domingo, 24 de abril de 2022

Ampliação de consciência

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fonte: veganagente.com.br


"De todos os animais, o homem é o único que é cruel. É o único que inflige dor pelo prazer de fazê-lo." (Mark Twain)


Desde que o mundo se mostrou para nós como o quintal de nossa casa - da globalização para cá - estamos mais próximos dos acontecimentos, ficamos sabendo de notícias e fatos em tempo real, temos mais poder no mundo da informação - para o bem e para o mal -. A partir da tessitura dessa complexidade e por conta dela, tem surgido movimentos de conscientização de toda espécie. Seja sobre questões socio-históricas (decolonização), questões identitárias (como as de gênero) questões econômicas (como o neoliberalismo e a luta de classe para além das salas de aulas), ambientais (mudança climática, ) etc. Entre esses movimentos de conscientização está o veganismo.

Este movimento ativista se posiciona pela libertação animal, é movido pela compaixão e se ocupa de conscientizar a humanidade (sim, é essa a pretensão) sobre o que estamos fazendo com seres sencientes sem sequer nos darmos conta. Então, os ativistas nos aproximam de realidades veladas com o objetivo de que, através dessas informações tomemos a decisão de compactuar com elas ou não. Sim, É UMA ESCOLHA. A abordagem do movimento ultrapassa o âmbito da alimentação e se estende para os usos cotidianos dentro do possível e do praticável abarcando, também, questões ambientais.

Hoje, tem-se um movimento organizado, que cresce bastante por questões óbvias de nosso tempo (gases de efeitos estufa, desmatamento para plantio de alimento para gado e abertura de espaço de terra para pastagens, para além do bem-estar e dos direito animal) que são interseccionalidades com a causa. Mas, o movimento se baseia na causa animal sob a égide da compaixão. Logo, é um movimento de despertar para a existência do outro - sim o outro pode ser de outra espécie - principalmente porque esse outro não pode se defender dentro dos parâmetros que designamos como possibilidades e condição para defesa. (falar, reclamar, abrir um processo jurídico, questionar, argumentar, etc.). Então, esse é um exercício de empatia. Um exercício que incomoda porque vamos beliscar a nossa  indiferença, como sociedade, para com aqueles seres. Isso nos coloca numa posição de vilões que não queremos ser, na condição de recusa dessa denominação. Por isso, a conscientização.... porque se você sabe o que é, o que acontece, como é, e continua na sua ação você aceita e assume a denominação e o faz com consciência. Mas, a coisa é ainda mais complicada. às vezes sabemos e não conseguimos nos libertar dos costumes. O que nos leva a refletir sobre uma série de outros condicionamentos que nos enlouquece, nos mostra o quanto somos moldados por um sistema, pelo outro (hegemônico), e como isso nos tira do lugar de poder sobre nós mesmos.  Aquele poder que gritávamos aos quatro ventos que tínhamos. Olha a profundidade da questão!!! Olha onde ela nos atinge e para onde ela nos leva!!!

Por isso é importante a compreensão de que esse saber doloroso implica num processo, um processo de amor. Não só de amor pelos animais mas de amor por nós mesmos. Não podemos falar de um movimento de compaixão que acusa, que vilipendia o outro. O objetivo é a CONSCIENTIZAÇÃO, CONSCIÊNCIA + AÇÃO e tudo isso movido pelo amor e compaixão. É bem verdade que os animais têm pressa, que devemos o quanto antes desapegarmos de nossos condicionamentos e pararmos de financiar seu sofrimento, são bilhões por ano. Então é urgente pensarmos sobre isso, falarmos sobre isso e agirmos sobre isso.

Neste compasso, vamos passear pelo alvorecer desse olhar até os nosso dias. É uma história filosoficamente linda, de coragem, de visionarismo  e ousadia. Assim como o nosso caminho na humanidade....a passos lentos. 

Pitágoras (570 ac - 495 ac) e Siddhartha Gautama (563 ac - 483 ac) já pensavam a respeito do tratamento que dávamos aos animais antes mesmo da indústria alimentícia surgir. Antes mesmo de Cristo nascer. O poeta romano Ovídio assim registra em sua obra "As Metamorfoses" o pensamento de Pitágoras  

Pitágoras - Fonte: Wikipedia.org

"Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca, conhecerá a saúde e a paz. Enquanto homens continuarem massacrando animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade o que semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor"  (Ovídio, In: Metamorfoses)

Siddhartha Gautama (563 A.C - 483 A.C), o buda que conhecemos da História do budismo, é mais ameno e menos contundente, mas não menos incisivo: "A única coisa que precisamos dos animais é o perdão". (In: The teaching of Buddha)

Quarenta e seis anos depois de Cristo nasce o historiador Plutarco que também se ocupou de falar sobre a questão do consumo de carne em seu Discurso I - "Do consumo de carne":

Plutarco - Fonte: Becodasplavras.com


"(...) aos inocentes, aos mansos, os que não têm auxílio nem defesa - a esses perseguimos e matamos - só para ter um pedaço da sua carne, os privamos da luz do sol, da vida para que nasceram. Tomamos por inarticulados e inexpressivos os gritos de queixumes que eles soltam e voam em todas as direções." (Plutarco. In: Obras Morais)

Interessante percebermos que isso tem quase dois mil anos e se manteve assim, sendo, ainda, otimizado e ampliado com a aumento populacional. Naquela época não tínhamos um indústria 24 horas com alta tecnologia e bilhões de animais, mas a essência já era a de dominação, e de uso dos animais como coisa.
Viajando mil e quatrocentos depois e encontrando Leonardo Da Vinci (1452-1519), sem papas na língua, registrando anotações em seus cadernos de anatomia, onde discorre sobre a fisiologia alimentar humana e a astúcia na manipulação de animais para nossa alimentação, dizendo, com todas as letras, já naquela época,  que o homem, sem necessidade, se transforma em sepultura de animais apesar da natureza fornecer ricamente alimento suficiente, dizendo o quanto essa atividade é desnecessária, Da Vinci disse sobre a nossa ardilosidade:

Leonardo Da Vinci - Fonte: Cartacapital.com


" (....) Além de ajudá-los, aproxima-se deles para que possam gerar filhos que saciem seu paladar. assim criando sepulturas para todos os animais. E devo dizer mais, se me for permitido dizer toda a verdade: não acha que a natureza já produz alimentos o suficiente para que se satisfaça?" (In: Quaderne D'anatomia I/VI)

Nessa mesma contemporaneidade Michel de Montaigne (1533-1592) ao publicar em 1580 seu livro "Ensaios" onde ensaia a si mesmo e traça paralelos entre as sociedades daquela época e as históricas ligadas à ela e seus aspectos culturais de forma crítica, ele faz um apanhado geral do percurso desde as arenas romanas com espetáculos de mortes de animais entre si, com a extensão desses espetáculos aos homens com o advento dos gladiadores, que se matavam uns aos outros, e as manifestações da natureza bestial dos animais humanos e animais não-humanos. Nesta obra, reeditada em 2010 pela editora Companhia das Letras Michel Montaigne, diz:

Michel Montaigne - Fonte: aleteia.org

"Em Roma, depois de acostumarem-se aos espetáculos de mortes dos animais, chegaram aos homens e aos gladiadores. A própria natureza, temo, fixou no homem um instinto de desumanidade. Perdera-se o prazer de ver as outras espécies brincando entre si e acariciando-se; ninguém deixa de senti-los ao vê-los dilacerarem-se e desmembram-se. Os animais foram sacrificados pelos bárbaros para os benefícios que deles se esperavam."(In: Ensaios)

Notemos que, até a abordagem com o passar dos séculos foi se endurecendo, foi se tornando mais materialista. A abordagem de Pitágoras passava pela felicidade, pela condição de se ter alegria, paz, amor; a de Plutarco pela rudeza da ação humana de exploração e uso, a de Da Vinci pela dureza da acusação de atos tortuosos e pelo apontamento como sepulcros, chegando por fim a Montaigne que se detém na crueldade pura e simples aventando a possibilidade de isso ser um  advento inerente à condição humana. 
Chegamos ao Século XVIII, momento histórico de muitas transformações, a revolução industrial que começara em 1760 e que por ser tecnológica e precisar de 'rearranjos' políticos durou 80 anos, tendo sido considerada como estabelecida em 1820 e comportando dentro de si a revolução francesa (1789-1799), que promoveu um terremoto político para que as transformações econômicas advindas do desenvolvimento industrial pudessem ser impetradas, e com isso reestruturar toda uma sociedade em seus aspectos constituintes. Neste contexto surge Jean- Jacques Rosseau (1712-1778) com sua obra " O Bom Selvagem" apostando na boa alma existente em algum lugar recôndito no homem social, esse novo homem que vem trazer à tona os valores morais e éticos de um novo tempo. Aposta na razão e no poder de 'adonamento' que o homem tem de si, mergulhado num romantismo que se estenderá até o século XIX e se emaranhará inclusive na literatura.  Rosseau, então, diz:

Jean-Jacques Rosseau - Fonte: freemason.pt

"Envolvido num turbilhão social, basta que ele não se deixe arrastar nem pelas paixões, nem pelas opiniões dos outros homens; veja ele pelos seus olhos, sinta pelo seus coração, não o governe nenhuma autoridade, exceto a sua própria razão" (In; O bom selvagem)

Sabe nada, inocente! Essa é uma aposta e tanto no ser humano. Mas, na esteira de romantismo embricando-o com o utilitarismo que estava surgindo com as mudanças culturais por conta do novo modo de produção, o filósofo e jurista Jeremy Benthan (1748-1832) foi mais longe, e deu o ponta-pé inicial ao que mais tarde se chamaria de especismo qualificando de racismo esse exercício de superioridade dos homens em relação aos animais de outras espécies. Em sua obra de 1789 "Introdução aos princípios, à moral e à legislação" (An introdution to the principles and morals and legislation). Benthan diz: "O problema não consiste em saber se os animais podem raciocinar; tampouco interessa se eles falam ou não; o verdadeiro problema é este: Podem eles sofrer?"  
Chegamos, então, ao século XIX. Momento em que já havia acontecido os movimento que instauraram uma nova realidade econômica e política no mundo. As monarquias cairam, o regime feudal foi para o vinagre. Agora a burguesia estava estabelecida e em ascenção. Os teóricos políticos, econômicos e filósofos já sinalizavam sobre as possibilidades dos limites desse novo modo de produção fazendo análises levando em consideração esse nosso caráter de exploração e usos espúrios dos mais fracos. A revolução industrial estava de vento em popa, com produções em série, o fomento ao consumo etc. nesse contexto os que falam sobre alimentação e compaixão são inseridos na corrente 'romântica' da vida e o vegetarianismo foi considerado um romantismo idílico. Essa época de crescimento da indústria iniciava um processo de aumento de animais mortos em série devido ao crescimento populacional e das cidades, mas não tanto quanto hoje. 
Esse momento histórico traz à tona o surgimento de obras literárias que abordam o tema, e o que se vê é o recrudescimento (para os parâmetros da época) de ideias mais contundentes sobre uma alimentação sem animais e de origem vegetal. É dessa época a publicação da obra de   Joseph Ritson em 1802, intitulada: "Um Ensaio sobre a abstinência de animais na comida como um dever moral" (An essay on abstinence from animal foods: as a moral duty). Em 1811, John Frank Newton publicou "O retorno à natureza ou a defesa de uma dieta vegetal" (The return to nature or a defense for the vegetable regimen). Mas, o mais célebre deles, nesta época, foi o poeta inglês Percy Bysshe Shelley que, em 1813 publicou "A reivindicação de uma dieta natural" (A vindication of natural diet), seguido de William Lambe que, em 1815, escreveu "Água e dieta vegetal" (Water and vegetal diet) simples assim. A questão era que Lambe era médico, ou seja, uma autoridade. E isso mudou tudo. Ele endossou o discurso vegetariano como não prejudicial à saúde. Isso em plena Inglaterra do século XIX. O marco que tornou mais visível. As ideias de uma dieta vegetariana abarcou um número maior de pessoas com a publicação do livro de literatura "Frankstein" (1818) de Marie Shelley (esposa de Percy) em que o monstro composto de pedaços humanos, criados por Victor Frankstein é vegetariano e fala sobre isso aos seres humanos como uma mostra de sua pacificidade:

