domingo, 26 de abril de 2015

FORA DA CAIXINHA

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O mundo da gente é o da gente. Aquele que criamos com nossas redes, onde nós, obviamente, somos o centro e reinamos absolutos. As impressões que temos dos outros, dos acontecimentos a nossa volta, são todos lidos com nossos sensores dentro do quadradinho de nossas experiências. Não seria nada demais se não o estendêssemos ao resto do mundo. Como se todos  vissem as mesmas coisas que nós e as interpretasse da mesma maneira.
Somos, cada um de nós - sete bilhões de pessoas - um mundo particular. Ninguém vê a mesma coisa, mesmo que esteja olhando do mesmo lugar para a mesma cena. Ninguém vê do mesmo jeito que o outro. Logo, somos sete bilhões de mundos que se tocam que se esbarram. Sete bilhões de olhares diferentes que são criados a partir de culturas diferentes, costumes diferentes, experiências diferentes, que por sua constituição são a identidade de um indivíduo. Sua ação no mundo constitui-se numa digital única de intenção e de rastro de sua história deixado no mundo maior, o de todos nós.
Talvez, por isso, quando falamos sobre o outro falamos de nós. Quando olhamos para a cultura do outro o fazemos a partir da nossa. Para onde vamos, se não nos desprendermos do nosso pequeno mundo - a caixinha - não conseguimos entender o outro, o ambiente, suas ligações, suas criações. Se nos desapegarmos de nossas "verdades" teremos sempre espaço para aprender com "as verdades" do outro. Aprendemos, inclusive, que as "verdades" são muitas. Que os costumes alheios instituem regras que, muitas vezes, são opostas as nossas e eles vivem felizes (quando só achamos que felicidade é viver da nossa maneira) e o fazem com a mesma "certeza" de "verdade" que achamos que só pertencia a nós. As vezes, ainda rimos, como se eles estivessem enganados e nós "certos".
O mundo é uma diversidade de "verdades" e crenças que nos põe  numa babel de seres dando voltas em torno de ideias de mundo tornados realidade pela quantidade de pessoas que conseguimos arrebanhar para segui-las, seres que criam seus nichos de "certezas" para se protegerem e impingirem uma marca no mundo, um rastro ou uma identidade.
E nós, nos fechando em nosso mundinho ovo de codorna, achando que tudo acontece de acordo com nossa crença, nossa educação, nossa cultura, da maneira com a qual a moldagem de nossas experiências nos faz enxergar e que, na realidade, é só nossa.
Talvez o pulo do gato que nos liberte dessa casca pequena seja o ...e se...
E se...as coisas não fossem como eu vejo, como elas seriam?
E se ... alguém não tivesse a educação que eu tive como pensaria? como agiria? quem seria?
E se ... um indivíduo não tivesse vivido as experiências que eu vivi (lembrando que, mesmo se vivesse , o tal não sentiria as mesmas coisas do mesmo jeito e não pensaria da mesma forma que você) como seria?
Teorizamos o caos e vivemos nele, literalmente, sem percebermos. Sair da caixinha, do lugar comum do ovo de codorna, parar de olhar para o nosso próprio umbigo e deixarmos de ser (para nós) o centro do universo - porque na realidade não o somos - e tentarmos pensar de outra forma faz toda a diferença.
 


sábado, 25 de abril de 2015

O CONVERSA AFINADA

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O Conversa Afinada em seus quatro anos de existência vem sendo um  mural de assuntos subjetivos. Aqueles que nem sempre se consegue abordar em conversas cotidianas, nem em mesa de bar. Falando sobre o movimento do mundo (ou como eu o vejo), a percepção humana de momentos e suas diversidades, dos entre-lugares de aspectos de nossas vidas que, de vez em quando é bom expressar ou pelo menos expurgar para não somatizar.
Sendo assim, o Conversa Afinada  se instituiu como um espaço de exposição de subjetividades e por que não, num portal de expurgação de dores, de sensações, de sentimentos, e para além disso, um legado. Pretencioso? Talvez não.
Todos nós deixamos um rastro nessa existência, uma história, um painel de ideias e ideais através de nossas obras, nossos feitos, do que deixamos de sentimento no outro e de tudo o que fazemos enquanto estamos aqui, inclusive escrever. Uns deixam os filhos, outros livros escritos, outros arvores plantadas, obras de caridade, amigos que os admire, feitos históricos (alguns), exemplos éticos (pouquíssimos). Salvo algumas lembranças em milhares de alunos ao longo dessas mais de duas décadas de magistério, vou passar minha encarnação vívida, intrincada e pensativa em branco, em relação ao consideramos legado de alguma coisa. Como nunca fui adepta de materialidades, encontrei um jeito de dizer ....passei por aqui.
Minhas ideias, meus escritos, minhas conexões, minhas fabulações, ilações e considerações sobre assuntos que me engasgaram. O que vai ser feito disso? Não faço a menor ideia, nem sei se terá alguma importância para o outro, só vejo, no momento, a importância que tem para mim....não enlouquecer, me livrar do que incomoda, me fustiga, no melhor estilo terapia em público.
Mas uma coisa é certa. Jamais passaria 50, 60, 70, 80, 90 ou 100 anos em silêncio. Aí sim, eu estaria morta. As pausas são as férias da inspiração em relação à forma com a qual esse registro vai se dar. Mas ainda bem que são curtas e a tal inspiração sente falta desse canal disposto que me proponho ser e que tem um prazer inenarrável por expressar-se e dizer ao mundo Eu penso, eu existo, e esta...sou eu.
Silenciar Jamais!