domingo, 3 de maio de 2015

DIAMANTE

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Diz-se do diamante que foi grafite. Diz-se do diamante que é a mais rija das pedras. Diz-se do diamante que tem muitos prismas e quanto mais os tem, mais precioso é. Diz-se do diamante que não tem uma cor única, tem uma predominante. Por dentro ele é furta-cor. Que sua limpidez refrata lentamente as outras cores e as separa. Diz-se do diamante que quanto mais polido, quanto mais límpido, quanto mais puro, maior é o seu valor. Diz-se do diamante que é o rei de todas as pedras.
Do diamante diz-se o que se quiser. Mas, e o diamante o que diz de si mesmo?...já fui turvo, desinteressante, impuro. Passei por eras e eras me tornando mais valoroso, sofrendo a ação do tempo, escondendo o meu processo de mudança. Calado, no escuro, misturado a um sem fim de minerais sem valor. Nunca vi a luz, nunca senti o calor do sol, nunca respirei. Mas insisti! O tempo me cristalizou, homogeneizou meu interior, me apaziguou, me purificou. O tempo me deixou mais límpido, transparente. O tempo me redimiu, as mudanças sofridas foram internas... Até me acharem. Quando os olhos dos outros foram postos em mim começaram as minhas mudanças externas. Fui polido por fora, limpo por fora, fiquei o que os outros queriam,  mantive minhas qualidades internas, elas são minha identidade - dão o valor que imputam - Mas por fora, mudei muito. E fiquei do jeito que me aceitam, que me moldaram: brilhante, furta-cor e valoroso;  para enfeitar colo alheio, dar poder aos outros, ser admirado no papel que me ofereciam, no lugar que me puseram.
Como vêem, até os diamantes "sofrem" e são desrespeitados em sua natureza e só são úteis se sevirem em silêncio. Talvez o diamante preferisse ficar no seu lugar, crescendo por dentro, do que enfeitar colo alheio. Talvez, a glória que damos ao diamante - a de exibi-lo - seja glória nossa, para nós. Talvez tudo o que seja precioso seja uma bela invenção, um lastro criado para territorializar a diferença e "importantizações" falsas entre pessoas. Se não fosse o diamante poderia ser uma noz. Mas o que dá ao diamante essa preferencia é a sua raridade, o quanto é difícil encontra-lo. O quanto significa ser especial encontrar um e possuir um - noz tem em todo lugar.
E aí o prisma da análise muda de novo. E ser um diamante, metaforicamente? E ser raro? realmente é valoroso ou é uma condenação à solidão, ao isolamento e ao ostracismo?
Olhem o que podemos ter de reflexões e divagações a partir de uma pequena pedra. A diferença entre os vários tipos de abordagens é o lugar de onde se olha. Não existe uma só visão/versão sobre alguma coisa, existem várias. Assim como os diamantes, somos compostos de prismas mil, temos vários lados, e dependendo de qual deles se olhe vemos uma coisa, se mudarmos a angulação somos outro e vemos outra coisa....E você aí cheio de certezas.