sábado, 26 de outubro de 2013

INIMIGOS

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Inimigos, ninguém se gaba de tê-los, ao contrário, nas entrelinhas do trato social dá-se a entender que boa pessoa não os tem. Hipocrisia!
Longe dos idos Shakespearianos em que se empunhavam espadas, ou dos westerns em que contava-se dez passos, um de costas para o outro, para depois atirar ou mesmo da frase: "escolham suas armas", inimigo hoje é algo muito mais ameno, mas não entrou em extinção.
Assim como mudou o conceito de amigo, o de inimigo também. Sabe aquele indivíduo que quer puxar o nosso tapete? Aquele cujo nosso santo não cruza? E que se  dermos mole perdemos a oportunidade de nossas vidas? Pois é, esse cara é nosso inimigo. Devidamente apresentados vamos à pendenga.
Os tais são raros, é... Nós não temos dez inimigos no mesmo lugar ao mesmo tempo, se observarmos direitinho ao longo da vida, talvez, não cheguem a dez.
Mas é Graças a esse cara que nós aprendemos a trabalhar em silêncio, foi por causa dele que nós aprendemos a nos defender, a prestarmos atenção ao nosso entorno, a apurarmos o olhar, o ouvir e a calarmos a boca. Foi graças a esse tal que nós aprendemos a  dar ouvidos à intuição, aquela ciganinha que fala no íntimo de todos nós.
Imagine nossa vida sem um inimigo?! Seríamos celerados, tontos, nos batendo uns nos outros sem objetivos, sem metodologia, sem precisão, sem foco....aleijados da felicidade. Mandemos flores para os nossos inimigos com um muito obrigado em letras garrafais :)

sábado, 19 de outubro de 2013

INTERSTÍCIOS

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As lacunas do não-dito, os espaços de suspenção, os hiatos de silêncios. Escutá-los, perscrutá-los é um exercício de atenção e de busca de entendimento do entorno e de interpretação de mundo.
Talvez não haja significação possível sem o silêncio, o silêncio que existe nas palavras não se traduz em palavras, o silêncio não fala, simplesmente, significa. 
Costumamos submeter o indizível, o não dizível, o inconfessável, aquilo que na tentativa de dizer é reduzido quase ao pó e que perde seu sentido, significado e magnitude ao verbal, ao escrito e apagamos a diferença entre eles;  designamos o silêncio como proibição do dizer e esquecemos que para dizer é preciso não dizer, que há significado no não-dito.
O silêncio, possivelmente, produz condições para as coisas significarem o que significam,  para terem a volatilidade de significados  que têm e para serem a possibilidade do dizer vir a ser outro. Esquecemos que antes de ser palavra, todo sentido já foi silêncio. O silêncio, provavelmente, constitui as ilusões e fabulações da linguagem e essa nos caracteriza incompletos, múltiplos, falhos e plurais.
Talvez exista  um ritmo no significar, como um balé de movimentos entre silêncios e palavras, silêncios e linguagens, como a música, a pintura e etc... quem sabe haja uma necessidade de silêncio na palavra que é diferente da necessidade de silêncio da música, que é diferente da necessidade de silêncio da pintura, e isso só afirmaria o caráter de incompletude das linguagens e de quem as inventa. É nesse conjunto de várias linguagens que nós significamos.
O silêncio tem um lugar particular, o entendimento do silêncio pode ser que seja aprofundar na fala, na escrita, no discurso, no pensamento um tempo de suspensão, de contemplação, de mudança, de vôo. Devido aos nossos barulhos internos e externos ficamos cegos e surdos  à necessidade e a importância do silêncio, de produzi-lo, de lê-lo e interpreta-lo e fazer dele um vale de possibilidades e brincar com elas. A significação, possivelmente, é um movimento de errância do sujeito, dos sentidos e exercício de uma liberdade de compreensão indescritível.
O que verdadeiramente importa está nos interstícios, nos intervalos, nos silêncios, nas ações que são sentidas, subjetivadas e pensadas com a alma; naquelas que fingimos serem secundárias, não importantes, mas que, por analogia, são tudo o que somos, tudo para o qual vivemos, tudo o que esperamos e tudo pelo qual vale a pena. O que tem verdadeira e cabal importância é o que não ouvimos, aquilo que passa despercebido.
Interstícios da significação de mundo, são esses espaços vazios que estão entre o que consideramos ser o principal, são essas lacunas com argamassa onírica que só se vê prestando muita atenção e tendo muita vontade de descobrir, apurando muito os sensores do sentir e limpando a percepção. Estar no sentido com palavras ou sem elas são modos diferentes se significar e de nos relacionarmos com o mundo, com as pessoas, com as coisas e conosco mesmo.
 
 

domingo, 13 de outubro de 2013

CLAREZA

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Não é de dentes que falo, posso lhes garantir
É da mente, da visão, da queda dos sete véus
Do brilho do mundo quando as nuvens dispersam
Da paisagem colorida quando a névoa vai embora
Da forma com a qual se enxerga a vida depois que a mágoa passa
Da perspectiva ampliada depois que se perdoa
Dos detalhes que se consegue ver quando se olha devagar
Da isenção que conseguimos ter quando estamos leves e não impomos nada
Da câmera lenta que nos invade quando sabemos que nada nos pertence
Da aceitação das coisas como são quando conhecemos nosso tamanho
Da resignação que nos invade quando medimos nosso poder parco diante  do mundo
....clareamento, clareza, aclaração, claridade... que seja!
É um estado único de presença de espírito no sentir o mundo
É o processo silencioso do despertar das nossas verdades pessoais que acomete os mortais uma vez ou outra na vida. Manter viva a lembrança desse estado é de suma importância para medir o nível de contaminação em outros.

Nota: Quero agradecer aos leitores do conversa afinada pela compreensão durante o período do festival de filmes do Rio, em que precisei do blog como vitrine de escrita. Aos que quiserem continuar lendo sobre cinema, o novo sítio é: http://cinemaemovimentoblog.wordpress.com/ . Voltamos às nossas reflexões cotidianas de sempre. Mil desculpas e muito obrigada!