos três: o que nós achamos que somos; o que o outro acha que somos e; o que achamos que o outro acha que somos...Êta vida doida!!!!!!!!

domingo, 6 de abril de 2014

AMOROSO CANGAÇO

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A semana passada na mídia impressa, televisada, eletrônica e nas redes sociais a celeuma era sobre estupro. Uma pesquisa do IPEA ( Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a tolerância social à violência contra as mulheres divulgou resultados alarmantes, que causaram um reboliço geral e em seguida voltou atrás alegando erro nas pesquisa (essa manipulação merece um outro texto) Saiba mais. A pachorra já estava feita e o assunto foi exaurido até a sua última gota e desembocou numa convocação para uma manifestação contra o estupro em Copacabana numa rede social. (hoje)
O que a gente  precisa colocar na conta é que existem outras modalidades de violência contra a mulher que não saem no jornal. É aquela de dentro de casa, silenciosa, que ninguém vê e sobre a qual não cabe protesto nem passeata e, muitas vezes, consegue ser pior do que qualquer outra. Existem mulheres que têm verdadeiros algozes em suas vidas.
Algoz é um carrasco disfarçado de parceiro. Uma alma que se fez gêmea, que ganhou confiança e que enxerga a gente por dentro, para manipular melhor. Tem olhos grandes para enxergar melhor, tem mãos grandes para fechar melhor as portas, tem pés grandes para nos fazer tropeçar melhor, e tem cérebro....um que funcione para o mal.
Algoz é quele "quem" que a gente confia, que a gente gosta, que nos mantém reféns e faz cara de manha. Algoz é aquele "ninguém" que se faz respeitável para os outros para nos desacreditar. Algoz é aquele nos leva para a festa e nos põe embaixo da mesa.
Algoz é aquele doente que a gente ainda não entendeu que não pode curar. Algoz é aquela "alguma coisa" que a gente faz questão de fingir que é alguém. Algoz é o cara que tem a chave da sela porque a gente deu. Algoz é o cara que reina absoluto conosco por platéia.
Quer se libertar de um algoz? Saia pela porta da frente, não olhe para trás e deixe o espetáculo para os fantasmas. Sem ódio, sem rancor, sem raiva, sem vingança...isso dá câncer.
A maior vingança é viver a própria vida e ser feliz e não tem protesto mais eficaz, se todas nós o fizermos  a gente muda tudo.