sábado, 19 de outubro de 2013

INTERSTÍCIOS

Partilhar
As lacunas do não-dito, os espaços de suspenção, os hiatos de silêncios. Escutá-los, perscrutá-los é um exercício de atenção e de busca de entendimento do entorno e de interpretação de mundo.
Talvez não haja significação possível sem o silêncio, o silêncio que existe nas palavras não se traduz em palavras, o silêncio não fala, simplesmente, significa. 
Costumamos submeter o indizível, o não dizível, o inconfessável, aquilo que na tentativa de dizer é reduzido quase ao pó e que perde seu sentido, significado e magnitude ao verbal, ao escrito e apagamos a diferença entre eles;  designamos o silêncio como proibição do dizer e esquecemos que para dizer é preciso não dizer, que há significado no não-dito.
O silêncio, possivelmente, produz condições para as coisas significarem o que significam,  para terem a volatilidade de significados  que têm e para serem a possibilidade do dizer vir a ser outro. Esquecemos que antes de ser palavra, todo sentido já foi silêncio. O silêncio, provavelmente, constitui as ilusões e fabulações da linguagem e essa nos caracteriza incompletos, múltiplos, falhos e plurais.
Talvez exista  um ritmo no significar, como um balé de movimentos entre silêncios e palavras, silêncios e linguagens, como a música, a pintura e etc... quem sabe haja uma necessidade de silêncio na palavra que é diferente da necessidade de silêncio da música, que é diferente da necessidade de silêncio da pintura, e isso só afirmaria o caráter de incompletude das linguagens e de quem as inventa. É nesse conjunto de várias linguagens que nós significamos.
O silêncio tem um lugar particular, o entendimento do silêncio pode ser que seja aprofundar na fala, na escrita, no discurso, no pensamento um tempo de suspensão, de contemplação, de mudança, de vôo. Devido aos nossos barulhos internos e externos ficamos cegos e surdos  à necessidade e a importância do silêncio, de produzi-lo, de lê-lo e interpreta-lo e fazer dele um vale de possibilidades e brincar com elas. A significação, possivelmente, é um movimento de errância do sujeito, dos sentidos e exercício de uma liberdade de compreensão indescritível.
O que verdadeiramente importa está nos interstícios, nos intervalos, nos silêncios, nas ações que são sentidas, subjetivadas e pensadas com a alma; naquelas que fingimos serem secundárias, não importantes, mas que, por analogia, são tudo o que somos, tudo para o qual vivemos, tudo o que esperamos e tudo pelo qual vale a pena. O que tem verdadeira e cabal importância é o que não ouvimos, aquilo que passa despercebido.
Interstícios da significação de mundo, são esses espaços vazios que estão entre o que consideramos ser o principal, são essas lacunas com argamassa onírica que só se vê prestando muita atenção e tendo muita vontade de descobrir, apurando muito os sensores do sentir e limpando a percepção. Estar no sentido com palavras ou sem elas são modos diferentes se significar e de nos relacionarmos com o mundo, com as pessoas, com as coisas e conosco mesmo.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário