domingo, 23 de fevereiro de 2014

PEDÁGIO

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Por vezes, pensamos que inventamos as coisas  mas, às vezes, acho, que as descobrimos. Elas já estão implicitadas na vida, na forma de constituição da nossa existência,  nós só as revertemos, torcemos, damos um nome e nos apropriamos e, vá lá, achamos que as inventamos. Nesse raciocínio para o encaminhamento da questão do texto - os preços que a vida nos cobra - ponho na linha da nossa analogia de hoje os pedágios.
Pedágios são valores pagos para uma concessionária para usar um caminho com o argumento  de manutenção. Mas, talvez seja um exercício arbitrário de poder, controlando o ir e vir das pessoas e dizendo quem pode/deve ou não passar por ali.
Na vida temos a mesma situação, em relação aos caminhos que escolhemos, sem envolver valores monetários mas preços a serem pagos com a ausência de alguém, com o deixar para trás o que importava, com a exigência do foco de nossa atenção em  outros valores, com a construção/criação de um novo paradigma pessoal.
A vida, essa sim, é boa em cobrar pedágios. Quer crescer? Tem que largar a boneca e o carrinho. Quer ser independente? O quintal ficou pequeno. Quer conhecer o mundo? Saia do seu lugar, deixe os seus. Quer ficar? Vai ficar olhando para o lado de fora da cerca o resto da vida. Quer amar? Vai sofrer. Quer fazer sucesso? (esse mesquinho que é vendido às pencas) Passe por cima do outro. Quer viver? Vai ter que morrer todos os dias. Quer o caminho X? Vai ter que deixar o Y. Quer ser você? Receba de bom grado as costas alheias. Quer ser original? Ponha um alvo no peito.
Ah! concessionária competente, sádica e cínica. Nada é sem preço, nada é só sorrisos, nada é só alegria. São proporcionalmente, dez porcento de paz para noventa porcento de batalhas; vinte porcento de felicidade para oitenta porcento de apreensão (tensão); trinta porcento de leveza para setenta porcento de pesar....meio a meio?...Só a possibilidade de estar ou não na estrada.
Pegar qualquer caminho não dá, tem que saber o quanto a cabine de pedágio cobra. E se não der para pagar na modalidade exigida, dê uma volta de cem quilômetros, navegue um rio caudaloso, viaje de caminhão um outro tanto e pegue um  trem chacoalhante, você vai chegar....atrasado e cansado, mas vai chegar.
Pedágio, uma forma de cobrança por uma passagem que você tem que fazer. Só para o caminho ficar mais difícil, e ainda dizem, que é para que o valorizemos, para que fique melhor, mais bem cuidado. Na verdade, só seleciona o caminhante. 
Concessionária ingrata e vilipendiosa. Testa a nossa gana de chegar ao lugar desejado, pole nossa naturalidade, nos fabrica hipócritas, nos molda com crueldade e nos põe de molho na maldade. Concessionária sem concorrência, monopólio não se sabe de quem, ainda vou estudar economia só para aprender a te sabotar.


domingo, 16 de fevereiro de 2014

SINDROME DE NAPOLEÃO

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Nota: Este texto não se pretende histórico. É só uma ilação analógica para reflexão
 
Quase todos nós somos acometidos, vez ou outra, de uma doença grave, não tão nova, que se disfarça com  nomes como subestimação alheia ou superestimação própria.
Subestimação é a desqualificação sem motivo; pôr em dúvida as capacidades e habilidades das pessoas..... " quando se desqualifica uma pessoa [coisa ou circunstâcia] por uma representação estereotipada de classificação" (dicionário informal). Quando diante de alguém, algo ou fato, cremos sê-lo menor, inferior, menos importante do que verdadeiramente o é....  Superestimação é dar excessivo apreço ou valor a;  ter em grande conta, normalmente acima do que, de fato, merece.
Achar, crer, tachar  não transforma o outro naquilo que queremos que seja. Somente nos cega para não vermos o que, provavelmente, seria. Se conseguíssemos enxergar com 'isenção'  tudo bem. Mas a questão é que  enxergamos a partir do que as nossas vivências nos possibilitam ver..... imaginemos então, o que não fazemos quando subestimamos.
Temos exemplos muito bons na História de subestimações que custaram caro. A nossa analogia passa pelo famosos Napoleão Bonaparte (século XIX). Conhecido como 'gênio militar invencível', a sua maior derrota foi para um exército fragmentado num território imenso - a Rússia- num clima inóspito... e em tudo desconhecido do maior exército da Europa, até então. Seiscentos e setenta e oito mil homens e mil quatocentos e vinte canhões. Napoleão não conhecia seu inimigo, sua coragem, sua disposição, seu tipo e nível de conhecimento, suas conexões e até onde estava disposto a ir. Napoleão se superestimou, acreditou nos elogios que ouvia sobre si mesmo. Napoleão subestimou quem não conhecia, pela sua sagacidade, inteligência, vitórias, glórias e aclamações recebidas de seus aliados. Com todo o seu conhecimento estratégico lhe faltou a noção do poder da tática. A tática da terra queimada acabou com napoleão sem sequer começar a lutar e o fez retormar com dez mil homens em estado lastimável.
Talvez, uma das maiores armadilhas de nossa vida seja o nosso umbigo. Àquele sobre o qual achamos que o mundo gira em volta e para os quais somos o referêncial "sine qua non". E que os nossos saberes, são os que o mundo inteiro, esse leque multifacetado, precisa e utiliza....lêdo engano.
Todo o nosso conhecimento seria facilmente inutilizado numa tribo indígena, numa aldeia esquimó. Nessas paragens precisaríamos de outros conhecimentos para sobrevivermos. A multiplicidades de realidades que temos ao nosso redor, no mesmo espaço no qual convivemos, que estão contidos e contém outros contextos, e por conseguinte, conhecimentos, os quais desconhecemos, são provas cabais de que sempre temos o que aprender e de que somos sempre incompletos.
Olhar para o outro e achar que ali não há nada, é um engano imensurável. Todos nós viemos/estamos em ligações, redes e conexões tão díspares e intrincadas que, se tivermos que saber, ao certo, de alguma coisa... é de que sabemos nada. E que o que temos que aprender é muito mais do que o que achamos que sabemos. Que o pote de comportar conhecimentos (figura alusiva) é sem fundo, sempre cabe mais. E que essa troca só é possível quando abrimos espaço para essa aquisição.
Quem acha que sabe tudo, já está cheio, completo, já se fechou para o resto, alí, passa a não caber mais nada. Fossilizou-se a sí mesmo por livre e espontânea vontade, por livre e espontânea subestimação do outro, da realidade , da vida. Vestiu a carapuça de Napoleão, logo, a campanha da Rússia com todo os seu fracasso virá.
A síndrome de Napoleão, o complexo de "highlander" está em todos nós. Mas tem antídoto....Sei que nada sei .....e que o outro tem sempre o que me ensinar.
 
 
Saiba mais:
 
Da estratégia de Napoleão: (Aqui!)
 
 
Da tática Russa sobre Napoleão: (Confira!)
 
 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

SININHO E O GRILO FALANTE

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É, perdemos a capacidade de enrubescer, a capacidade de nos balizarmos por uma diretriz que nos ponha limites e que nos caracterize, como pessoas, com esse ou aquele estilo de caráter ou  comportamento.
O mundo das crianças está repleto de reálias que serviriam, muito competentemente, para nós adultos, analisarmos nossa própria trajetória, as mudanças que nos ocorreram, não só no corpo, mas também na alma e na forma de encarar a vida. Percepções essas, que nos fariam compreendermo-nos melhor e tomarmos decisões, em nosso dia-a-dia, sob outros parâmetros.
Os contos de fadas podem ser uma dessas reálias, nas quais podemos pinçar personagens que nos façam refletir. Sininho e o grilo falante são dois deles. Consciências externas e guia, nas horas difíceis, de Peter Pan e Pinóquio, respectivamente, funcionam como protetores, impositores de limites, conselheiros e guias na construção do caráter. Até não serem mais necessários, seja porque cumpriram a sua missão ou porque foi perdida a capacidade de ouvi-los.
Os ensinamentos que nos dão estrutura emocional e social  para a vida estão sempre em movimento, talvez porque à medida que vamos alçando maturidade e compreendendo melhor as conexões das circunstâncias que nos cercam, elas vão se elasticizando, mas continuam tendo uma coluna vertebral, um cerne, um veio sobre o qual se alicerçam e são convencionados, e que nos dão a noção padrão para a convivência em sociedade do certo e do errado - relativizados circunstancialmente. E à medida que vamos crescendo esse arcabouço fica, e é nossa consciência interna, aquela que nos baliza e que, quando seguimos sua diretriz somos felizes, mesmo sendo os mais otários do mundo, e quando a ignoramos, nos ferimos, nos incomodamos, mas fingimos que não e inventamos boas desculpas para nos livrarmos da sensação.
Estamos perdendo a orientação, o eixo norteador de nós mesmos e de nossos valores sem a menor vergonha. Quando somos pegos numa situação cabulosa não coramos mais.... e ainda emitimos aquele risinho de canto de boca. Não ouvimos mais aquele sininho que nos alerta que passamos do limite. Matamos nossa consciência e a nossa lealdade para conosco mesmo e nossos valores em nome de nada, só para não destoar.
O que esquecemos é que quando fazemos isso estamos pisando em nós mesmos, elevando diante de nós o outro, em detrimento de  nós. Quando não mais nos envergonhamos por equívocos cometidos, fabricamos nossas doenças, a somatizáveis e as espirituais. Talvez a gente precise aguçar mais os ouvidos para ouvir a nós mesmos, pois ainda temos muita coisa a nos ensinar, só não fazemos silêncio o suficiente para prestar atenção.
Enrubesçamos, fiquemos em graça, passemos vergonha, escutemos nossa voz interna...isso não é coisa de criança, isso é um bom sinal na vida adulta.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O NARIZ

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Deveríamos fazer um inventário das partes que são nossas, nos compõe como roupagem e para as quais sequer atentamos, o nariz é uma delas. E é de uma injustiça tão óbvia que está na cara.
O nariz é um dos órgãos dos sentidos, funciona como antena e captador de cheiros, com ele sentimos o mundo, com ele intensificamos o paladar, captamos o oxigênio para fazer funcionar a nossa fisiologia. É um portal de memórias, é símbolo de liberdade, dá o nosso timbre de voz, nos imprimindo uma manifestação única na natureza, uma existência exclusiva no mundo.
Injustiçado, esquecido, não notado, é ele que chega primeiro que nós em todos os lugares aos quais vamos. É um intrometido, por assim dizer. Só lembramos dele em momentos de desaforo. Quando da imposição de nossa autoridade sobre nós mesmos..."quem manda no meu nariz sou eu" ou quando do enxerimento em algum assunto que não seja de nossa alçada..."Não meta seu nariz onde você não é chamado". Acostumamos a não vermos o próprio nariz, tanto que se alguém quiser esconder alguma coisa de nós, de uma forma tal que não a encontremos é só esconder debaixo de nosso nariz...funciona.
Mas as questões profundas que envolvem o nariz, o seu poder silencioso sobre nós é só a ponta do iceberg dos mistérios que a natureza nos reserva. O nariz nos livra da morte por ingestão de alimentos impróprios, o nariz é responsável por escolhermos a quem vamos amar, nos relacionar emocionalmente. E isso não tem nada a ver com a qualidade ou a marca do perfume. Essa escolha, esse acender dos sentidos são promovidas pelos ferormônios, cheiro natural que combina ou não conosco, E quem faz essa seleção, essa aceitação ou rejeição é ele....o nariz.
Pois é, quem diria, que esse órgão estranho no meio do rosto tem um papel tão importante na nossa felicidade, para além da sobrevivência. E a gente achando que manda no nariz, que ele é nada. Será que a gente não faz a mesma coisa, não usa do mesmo mecanismo de equívoco do não-enxergar com outros aspectos e circunstâncias ao nosso redor, sem perceber-lhes a importância, a vitalidade e a necessidade que temos delas? O que um "insignificante" nariz não nos fomenta a pensar? E aí?....quem manda em quem mesmo?! Rsrsrsrsr :)


Saiba mais: