domingo, 8 de novembro de 2015

OS CÓDIGOS E A NOSSA ESQUIZOFRENIA

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Nota: este texto é uma romantização histórica.
Quando saímos do nomadismo e deixamos a era das cavernas, nos fincamos num pedaço de terra demarcado perto de tudo o que nos possibilitasse sobreviver, e começamos a instituir regras que nos interessasse: 1) a manter o controle sobre o outro; 2) que mantivesse a organização do que já havíamos instituído. (possivelmente nessa ordem). E percebemos então, que a pasmaceira nos alcançara. A vida não tinha mais a graça e aventura do nomadismo: uma paisagem a cada dia, os perigos da trilha, a bola de neve dos acontecimentos que nos mantinham ativos e desenvolvia nossas potencialidades, principalmente as do movimento, já não existiam mais. E começamos a fossilizar. Logo, atrapalhar a felicidade alheia se tornou um bom divertimento, principalmente quando a justificativa era a de proteção da gente mesmo e das instituições que criamos, com o mesmo fim, é claro. Aí inventamos as normas e regras sociais, os "não pode". Para preservar o patrimônio: monogamia (não somos monogâmicos); para punir os instintos: as leis; para manter o controle das ações alheias na convivência social: os protocolos comportamentais. Que, inclusive, permitem banir, sem ser criticado, qualquer um que não se encaixe. E ai estava cristalizada  e oficializada a hipocrisia e o abuso de poder.
Se livrar de milênios de construções de falseamentos e buscar a felicidade nos entre-lugares  das normas e das regras não é fácil. Isso para não ser pessimista e aventar a sua impossibilidade.
Todas as regras de convivência, os meandros de sobrevivência e os modos de produção que nos impulsionam para o 'progresso' são contra os nossos instintos, nossa natureza e, por conseguinte, contra a nossa felicidade. Depois não sabemos de onde vêm tantas doenças, somatizações, mal-estares e fobias.
Somos nosso próprio inimigo. Amamos escondido e nos casamos com quem convém. Ensinamos a solidariedade e praticamos o egoismo. Condenamos o prazer e o vivemos debaixo dos panos como se fosse algo torpe. Instituímos um hospício a céu aberto e construímos um para colocarmos quem não aceita esse paradoxo ou não consegue administrá-lo. Que, na verdade são os verdadeiros sãos, que diagnosticamos como loucos.
A imagem acima é bastante representativa disso. Compreendo que deva ser uma placa, possivelmente numa área de aeroporto (isso se ela existir, pode ser um criação gráfica) mas ela serve para pensarmos uma série de aspectos sobre a nossa maneira de ver normas e regras. Os códigos são direcionados para o sujeito que tem capacidade de decodifica-los e obedecê-los, o que não se aplica ao pássaro, é claro, mas a quem possa enxota-los. O que a torna desnecessária e fora da realidade, Mas, um signo fantástico para metaforizar o quanto somos abusados em relação ao uso do poder e, ao mesmo tempo, a nossa natureza livre.
Bem aventurados os que se mantém pássaros, não pelo ato político da desobediência dos disparates que designam abuso de poder, mas pela manutenção do estado de analfabetismo em relação aos códigos e de liberdade em relação à vida.