domingo, 28 de maio de 2017

PARA O ALTO E AVANTE

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Dizem que fugir é próprio dos covardes. Nem sempre. Se a correlação de forças é desproporcional é o melhor a se fazer. Neste contexto, fugir é para os ousados. Para os que acreditam em si, para os que ainda tem esperança,  Que o diga os refugiados.
Seguir em frente é para os que olham para o horizonte e dizem, ali é o meu lugar. Com conforto, sem conforto. Com risos, com lágrimas, com gente boa, sem gente boa, por lugares bonitos ou por lugares inóspitos sair do lugar é a ordem da vida .
A decisão de levantar acampamento nasce na gente, antes da gente saber que é isso. A saída estratégica pela direita ou esquerda (hoje é temeroso dizer isso) nasce na gente depois de se examinar todas as prerrogativas de possibilidades (ao menos as mais óbvias). A saga sem destino como opção só vem quando é a única possibilidade inegociável, cujas premissas foram analisadas e não tem jeito, ou se vai ou não fica nada.
O dia um do movimento de vida é o mais importante, é o da decisão. É aquele dia que você escolhe o que vai com você: Você. O dia um é o mais difícil, pois estando parado já se está em movimento. 
Não há nada mais assustador que o amanhã. E como é um prisma com mil lados, também não há nada mais esperançoso. É, também,  metáfora de fé. O amanhã  é tudo o que se sonha e o que se teme. O amanhã é o depositário quase que material de movimento. Do movimento da vida.
Viva o amanhã com tudo o que possa trazer!

Cena do filme: "Livre" (2015) de Jean- Marc Vallé

domingo, 21 de maio de 2017

O ÊXODO DE UM

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Assisti a um filme, certa feita, chamado "O Abraço da Serpente". Um apanhado de relatos de experiências de dois antropólogos em épocas diferentes que, do alto de seu cabedal científico não conseguiam perceber o quanto de conhecimento estava espalhado ao seu redor, sem catalogação nem categorização, pelo simples fato de operarem de formas diferentes.
Ali o que mais me chamou atenção foi a metáfora da bagagem. Um homem doente, semi-morto, procurando a cura para seu mal ou seus males, que não desgrudava de seus escritos, sua produção de conhecimentos científicos quase que se trocando por eles  sob as risadas de seu cicerone. Um índio tido como xucro - segundo seus ditames - mas que em relação àquele contexto tinha muito mais conhecimento.
Esse filme para mim, além de todos os atravessamentos que contém me impressionou aí. Naquilo para o qual fechamos nossos  os olhos, mesmo tudo estando diante de nós: a vida, as possibilidades, a natureza, a comunhão com ela, a integração com tudo o que também faz parte de nós para darmos crédito ao recorte: àquilo que uma sociedade nada saudável diz que é importante.
A preferência voluntária pela parte esquartejada e sem vida e, por vezes, equivocada em detrimento do todo também produz doentes. A negativa espontânea de não enxergar nos transforma em criadores de moinhos e inventores de um mundo sem conexão. Creio que seja esse o mecanismo usado por nós em nosso cotidiano, construindo nossas vidas, nos relacionado com as pessoas.Impingindo uma digital de alma ao mundo que, possivelmente, não é das melhores. 
Sempre fiz dos meus momentos de dor, aflições, perigos e incertezas o meu maior celeiro produtivo. O cosmo deve me odiar por impor tantas agruras. Deixar o que foi e seguir adiante produzindo outras bagagens é inteligencia. Produzir bagagens mais fáceis de carregar é sabedoria. Que Venham!



domingo, 14 de maio de 2017

A LUZ DOS OUTROS

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Todos os imbróglios da vida estão nas relações com os outros. A vida são as relações que temos com os outros. Quando conhecemos alguém, tudo o que a gente não faz é conhecer. A gente inventa, a gente imagina, fantasia, cria e, veste a carapuça no outro. As vezes disfarçamos lobos de ovelhas, as vezes raposas de galinhas. A vida e suas relações são um grande mistério. É ali que habita o que temos que aprender. E não nos enganemos, aprender poder ser prazeroso, mas também extremamente doloroso.
É um processo de descasque, de esfolamento do que a gente pensa que é. De descortinamentos dos véus que estão sobre o que se vê ou se acha que se vê. Uma lufada insuportável de luz nos olhos de quem estava acostumada à caverna. E não há nenhum lugar mais profícuo para o aprendizado do que  as relações que a gente faz ao longo da vida.
À medida que nos relacionamos vai caindo a ficha. Percebemos dissonâncias - mas nós também as temos - incompatibilidades, compatibilidades, psicopatias, domínios excessivos e 'largações' desprezíveis. Até que a gente se depara com o uníssono de incômodo que está presente em todos os humanos: a luz do outro. A luz do outro incomoda. Ela pode ser até menor que a nossa, mas incomoda. Quando não se consegue apagar, então?! Que pedra no sapato.
Os maiores problemas da humanidade em todas as esferas desde as mais importantes e poderosas  até as mais medíocres e corriqueiras são as luzes dos outros. Todas as travas que são criadas  para a nossa felicidade tem como objetivo limitar. Seja o progresso, o crescimento, o conhecimento, o prazer.... tudo, na humanidade, nesse nível evolução no qual nos encontramos tem como objetivo podar. Vivemos a era mesozóica da poda.
Quem tem coragem, foge e cultiva sua luz. Porque amor mesmo, é o amor próprio. Aquele que usamos como medida para percebermos o que recebemos e para mensurarmos o que vamos dar. Mas isso só acontece quando temos a nossa cota de estima de manutenção de nós mesmos, de nossos talentos e de nossos limites. Sejamos luz, sempre!