Marie Shelley - Fonte: quintacapa.com.br

"Não tenho que matar cordeiro e cabra para saciar meu apetite. Bolotas e bagas são suficientes para minha alimentação. Minha companheira vai ser da mesma natureza que a  minha, e vai se contentar com o mesmo que eu. Faremos a nossa cama de folhas secas; o sol vai brilhar sobre nós da mesma forma que brilha sobre os homens e vai amadurecer a nossa comida. A imagem que apresento a você é humana e pacífica." (In: Frankstein)


Com a força que essa abrangência de áreas - jurídica, médica e literária - apresentou para a sociedade inglesa, falando sobre o bem-estar animal, surge a primeira  Sociedade Vegetariana do mundo em 1847 presidida pelo médico James Simpson (1811-1870). Recebeu, então, apoio do cristianismo, por ter como base de ideias, a compaixão. 
Em 1850, o presbiteriano Sylvester Graham criador das bolachas/biscoitos 'Cracker' funda, nos Estados Unidos da América, a Sociedade Vegetariana Americana, inspirada na culturas religiosas budista, hinduísta e jainista. Sempre partindo do amor como premissa e não como dogma. 
O bichinho do amor já havia contagiado dois continentes, a ação, agora, era de aprofundamento dessas questões e assim se deu. O escritor inglês Henry Salt (1851-1939) que defendia reformas sociais e entre elas a do tratamento de animais, postulava o vegetarianismo ético influenciado pelos estudos do advogado especialista em ética Mohandas Karamchand  Gandhi sobre o vegetarianismo. Estudos esses que são considerados o pai dos direitos dos animais. Em 1892, Salt publicou o livro "Direitos animal: considerações na relação progressista social" (Animal Rights:  considered in relation to social progress) em que bota fogo no parquinho e critica a não vinculação da dieta vegetariana aos âmbitos da ético-políticos, se referindo ao consumo de ovos  e leite como não-éticos,  pois acreditava que isso corroborava para a continuação da exploração animal e assumia que esses alimentos faziam parte indispensável da alimentação humana, o que na visão de Salt, não era verdade.  Com isso , o escritor peitou a Associação  Vegetariana  inglesa que, naquela época já tinha mais de cinco mil membros. Salt defendia a conservação natural do meio ambiente e a necessidade de sua  proteção do vandalismo comercial, se revelando um verdadeiro visionário. A partir daí, cria uma liga contra crueldade animal nos esportes, como a caça, por exemplo. Sua contundência conduziria a atenção do, então, conclamado 'bem-estar animal' para o DIREITO ANIMAL. Esse movimento foi chamado de quebra epistemológica (Epistemological break). No livro "Animal Rights", Salt diz:


Henry Shakespear Stephens Salt - Fonte: henrysalt.co.uk

"A noção de que a vida de um animal não tem propósito moral, pertence a uma classe de ideias que não podem ser aceitos pelo pensamento humanitário avançado dos dias atuais - é uma suposição puramente arbitrária, em desacordo com o nosso melhor instinto, em desacordo com a nossa melhor ciência e absolutamente fatal. ( se o assunto for claramente pensado) para qualquer realização plena dos direitos dos animais. Se vamos fazer justiça às raças inferiores devemos nos livrar da noção antiquada de um 'grande abismo' fixado entre elas e a humanidade. E devemos reconhecer o vínculo comum da humanidade que une a todos os seres vivos numa fraternidade universal." (In: Animal Rights)

Isso, porque Salt não fazia ideia do que seria hoje, em pleno século XXI,  a indústria da exploração animal. E por terras brasileñas, o que estava rolando?... 
Em 1914, o jornalista paraibano Carlos Dias Fernandes escreveu o livro "Proteção aos animais" na obra ele enfatiza ao papel do ser humano, como um ser dotado de uma  consciência mais ampliada à proteção dos animais e não à sua subserviência, Com isso o jornalista criou desafetos, inclusive no meio médico, com aqueles que defendiam  a necessidade do consumo de carne para a saúde humana. Em sua defesa saiu o, também, médico e  higienista Flávio Ferreira da Silva Maroja especialista em educação sanitária publicando um artigo no jornal "A União" em 30/08/1916 intitulado: "Hygiene alimentar: regimen vegetariano e regimen carneo, confronto de opiniões, como penso a respeito." Em 1917 é criada a Sociedade Vegetariana Brasileira e sobre isso Fernandes se pronunciou, dizendo "Vai ganhando surto em todo mundo civilizado o regime vegetariano como solução prática do problema moral  econômico e terapêutico dos povos (...) vegetarianismo quer dizer vida de acordo com a natureza."

O mundo ainda não estava pronto para o veganismo. O que inclui as questões dos direitos animais, da saúde, da ética e do meio ambiente. Porém, 27 anos depois, em 1944, a despeito de tudo o que se cogitava na época, em plena Segunda Guerra Mundial, o marceneiro Donald Watson - secretário da Sociedade Vegetariana de Leicester, na Ingaterra - tentou garantir um espaço no editorial da instituição para discussão do tema. Como a proposta não foi aceita ele reuniu cinco vegetarianos éticos no Attic Club em Londres para discutir a criação do veganismo como um aperfeiçoamento do vegetarianismo. O grupo sofreu resistência, mas aguentou firme cunhando um termo novo "VEGAN' e fundaram a "The Vegan Society" que tinha uma mulher como co-fundadora Elsie Shringley. O boletim informativo da Sociedade vegana o "Vegan News" foi criado e, a partir daí, grandes nomes aderiram ao movimento ético-filosófico que tem muitas interseccionalidades (meio ambiente, saúde, ética, compaixão, questões de classe, etc.) O dramaturgo e escritor George Bernard Shaw que estava entre os leitores da primeira edição parou de consumir leite e ovos quando soube do que envolve a produção desses insumos e escreveu em seu diário: 

George Bernard Shaw - Fonte: amenteemaravilhosa.com.br

"Os animais são meus amigos...eu não como meus amigos. Enquanto formos túmulos vivos dos animais assassinados, como poderemos esperar uma condição ideal de vida nessa terra? (...) quando um homem mata um tigre ele chama isso de esporte, mas quando um tigre mata uma pessoa, dizem que isso é ferocidade". (George Bernard Shaw)

Em 1945 o boletim passou a chamar "The Vegan" e contava com mais de 500 assinantes, A partir desses movimentos Fay K Henderson começou a publicar receitas veganas num livro chamado "Vegan Recipes" (que é vendido até hoje) e Kathleen V. Mayo publicou "Aids to vegan diets for children". Em 1948 foi a vez de Katherine Nimmo e Rubem Abramovitz fundarem a "Vegan Society" na Califórnia. Em 1949 os objetivos estavam mais bem definidos, a prioridade seria pelo fim da exploração animal (alimentos, commodities, trabalho, caça, vivisecção). Surge, em 1956, a primeira empresa fabricante de leites vegetais a "Plant milk", na Inglaterra. Em 1960, H. Jay Dinshah criou a American Vegan Society aliando veganismo e Ahimsa (não-violência). Em 1962 o termo "Vegan" apareceu pela primeira vez em um dicionário. Em 1979, a Vegan Society aprovou seus objetivos e neles inclui o desenvolvimento e a criação de alternativas de produtos sem uso de animais beneficiando, também, o meio ambiente. Sendo o objetivo maior: PROMOVER CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A EXPLORAÇÃO ANIMAL.
Em 1994, ao completar 50 anos "The Vegan Society" instituiu o dia 1º de Novembro como o dia mundial do veganismo. Donald Watson em 2005 um pouco antes de falecer (aos 95 anos de idade) concedeu uma entrevista para George Roger, dizendo:

Donald Watson - Fonte: bbc.com

"É algo realmente grande que desconhecíamos quando criamos o veganismo, criticado por muitos, mas sobre o qual ninguém tem nenhuma prova contra." (Donald Watson em uma entrevista)

Hoje, lutamos para conscientizar as pessoas sobre a vilania da indústria da carne que mata animais 24 horas por dia, para consumo. São mais de 70 bilhões (70.000.000.000) de animais terrestres (sem contar os aquáticos) mortos por ano no mundo inteiro. Isso dá:
 - 5. 833. 333, 333 (cinco bilhões, oitocentos e trinta e três milhões, trezentos e trinta e três mil, trezentos e trinta e três) animais mortos por mês.
- 194. 444, 444 (cento e noventa e quatro milhões, quatrocentos e quarenta e quatro mil, quatrocentos e quarenta e quatro) animais mortos por dia
- 8. 101, 851 (oito milhões cento e um mil, oitocentos e cinquenta e um animais mortos) por hora
- 135. 030 (cento e trinta e cinco mil e trinta) animais mortos por segundo.

Hoje, tirar animais e seus derivados do prato não é tão difícil quanto foi em 1944. Hoje, temos uma gastronomia que inventa mil e uma receitas que facilitam a transição. Comer sem carne sai mais barato do que se alimentar de carne, principalmente se a opção for por vegetais in natura (sem pratos processados, gourmetizados, vamos falar sobre isso no texto: "Mitos do veganismo").

Pense a respeito!


"Não é sobre fechar a boca, é sobre abrir o coração" 
(autor desconhecido)



REFERÊNCIAS



CANDID Hominid (História do veganismo)

INTERNATIONAL Vegetarian Union.  (Onde estavam os veganos no mundo antigo?)

TIME, Revista. (A História do Veganismo)

VEGAN Society The (a história da sociedade)





sexta-feira, 8 de abril de 2022

CONFISSÕES PANDÊMICAS

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Fonte: seedsbrasil.com

Não, não sou das redes sociais, nem meu espírito, nem minha geração. Mas, sim, sou das contextualizações, dada às adaptações, sou aquela que sabe que a vida segue em frente e que sempre temos muito a aprender. Que as novas gerações, com sua maneira de pensar, seu modo de ver o mundo e sua tecnologia (vide o vale do silício) têm muito a nos ensinar. Então, se as redes sociais são o que temos para hoje para existirmos, mesmo com todos os prós e contras, que seja! 

Esse espaço - o Conversa Afinada -  sempre foi esporádico, aqui se fala sobre os modos de ver o mundo, sobre poesia, filmes, sobre educação do caráter, da espiritualidade e de atitudes cotidianas que podem mudar nossas vidas, e consequentemente, o mundo. Enfim, de coisas que nos deslumbram, coisas boas, vibrações do bem que merecem ser registradas para refletirmos.

Há dois anos e três semanas me tornei vegetariana estrita (sem consumo de qualquer produto de origem animal na alimentação). Há dois anos iniciei um processo de limpeza de toxinas e de saúde plena, que já se apresentavam como necessidade, e que foram impulsionados pelo advento da pandemia. Há dois anos vejo o mundo diferente, sei de coisas que não sabia antes, desenvolvi sentimentos (amor, compaixão) por seres que jamais imaginei, desenvolvi atitudes que nunca ser ser capaz de praticar e tenho testemunhado seus efeitos em mim e no meu entorno. E isso tem me conectado com algo maior do que eu. Depois desse tempo de isolamento quase distópico, de convívio comigo mesma de uma forma muito diferente do que havia 'experienciado' antes; assimilando experiências pessoais muito profundas criei coragem para falar sobre isso. Sobre o quanto esse período sui generis me mudou e o que significou deixar de consumir a carne dos outros, seus flúidos e células-ovo; o que significou na minha saúde e na minha forma de ver e sentir o mundo o não consumo do outro e de todos os processos de sofrimento pelos quais passam, e o que foi o processo doloroso de ver/saber/conhecer  isso. Paul Maccartney diz que: "Se as paredes de um matadouro fossem de vidro, ninguém, jamais consumiria carne". Concordo, pois o que os olhos não veem o coração não sente. Mas, será que aquilo que os olhos não veem a alma não sente? os corpo vibracional de nossos corpos físicos não sente? O corpo físico não reage? (vou deixar um vídeo no final do texto sobre saúde na alimentação)

Somos os indivíduos que querem que tudo seja provado, demonstrado, fotografado dentro dos nossos parâmetros epistemológicos para que acreditemos. Sabendo que nosso conhecimento de mundo são EXPLICAÇÕES de mundo dentro de nosso arcabouço de conhecimento dele. Ou, seja, é invenção, é criação dentro do contexto do que sabemos (que pode mais tarde se demonstrar que não era nada disso). Mas, hoje, aquilo que nossas 'explicações' não dão conta, não serve. Não é porque não vemos o sofrimento de 'alguém' que esse sofrimento não existe. Mas, o que eu fizer para acirrar esse sofrimento, mesmo que eu não saiba que é sofrimento, não deixa de ser cumplicidade. O que muda é a responsabilidade. Se eu não sei o que significa o que fiz, não posso ser responsabilizada. Mas se eu sei o que é, se me tornei sabedor do sofrimento, dos tipos de sofrimentos (são vários: físicos, psicológicos e de dignidade) e do meu papel nesse processo, passo, sim a ser responsável pelo que lhe acontece. Alguém pode me argúir sobre quem me impinge esta responsabilidade...possivelmente, uma lei que está além do nosso arcabouço de 'explicação' de mundo e que em algum lugar recôndito dentro de mim ela se manifesta e grita; e eu abafei e fingi que não sentia e fechaeios olhos para não ver alguma coisa que a eu já tinha desconfiado, ou vislumbrado. Será que por ser tão onírico deixa de ser uma possibilidade de verdade? Esse foi o processo pelo qual passei a partir do dia 11/03/2020.

Por conta da declaração do caráter sanitário pelo qual passamos fui buscar as relações do ser humano com os animais e a natureza (sei que os que me conhecem podem estar pensando...Mas, Sonia, tu és tão inteligente, tão bem informada, não sabias? Não, não do jeito que é) Assim como todo mundo, mesmo sabendo que a propaganda é o cão vestido de anjo, eu comprava a ideia da vaca feliz, dos ovos de fazenda, da pesca solitária (eu sei que parece ingenuidade, mas é não querer saber, é ser ludibriado pelo paladar e pelo costume), não sei se por preguiça, comodismo, falta de tempo ou tudo isso como desculpa - eu tinha outras prioridades - nunca fui buscar, nunca fui pesquisar. Quando o fiz - e a pandemia me deu tempo suficiente para isso - a minha imagem de mim para mim mesma foi para o ralo. Me senti a pessoa mais imbecil do mundo, uma pessoa metida a inteligente e curiosa que tendo todo o acesso a informação de qualquer lugar do mundo, eu era cúmplice dolosa de crueldade e de sofrimento, quiçá, do maior holocausto animal da História do planeta. Me cobri de vergonha, desolação e culpa. Creio que o período de pandemia, para mim, foi o momento mais pesado da minha vida, o momento de 'mea culpa' por várias encarnações. Chorei por dois dias, passei esse período de cara inchada, sofri de verdade. Os vizinhos perguntavam: "Está tudo bem?" Não, não estava. Nem para mim, nem para ninguém, por motivos diferentes. Mas todos dentro do mesmo espectro: o desrespeito à natureza e à vida por parte de toda humanidade em níveis e intensidades diferentes, conscientes disso ou não. 

Seis meses depois estava mais leve (literalmente), mais saudável (fiz exames para atestar isso), mais amorosa, mais compassiva, menos raivosa, menos rancorosa, mais focada e mais espiritualizada (não me refiro a religião) e querendo compartilhar com outras pessoas da possibilidade dessa visão e modo de estar no mundo. Nessa mudança pela qual estamos passando como humanidade planetária, como sociedade, como indivíduos; nessa ampliação de consciência para o que está em nosso entorno -  o outro, a natureza, o meio ambiente -  e suas conexões, ter um espaço que possa ser fomentador de ideias novas, propositor de diálogos e  conversas sobre temas como mudança de hábitos nocivos a nós, à natureza, aos animais e ao meio ambiente é como uma chance de expurgar minha culpa pela indolência na busca de informação durante tanto tempo e por causar tanta dor desnecessária. 

Sim, depois de dois anos de processo de transformação me tornei ativista do direito dos animais e pela vida do planeta. Como boa cinquentona, serei mais comedida, polida, menos contundente, mas nem por isso menos astuta. E sempre grata  ao Cosmos pela oportunidade de fazer esta mudança ainda em vida nessa encarnação e ter a coragem e os instrumentos para lutar por isso com compassividade, é claro. A partir de agora vou compartilhar com vocês as minhas reflexões sobre o tema. Qual? MUDANÇA. Mudança em todo os seus aspectos, na alimentação, no lazer, na vestimenta, no uso de produtos de higiene e limpeza e na maquiagem; mudança de consciência, perceber mais o que está o nosso redor, olhar com outros olhos para tudo, principalmente para o planeta, essa mãe que nos dá o alimento, as condições de vida e o corpo de que dispomos até devolvê-lo a ela.  Por conseguinte, esse é o momento de declarar a maior das mudanças por aqui. Acompanhando a energia do planeta e das novas gerações o CONVERSA  AFINADA e essa vos escreve, a partir de agora é um blog e uma editora VEGANOS. As publicações anteriores serão mantidas como um rastro do caminho percorrido até aqui, um registro do meu processo de maturidade em todos os sentidos, desde os temas à escrita e suas formas, passando pelo desenvolvimento como pessoa, como cidadã, como profissional de educação e ser humano integrado às questões pertinentes à humanidade e sua evolução. 

Nessa vibe deixa eu contribuir para ampliação de consciência geral e para o conhecimento do nível de responsabilidade para com os nossos irmãos sencientes.  Abaixo deixo links, que descrevo um a um, sobre informações importantes para um melhor conhecimento de nossa realidade nessa ladeia global, desde informações médicas e nutricionais para uma alimentação vegetariana estrita até audiovisuais com informações sobre o trato com os animais na indústria da alimentação. 


Entrevista com o Dr.Erick Slywitch (CRM: 105.231 - Mestre em Nutrição, especialista em Nutrologia. diretor do departamento de Medicina de Nutrição da Sociedade Vegana Brasileira (SBV)).


Os links a seguir são de documentários - os que estão disponíveis no Youtube - e trailers - os que estão disponíveis em outras plataformas streamings -, eles foram adicionados de acordo com a nível de impactação de forma crescente. 

Seaspiracy. (Trailer do documentário disponível na plataforma streaming Netflix)


Cowspiracy (documentário completo)


A Carne é Fraca ( documentário completo)


Carne e Osso (documentário completo)


Domínio (documentário completo)


Terráqueos (documentário completo)