domingo, 15 de fevereiro de 2015

O "TUDO PODE" DO CARNAVAL

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O carnaval é uma festa mundial, que no Brasil tem suas peculiaridades. Foi aculturada aos nossos costumes ou à falta deles (rsrsr). É um período em que todos os muros e cercas de nossas normas comportamentais estão abertos e liberados. As sentinelas de vigilância do nosso verniz social tiram férias e o consentimento para chutar o pau da barraca e fazer em quatro dias o que não se pode fazer um ano inteiro, é oficial.
Multidões desfilam pelas ruas. Saem em blocos, escolas de samba, vão atrás do trio elétrico, sobem as ladeiras de Olinda e estão do jeito que "aquele" gosta. Se soltam, saem de suas gaiolas/casas, gaiolas/cascas e se permitem mais do que em outras épocas. No figurino pode tudo. Qualquer cor com qualquer cor, muito brilho, purpurina e muita alegria. A ordem do dia é, esquecer os problemas, o cotidiano de obrigações, as regras sufocantes e transgredir.
O exercício sadio da transgressão é excelente para a alma, bom para a sociabilidade e melhor ainda para os nossos grilhões internos, que tiram folga e param de atrapalhar. Mas o que não é de bom tom é transgredir o direito do outro. Transformar transporte público em lugar de afronta, banheiro, praça de guerra. Fumar em metrô, e com crianças de colo no vagão, subir em cima de patrimônio alheio (carros estacionados nas ruas), quebrar patrimônio público. Ser acintoso com quem está quieto e não gosta de brincar o carnaval. Quem não curte a festa sai de casa para fazer sua atividades cotidianas e seus direitos civis não foram suspensos para que fiquem confinados em seus lares como se em prisão domiciliar, tem o direito de ir e vir.
Nesse período as tragédias dobram em quantidade de ocorrências e em nível de gravidade, em todos as categorias, dos mais banais furtos e desentendimentos até mortes. A culpa é do carnaval? Não. A culpa é do indivíduo que se aproveita da liberação das rédeas para se exceder em todos sentidos e cometer seus delitos. Colocamos na conta do carnaval, quando na verdade, essa radiografia fica na conta da falta de educação para o convívio social sem as normas de repressão e com um conceito equivocado de coletividade.
Esse mesmo folião que não respeita seu igual, entra e sai dos lugares durante os outros 360 dias do ano, integrado ás normas. Preso a elas, algemado a regras que não entende, não compreende, não aceita e as cumpre por puro adestramento. São pessoas acuadas por trás do "não pode", com raiva engasgada e jogando para debaixo do tapete todos os sapos que não conseguem engolir, todos os dias, fingidos de virtuosos e com vontades trancadas à sete chaves. Aí vem alguém é diz..."daqui até quarta-feira a porteira esta aberta e pode tudo!!!!" ...ferrou! A galera sai desembestada para fazer em quatro dias o que não consegue fazer o ano inteiro, comemorando a queda da bastilha de todos os pudores, a liberação das repressões criadas a pão de ló e em cativeiro.
Em contrapartida, tem folião que sabe brincar, que está sempre ligado ao seu entorno, respeita o outro e se desvia de confusão, vai e volta, construindo um carnaval melhor para amanhã.
Quiçá, tenhamos um dia, um carnaval em que tudo seja só samba, alegria e o colírio das artes plásticas dos desfiles para os nossos olhos, com pessoas brindando a vida e a existência, e que seja mais uma data de reunião com os amigos e familiares para se brincar de verdade. Desarmados de todos os medos, e desinstitucionalizando todas as práticas violentas, convivendo com o desagradável na medida do aceitável. Sonhar demais?! Não. É disso, e assim que são feitas as realizações.
 
Muita alegria e BOM CARNAVAL! para quem é de carnaval.
Para quem não é, BOM DESCANSO!


domingo, 8 de fevereiro de 2015

FASCINAÇÃO

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A palavra fascínio ou fascinação está para o pobre mortal como a água está para o óleo. Talvez, por ser de uma pronúncia elitista, que beira o chique, o inalcançável, e propor um estado de êxtase por algo imensamente maior. E por  quase  não existir no dicionário cotidiano de todos nós.
Depois de eternizada em nome de música então....a gente se distanciou de vez. E colocamos o fascínio no altar dos elevados, ele ganhou status de nobreza com poesia, e é como se a nós não pertencesse mais. Como se, o tal, tivesse dono, tivesse sido arrendado, e sob o qual não temos mais o direito da apropriação.
O fascínio foi institucionalizado. E a nós, somente, cabe os chinfrins "encantamento" e "deslumbramento". Ambos dão uma noção de sermos possuídos, uma sensação de que perdemos o poder sobre nós, uma impressão de que sofremos de "abestalhamento" O "encantamento" é papo de bruxa de contos de fadas, e o "deslumbramento" parece estado de quem se queda de boca aberta por qualquer coisa. O fascínio não, se impõe como um poder de envolvimento com inteligência, cheira a conquista negociada, em que os vencidos se dão por vencedores. O fascínio é um processo de engendramento de nós com a coisa fascinante, e com consentimento. Como se decidíssemos ficar ali, de livre e espontânea vontade, se deixando embeber pela energia que nos envolve, prestando atenção ao que sentimos e gostando do que sentimos. No fascínio o que brilha aos nossos olhos recebe o nosso consentimento depois de passar pelo nosso filtro de inteligência.
Desinstitucionalizar a fascinação, usar e abusar dela, é viver melhor. As receitas médicas deveriam prescrever: "fascinação 3x ao dia de 8 em 8 horas durante toda a vida".
 
FASCÍNE-SE!
E o resto deixa pra lá!