sábado, 8 de fevereiro de 2014

SININHO E O GRILO FALANTE

Partilhar
É, perdemos a capacidade de enrubescer, a capacidade de nos balizarmos por uma diretriz que nos ponha limites e que nos caracterize, como pessoas, com esse ou aquele estilo de caráter ou  comportamento.
O mundo das crianças está repleto de reálias que serviriam, muito competentemente, para nós adultos, analisarmos nossa própria trajetória, as mudanças que nos ocorreram, não só no corpo, mas também na alma e na forma de encarar a vida. Percepções essas, que nos fariam compreendermo-nos melhor e tomarmos decisões, em nosso dia-a-dia, sob outros parâmetros.
Os contos de fadas podem ser uma dessas reálias, nas quais podemos pinçar personagens que nos façam refletir. Sininho e o grilo falante são dois deles. Consciências externas e guia, nas horas difíceis, de Peter Pan e Pinóquio, respectivamente, funcionam como protetores, impositores de limites, conselheiros e guias na construção do caráter. Até não serem mais necessários, seja porque cumpriram a sua missão ou porque foi perdida a capacidade de ouvi-los.
Os ensinamentos que nos dão estrutura emocional e social  para a vida estão sempre em movimento, talvez porque à medida que vamos alçando maturidade e compreendendo melhor as conexões das circunstâncias que nos cercam, elas vão se elasticizando, mas continuam tendo uma coluna vertebral, um cerne, um veio sobre o qual se alicerçam e são convencionados, e que nos dão a noção padrão para a convivência em sociedade do certo e do errado - relativizados circunstancialmente. E à medida que vamos crescendo esse arcabouço fica, e é nossa consciência interna, aquela que nos baliza e que, quando seguimos sua diretriz somos felizes, mesmo sendo os mais otários do mundo, e quando a ignoramos, nos ferimos, nos incomodamos, mas fingimos que não e inventamos boas desculpas para nos livrarmos da sensação.
Estamos perdendo a orientação, o eixo norteador de nós mesmos e de nossos valores sem a menor vergonha. Quando somos pegos numa situação cabulosa não coramos mais.... e ainda emitimos aquele risinho de canto de boca. Não ouvimos mais aquele sininho que nos alerta que passamos do limite. Matamos nossa consciência e a nossa lealdade para conosco mesmo e nossos valores em nome de nada, só para não destoar.
O que esquecemos é que quando fazemos isso estamos pisando em nós mesmos, elevando diante de nós o outro, em detrimento de  nós. Quando não mais nos envergonhamos por equívocos cometidos, fabricamos nossas doenças, a somatizáveis e as espirituais. Talvez a gente precise aguçar mais os ouvidos para ouvir a nós mesmos, pois ainda temos muita coisa a nos ensinar, só não fazemos silêncio o suficiente para prestar atenção.
Enrubesçamos, fiquemos em graça, passemos vergonha, escutemos nossa voz interna...isso não é coisa de criança, isso é um bom sinal na vida adulta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário