domingo, 29 de setembro de 2013

A PÁGINA DOIS DO ATIVISMO POLÍTICO SEGUNDO KELLY REICHARDT

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Night Moves (Night Moves).  Drama. Elenco: Dakota Fanning, Jesse Eisenberg, Peter Sarsgaard, Alia Shawkat. Diretora: Kelly Reichardt. EUA,2013.

Qual o limite entre militância e terrorismo? Sabemos conviver com as consequências do que fazemos? Até que ponto a causa é mais importante que o indivíduo? A película de Kelly Reichardt é uma análise com o pé no chão sobre o extremismo do ativismo ambiental e se aplica a qualquer ativismo político. A questão de Reichardt é o fundamentalismo, a consciência pesada, o reconhecimento de que não controlamos todas as variantes de uma ação, a contextualização de um feito que no mundo real tem outra conotação, outras consequências.
A história é um recorte na vida de três jovens ambientalistas, Dena (Dakota Fanning), Josh (Jesse Eisenberg) e Harmon (Peter Sarsgaard) que resolvem chamar atenção para o desmatamento florestal, tentam fazer alguma coisa para deter a catástrofe ambiental e resolvem explodir uma represa, porém as consequências são mais sérias do que poderiam imaginar e Dena não consegue conviver com o que fez gerando problemas para os amigos. A película é realista, sem floreamentos e versa sobre a força do sistema, e seus interstícios . Quem é mais forte? você ou o sistema? onde o sistema te ganha, te vence e te cala? Longe de se pensar que é uma mensagem de direita, mas um alerta para a falta de maturidade na mensuração de consequências, que sem avaliação transforma o oprimido em opressor, fazendo-o usar as mesmas armas ou até piores, por não dispor das mesmas oportunidades dos detentores do poder.
Apesar do tema pesado, é um filme lento e reflexívo, fala de causa e consequência, da estrutura emocional para conviver consigo mesmo e dos limites em relação ao controle das variantes de um evento, fala do imprevisto e isto tudo é representado no abalo das relações, no olhar - o filme é um balé de olhos - e  na segurança interna de cada um . O caminhar de Reichardt é para o interior, é subjetivo, é silencioso, presente na película nas expressões faciais, na postura corporal, na trilha sonora arrastada, nas tomadas paradas, em closes, congeladas, como se brincassem de estátua, o deslizar lento da câmera pela floresta desmatada  e sem vida nos faz lembrar as profecias apocaliptícas de Al gore em (An inconvenient Truth, 2006) e até tenta-se compreender a ação dos jovens como pessoas que pegam para si a responsabilidade de fazer algo, embora o objetivo não seja o de convencimento mas de contextualização.
Dakota Fanning, a menininha de (taken, 2002) , como sempre, faz muito bem o papel silencioso de uma militante que não consegue conviver com o que fez em nome da causa e está no Brasil para promover o filme, que está longe de ser um produto de consumo de fazer fila, mas que é inteligente e faz pensar
A questão de um bom filme não é se eu/você (nós) gostamos ou não. Todos somos diferentes e jamais gostaremos das mesmas coisas sempre, mas a análise da maestria ou não com a qual o diretor dispôs para dizer o que supostamente entendemos que ele/ela quis dizer. E se Reichardt quis registrar, imageticamente, o conflito interno de alguém  que não consegue conviver com seus próprios atos, conseguiu.
Um filme para quem milita por alguma coisa e gosta de pensar fora da caixinha, para quem, além de questionar o sistema, questiona a si mesmo. (panorama do cinema mundial) #festivaldorio2013.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A AMAZÔNIA NOSSA DE CADA DIA - POR THIERRY RAGOBERT

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Amazonia. Documentário, drama. Diretor: Thierry Ragobert. Brasil/França. 2013.

O filme de abertura do Festival Internacional de filmes do Rio de Janeiro, que abre a noite de gala de daqui a pouquinho no Odeon  é Amazonia, uma co-produção com a França, dirigido por Thierry Ragobert, o Jacques Costeau do cinema, também dirigiu O planeta Branco (2006) um documentário sobre o Ártico, que tinha como personagens ursos polares dentre outros.


Quem está pensando que vai ter aula de geografia e biologia pode esquecer, Documentário?! Tá mais para ficção. Isso mesmo, uma ficção que tem como personagem principal um macaco-prego e a película é o ponto de vista do macaquinho sobre a Amazonia. Criado em cativeiro sem nunca ter pisado numa selva remete-nos ao leão Alex da animação Madagascar (Eric Darnele, Tom Mcgrath, 2005) que se atrapalha todo para se adaptar, ao que deveria ser o seu habitat natural. A película fomenta a reflexão sobre a crueldade do cativeiro de animais silvestres, mesmo que sejam bem tratados, e esse é o cerne da questão, a humanização. O macaquinho tem atitudes humanas, não sabe se proteger da chuva procura uma construção, neste caso o avião que o transportava, abraça um leãozinho para dormir, dentre outras passagens e sofre horrores nas mãos da natureza, sem precisar da crueldade humana, que já havia feito seu trabalho com muito apreço.


Amazonia é uma sinfonia da natureza, diálogo? Não, não tem, é a selva em seu estado puro, natural. O que nos faz pensar no tanto de tempo que deve ter levado para filmar todos aqueles eventos, a dança do boto-rosa, ataque do gavião, o close da sucuri e tantas outras tomadas inusitadas. Em alguns animais percebe-se o adestramento em outros a curiosidade de como foi feito, quanto tempo se esperou, quanta paciência foi necessária para se suportar o desconforto, as intempéries da natureza, chuva todo dia, os perigos a que a equipe se expõs durante a filmagem é premente, isso dá outro documentário.

 
Amazonia é o registro dia após dia de um cotidiano sem igual, o cotidiano da selva, sem bandeira nem fronteira. As tomadas são estupendas, são de encher os olhos, existe poesia no caminhar de insetos. É a apresentação de um outro mundo com o intúito de fazê-lo conhecido para que possa ser respeitado e defendio, e essa mensagem fica bem clara durante a película toda, mas muito principalmente no final, de uma forma meio didático-pedagógica e que quebra um pouco o clima, mas que não compromete em nada o primor da película.
 
 
Uma produção em 3D com tomadas panópticas e superclose. Uma festa para os olhos, de uma fotografia excepcional. Pra quem gosta de explorar a natureza sem se molhar e sem ser picado por um inseto. (Abertura)#festivaldorio2013.
 


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

FREDA - POR ELA MESMA

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Nossa querida Freda - A secretária dos Beatles. ( Good Ol' Freda). Documentário, biografia. Elenco: Freda Kelly, Tony Barrow, Kelly Kingsley. Diretor: Ryan White. USA/UK, 2013.

Quanto tempo o tempo tem? O que você faz com ele?  Good old Freda é a história de uma década na vida de Freda Kelly. A década mais efevercente do Rock e que tem como atravessamento a vida de uma secretária, seu trabalho e a administração de um dos fã clubes mais ilustres da história da música. Trata-se de ninguém mais, ninguém menos que a secretária da banda de rock mais conhecida do mundo, os Beatles.
O documentário faz uma retrospectiva dos anos sessenta e do bairro de Liverpool e seus moradores mais ilustres à época. Sem pretensões históricas é uma narrativa do cotidiano de uma senhora, hoje sexagenária, que teve a sorte de estar no lugar certo na hora certa ou, simplesmente, cumprir o seu destino, o espectador é quem decide.
A película reporta à questão do que é um documentário e até  que ponto não é uma  visão de quem conta, e faz lembrar Zelig (Woody Allen, 1983), porque parte da forma com a qual o próprio protagonista se vê, é uma espécie de reinvenção de si mesmo. Dona de uma discrição invejável Freda se revela alguém forte e que segue em frente. É Freda por ela mesma.
A produção foi cuidadosa na seleção de fotos e dos entrevistados e sutil em relação às tragédias que cercaram a banda como a morte  por ovedose do empresário Brian Epstein e ao assassinato de John Lennon, que nem é citado.
Uma película para quem gosta de narrativas particulares. (Mostra Midnight música) #festivaldorio2013
 

A EXPURGAÇÃO DE DOR SEGUNDO ATHANASIOS KARANIKOLAS

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Sonar ( Echolot). Drama; Elenco: Martin Aselman, Bettina Burchard, Tomas Halle; Diretor: Athanasios Karanikolas. Alemanha, 2013.

Um dos filmes da mostra foco Alemanha é uma narrativa entrecortada, sem a menor pretensão de linearidade e se detém num final de semana de um grupo de jovens que decide ir para uma casa reservada para prestar uma homenagem a um amigo que suicidou-se e assim fazer uma catarse, expurgar as dores, as saudades e desopilar a alma.
Ali, cada um entra em contato consigo mesmo, tudo regado à sexo, drogas e rock in roll e muita poesia e arte. O poeta escreve sobre a sua dor e lê seu poema para os amigos; o baterista se esmera para fazer o seu melhor em meio a livros, que indicam o nicho ao qual pertencem, universitários. Um toca um cachimbo como se fosse uma flauta dissonante da maneira mais impetuosa que suas emoções permitem,a energia reinate faz lembrar Woodstock - 3 dias de paz, amor e música(Michael Wadleigh, 1970).
As tomadas são, em sua maioria, na altura das ancas, do tórax, quando mais acima, mostrama boca e o nariz; o que fala mais alto naquele contexto é o instinto, a força, o grito. O poeta é filmado a partir dos olhos e de rosto inteiro e são poucas as tomadas assim, os closes são muito próximos . É um filme que não tem nenhum compromisso com a temporalidade ou identidade. Ali ninguém tem nome a não ser o morto - Franz, que juntamente com a dor são os personagens principais.
Ma quem brilha mesmo é diretor Athanasios Karanikolas aqui que conseguiu fazer um filme com uma narrativa entrecortada e que chafurda na lama do humano, usando de imagens para mapear subjetividades e nos mostra a nós mesmos em  nossos processos de nos encontrarmos, o lirismo paira no ar feito um poema de Álvares de Azevedo e nos apresenta, como ninguém, os ensaios da morte: o sono e o orgasmo.
Se você que matar saudades das festas do centro acadêmico, gosta de se divertir analisando os processos humanos, não tem dificuldade com falta de linearidade e gosta de uma divagação livre e caótica, essa é a sua praia. (foco Alemanha) #festivaldorio2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A OUSADIA PREMIADA DE AMAT ESCALANTE

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Heli. Elenco: Armando Spitia, Andrea Vergara, Linda gonzalez; Diretor: Amate Escalante, Mexico, 2013.

O que é justiça? quanto vale uma vida? O que é poder instituído e poder paralelo? o que respeitar? Tem limites para defender a família? Perguntas que o espectador se faz após o termino do mais recente filme de Amat Escalante, um diretor mexicano de trinta e quatro anos, premiado e de uma coragem e ousadia admiráveis. Levar para o festival de Cannes os temas: pedofilia, crime organizado, tráfico de drogas, poder paralelo, corrupção e tortura não é para qualquer um ou o indivíduo perdeu a noção ou ainda vive os afãs da juventude no que concerne a mudar o mundo. Qualquer um pesaria assim. Mas estamos falando de cinema, uma linguagem de alcance de massa, um veículo poderoso de comunicação e denúncia , uma potente máquina de fomento de idéias.


Trata-se da história de um homem jovem, casado e com um filho bebê, morando na casa do pai no meio do deserto mexicano, com uma irmã de doze anos que namora um cadete da polícia que está envolvido com o narcotráfico. A partir da descoberta das duas últimas premissas, se desenrola o enredo com cenas de tortura explícita que nem em A hora mais escura (Kathryn Bigelow, 2012) se viu igual. Escalante não economizou, colocou a câmera em cima de atos que normalmente se insinua e mostrou como nascem os torturadores, a cena de crianças jogando vídeogame numa sala com um individuo no pau-de-arara e de doer os ossos. Isso tudo pra deixar claro a banalidade do mal.
Às vezes só gritando dessa forma alguém ouve. Escalante traz para o mundo VIP a realidade do cerceamento de direitos e  o exercício de poder arbitrário no México. Causou reboliço, venceu como melhor diretor. O que o filme tem de extraordinário? Vejamos: uma produção de/com poucos recursos, crua, atores desconhecidos e sem experiência e uma história aterradora. O que Escalante fez de extraordinário  foi trazer para a cena, quase que em carne e osso, a impotência, comparado à Refém (Florenti-Emilio Siri, 2005) em que o espectador se rói, se indigna e se mexe na cadeira. Mas para além de trazer à baila a falta de condição de reagir, ele a  transforma em personagem principal, através do olhar, da expressão corporal, da lentidão do tempo, da aridez da paisagem e dos signos semióticos: uma vaca atolada num buraco fundo, escuro, cheio de água e sem saída; Heli, no capô de uma picape, ensanguentado, amordaçado e com um coturno no meio da cara; Heli, magro, franzino e sem camisa peitando um caminhão do exército sem armas na porta de casa. Mensagens gritadas a plenos pulmões, sobre o quanto aqueles indivíduos estão sem saída, calados e humilhados.


Escalante com quase nada conseguiu mostrar o impacto da dor da perda de direitos, da violência numa região sem lei. Uma realidade dura e difícil que não é só do México, mas que é mais fácil varrer para debaixo do tapete. Numa entrevista, ele disse que o objetivo era incomodar e incomodou. Talvez por sua bravura, por sua arte denúncia e a forma como a construiu, sendo tão violento com espectador como aquela realidade o é com seus viventes, tenha levado o prêmio de melhor diretor em Cannes (2013)
Heli é um filme para quem tem estômago forte e gosta de um entretenimento de impacto ou usa esses momentos para refletir sobre o lado negro da força. (Première Latina)#festivaldorio2013

domingo, 22 de setembro de 2013

O CAMINHO DAS PEDRAS DE NAT FAXON E JIM RASH

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 Nota:  Em virtude do Festival Internacional de Filmes do Rio, nossas reflexões se darão a partir de películas pelas próximas duas semanas, com intervalos menores de postagens. Findo o evento, voltaremos à nossa normalidade, se é que isso existe :)
 
 
 
 
 
 
The way way back ( Um verão para não esquecer);  Drama, Comédia; Elenco: Steve Carell, Toni Collete, Alysson Janney; Sam Rockwell; Liam James; Diretores: Nat Faxon, Jim Rash; USA, 2013.
 
 A obra mais recente de Nat Faxon e Jim Rash, ganhadores do Oscar de melhor roteiro 2012 com filme The descendants ( Alexander Payne, 2011) versa sobre a forma com a qual se vê a vida. A película faz um recorte de duas semanas de férias na vida de uma típica família norte-americana, mais especificamente, na vida de um menino de quatorze anos, Duncan (Liam James) cujo eixo condutor é o olhar, a forma com a qual se vê a própria vida e a do outro; o que fazemos com a vida que temos a partir do que nós vemos e até onde o olhar do outro é importante; os signos semióticos vão desde o olhar de Duncan no início e no final da película passando pelo olho estrábico de Peter (River Alexander), que é motivo de piada, até a citação fisiológica dos olhos do caranguejo que conseguem enxergar em trezentos e sessenta graus mas não conseguem olhar para cima.

