domingo, 7 de abril de 2013

VÍRUS

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Certa feita, numa estação  de trens subterrâneos, assisti a uma cena que me deixou extasiada. Pra quem não sabe, tenho a mania de parar para observar/sentir cenas do dia-adia que sejam tocantes. Paro mesmo e fico bebendo daquelas emoções que não são minhas, mas tenho bom gosto só escolho as boas, aquelas que nos fazem melhorar, crescer e que fomentam em nós o que temos de bom. Ok! não sou normal!...continuando...um rapaz entre 22 e 25 anos embarcou num dos vagões, no que eu estava e, mesmo havendo um lugar vazio ficou em pé, tomando milkshake com um violão sobre as pernas e encostado na porta entre vagões. Um senhor, já bem idoso, apontou-lhe o lugar e disse-lhe: Senta! O rapaz fez que não com a cabeça e continuou a beber seu milkshake. O senhor insistiu, ele disse: não, se eu vir uma senhora não vou ficar sentado....PÁRA TUDO! 
Comecei a perscrutá-lo, esquadrinhei o pobre, à procura de uma simples expressão ou percepção de deboche, zombaria, desafio, afronta, superioridade  tipo: sou super cavalheiro ou de exibicionismo para com as damas.....o que fosse. O indivíduo continuava saboreando seu quitute com serenidade, tranquilidade no olhar, na postura corporal e naturalidade nas ações. Viajei....
Criei uma possível história de educação para aquela criatura, uma trilha de respeito construída numa família especial,  com um arcabouço de valores em desuso.  Que noção esse indivíduo teria do outro e consequentemente de si mesmo? Seja lá o que for que fizeram com ele, pelo brilho do olhar, não me pareceu traumático
Esperando que aquilo que vi fosse realmente fruto de educação, abençoei eu ter acordado, ter saído de casa e ter contemplado aquela cena, saí dali querendo salvar gatinhos em árvores, já houvera ganhado o dia e me emocionei disfarçadamente, se é que eu consigo fazer isso dessa forma. 
Ao inventar  essa história de alteridade, a partir de um  gesto, desejei que fosse quem fosse o responsável por aquela obra de arte da alma, tivesse o busto em praça pública com nome e sobrenome como um  referencial de que é com o que nos cabe que mudamos o mundo e tocamos as pessoas.
O jovem não sabe que foi a inspiração para este texto e não faz ideia do impacto que causou em mim. Assim são as nossas ações cotidianas, elas fomentam no outro o que o outro tem de bom, se a ação for boa. Os inspira, os leva pra outra dimensão no trato com as pessoas,  faze-os enxergar o mundo de uma outra forma. Que importa se é criação  ou não, o mundo é isso mesmo, criação. Tenhamos atitudes das quais possamos nos orgulhar e que façam com que os outros queiram imitar. ACREDITAR é outro tempero dessa salada de múltiplos sabores. Deixe esse vírus te pegar, ele é do bem. :)