sábado, 20 de setembro de 2014

IMPERFEIÇÃO - MARCA REGISTRADA.

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Quem gosta de brinquedo quebrado? Prato rachado, dia ruim, coisas com defeito. Ninguém. Somos afeitos ao perfeccionismo. Queremos e gostamos de tudo perfeito. Mas, e nós, será que somos  aquilo que achamos de nós mesmos? será que correspondemos àquilo que esperamos das coisas e de outras pessoas?
Pois é, talvez não seja um mal perseguir a perfeição, mas um caminho de melhora, de evolução. Precisamos de um objetivo no horizonte para andarmos uma légua, duas, três....
Mas tudo ao exagero, degenera, faz mal, empaca. Há quem saiba disso e prefira o oposto, venere o "defeito", o gênio ruim, a falha em tudo e a pouca dedicação às coisas a que se propõem e dizem a si mesmo, como expressão de consolo, "ninguém é perfeito...vai assim mesmo". Será?
Nem tanto a terra nem tanto ao mar, diria o poeta. Nem uma ode a imperfeição, nem uma sanha desvairada pela perfeição. Possivelmente, nenhuma das duas nos pertença, são apenas fases do caminho. Não conseguir realizar um intento como se quer, não sermos o que gostaríamos de ser, descobrir as falhas do olhar, os pontos cegos do que não conseguimos ver, descobrir que não damos contas de tudo. Perceber que existem outras formas de ver que não a nossa, e que, às vezes poder ser até melhor que a nossa, perceber que tem sempre alguém que faz alguma coisa  melhor do que a gente, é bom.
Ser humano, provavelmente, seja estar no meio do caminho, dentro de um laboratório para acertar e errar, para ensaiar e treinar, testar, se decepcionar, se alegrar e continuar tentando.Isso se torna, na verdade, o que somos. Imperfeitos, perdidos, assustados num labirinto procurando uma saída, procurando melhorar.
Fazer errado, faz parte. Ter defeito, tá valendo e ser imperfeito é condição para pertencer ao grupo de humanos que designamos, orgulhosamente, humanidade.
Quando conseguirmos enxergar tudo, acertar tudo, ser feliz em tudo e perfeitos, já deixamos de ser humanos e estaremos em outro patamar. Não se trata de fazer uma ode a imperfeição, mas uma festa de aceitação à condição de falhos para conseguirmos ser felizes durante a caminhada, se der.
Defeito, imperfeição, incompletude é a nossa marca registrada. E do que não tem jeito, a gente ri. :)

domingo, 7 de setembro de 2014

VER & FALAR

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Ver, talvez, não seja ver, seja criar.
Quem vê o que  vê, vê o que é capaz de criar, de conectar.
Quando vemos, seja lá o que for, ligamos todas as nossas experiências, juntamos tudo para chegar a um juízo.
Enquanto a gente vê, a gente fabrica um contexto, uma história, uma energia, um cheiro.
Ver é viajar para dentro, com o incentivo/estalo dado pelo de fora.
Falar do que se vê é falar de si,  de onde se esteve, do que se viveu, do que sentiu, de onde foram parar todas essas experiências dentro de nós, sobre como nós as digerimos, do que elas fizeram conosco.
Ver é tudo, menos enxergar o de fora.
Ver é transferir o de dentro para fora e ficar espantado sobre como o outro vê outra coisa.
Falar então...