As limitações humanas estão presentes nas personagens de forma acentuada, a tendência à traição do padrasto/Trent  (Steve Carell), a obediência de Duncan e a estagnação da mãe/Pam  (Toni Collete), o jogo de tabuleiro com suas regras fechadas também são uma metáfora sobre a maneira com a qual escolhemos andar na vida. Essas são algumas reflexões profundas extraídas de um drama/comédia típicos de sessão da tarde que faz rir e chorar simultaneamente.
Uma história alegre que tem como locações a praia e um parque aquático e como argumento o cotidiano com suas dicotomias, embates,  questões a serem respondidas, decisões a serem tomadas, caminhos a serem construídos tendo a água como um caldo de vida e símbolo de renovação.
No que se refere á parte  comédia, à vida adolescente e suas descobertas faz lembrar Diário de uma banana 3 - dias de cão (Diary of wimpy kid - Dog days; David Bowers, 2012) e em relação ao drama com suas implicações para a vida nesta fase adolescente remete-nos à Conta comigo ( Stand by me; Rob Reiner, 1986).
A trilha sonora é motivacional e alegre. Os atores Sam Rockwell (Owen), vencedor de melhor ator no Newport Beach Film Festival pelo papel  e Allison Janney (Betty) estão impagáveis. Uma atuação rápida, piadista, alegre, transformando, o que para alguns seria tragédia, em coisas comuns e, quiçá, cômicas dão o tom e o ritmo da película, já o contraponto é feito por Lewis (Jim Nash) para quem tudo é sem graça e sem vida e acaba sendo mesmo. Um filme pra quem quer se divertir, rir muito e sair pensando na própria vida.
Tudo isso e muito mais no Festival Internacional de Filmes do Rio 2013 que começa na próxima quinta-feira. (mostra expectativa)
 


domingo, 15 de setembro de 2013

AS BENESSES DA DISTRAÇÃO

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Quem ainda não ouviu a música Epitáfio do grupo Titãs? Na qual se encontra um trecho que diz:" O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído". Pois é!  Por mais que pareça desleixo, falta de atenção e cuidado, a distração, talvez, seja das atitudes mais nobres em relação às coisas torpes, pequenas e parcas, aquelas que só atrasam a vida, tiram a alegria, cegam para a felicidade e para as coisas boas, lindas e simples.
Parar para perceber o  nascer e o pôr do sol sentindo toda a sua magia...
Se desligar de tudo e observar uma flor, com sua sedosidade e anatomia peculiares....
Deixar tudo de lado e sentir uma música para além de ouví-la....
Abstrair-se  e acurar a atenção  para pessoas no seu trato cotidiano de gentilezas....
Deixar de lado os pesos e medidas comezinhos no uso do filtro seletivo de energias que não combinam....
A distração pode ser  o esvaziamento do ruim, do mal, do sem importância para o crescimento, de forma proposital fingindo que é sem querer.
Andar distraído pode ser  caminho das pedras para muita saia justa.
Andar distraído pode ser  um estilo de vida.
Andar distraído é uma escolha que evita o câncer, pole o brilho dos olhos e dá viçosidade à pele.
Andar distraído é confissão de coragem em dizer que o que tem do outro lado não interessa e não se interessar de verdade.
Andar distraído é escolher o nicho de energia com o qual queremos nos coadunar e seguir sem olhar para trás.
Andar distraído é para os leves de alma, para os confiantes, para os semeadores de felicidade. Pois só assim conseguimos carregar só o que precisamos e prosseguimos  somente com o que conseguimos carregar.
Andar distraído é para os que destralham a vida de tudo o que não tem mais uso.
E esse deus chamado acaso protege os distraídos porque todo distraído tem um pouco de Mr. Magoo, as coisas ruins acontecem e ele não vê, o que equivale a dizer que não existem, porque o que os olhos não vêem o coração não sente. Bela proteção à desse acaso.
Porém, não tem receita pronta, tudo é processo. Mas se você está encarnado, tem um corpo e respira nesse mundo, ainda é tempo. Não importa o que os outros digam... ceda à proteção do acaso....você não controla nada mesmo! VIVA e  DEIXE VIVER!





sábado, 7 de setembro de 2013

MINHA TERRA, MEU CHÃO, MEU EU

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Minha terra tem coqueiro, tem feijão com arroz, tem samba, tem futebol.
Minha terra tem bandido, tem corrupto, tem mocinho, tem vilão.
Minha terra tem pobreza, tem riqueza, tem fome, tem pão.
Minha terra tem um povo que se chama de irmão, de brother, de "brou".
Minha terra tem um cheiro que outra terra não tem.
Minha terra tem um céu que outra terra não tem.
Minha terra tem um clima que outra terra não tem.
Minha terra é minha, é minha cara, meu sangue, minhas entranhas, é minha saudade, minha dor, minha vergonha e meu orgulho.
Minha terra é o que eu carrego pra qualquer lugar que eu vá.
Como vêem minha terra assim me verão, quer eu queira quer não.
Minha terra é o que eu sou em qualquer lugar que estou.
Minha terra é a maneira como vejo o mundo, a forma que dou às coisas, o colorido ou o cinza do meu coração.
Minha terra é a marca a ferro-e-fogo na minha alma enquanto neste corpo eu estiver.

"...minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorgeiam não gorgeiam como lá"..

Gorgeio como gorgeia todo brasileiro.
Gorgeio "brasileirês" em inglês, francês, alemão e javanês.
Porque o sangue que corre nessa carcaça é bicolor....é verde e amarelo.
Eu sei o gosto da terra que é minha.
Eu gosto do cheiro da terra que é minha.
Conheço o valor, como filha, político e econômico, da terra que é minha.
Minha terra não é mãe gentil, mas é mãe minha.
Minha terra não é pátria amada, é aviltada, vilipendiada, insultada, esculachada e sacaneada.....mas é minha.

...." E Deus criou os céus e a terra"....as matas, os rios, os mares e uma terra de Vera Cruz que viria se chamar BRASIL ....."e viu que era bom"....







domingo, 1 de setembro de 2013

A GRAÇA DO NÃO-SABER

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Ninguém sabe tudo e talvez não tivesse a menor graça saber. A placidez da ingenuidade também tem seus encantos, o rastro da ignorância também tem seu charme, e mais, traz felicidade.
Quão gracioso é contemplar um infante no ato da descoberta do não-saber, aquele olhar de ih!.... A personificação do não sei, o primeiro movimento do ....é por ali!... pra saber, seja lá o que for. 
É instigante observar o movimento da curiosidade que constrói o saber e destrói a graça, a aura do não-saber; que nunca mais, na mesma circunstância, tem a mesma cara. À medida que crescemos o não-saber passa a ter cara de vergonha, de constrangimento, de inferioridade....mas a de ingenuidade é sem igual e fica para trás, na fase na qual não se sabia o que é saber.
Não saber o que é saber faz toda diferença no aprender, usamos o raciocínio livre de engessamentos, de cuidados, de meandros políticos, livre de grilhões, damos as respostas mais estapafúrdias, imbuídas de verdades quase absolutas, que são tão simples, tão claras, mas que revestidas da pecha da ignorância, já não ousamos mais usá-las.
Sofro de saudosismo de infância, daquela fase em que a gente sabe de tudo sem saber. Depois vamos crescendo, adquirindo saber e emburrecendo.
Sofro de manutenção oculta da infância, mantenho a minha criança viva, escondida, pirracenta, traquina e respondona. Por mais que eu não lhe dê voz, penso, respondo em silêncio, rio comigo mesma e não deixo passar uma, porque quando o fizer a estarei matando.
Sofro de felicidade escondida, de resposta silenciosa, de brilho oculto dos olhos. 
Sofro de bipartição de mim, proposital e construída. Não admito superposição  nem substituição, mas adição e agregamento.
Nunca quis ser "highlander", o cara que acumula o saber e vive para sempre, só para sentir o prazer celestial de descobrir coisas e saber que sempre haverá coisas a serem descobertas. Então, em níveis diferentes de não-saber, sempre seremos ingênuos e ignorantes em alguma coisa.