domingo, 1 de setembro de 2013

A GRAÇA DO NÃO-SABER

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Ninguém sabe tudo e talvez não tivesse a menor graça saber. A placidez da ingenuidade também tem seus encantos, o rastro da ignorância também tem seu charme, e mais, traz felicidade.
Quão gracioso é contemplar um infante no ato da descoberta do não-saber, aquele olhar de ih!.... A personificação do não sei, o primeiro movimento do ....é por ali!... pra saber, seja lá o que for. 
É instigante observar o movimento da curiosidade que constrói o saber e destrói a graça, a aura do não-saber; que nunca mais, na mesma circunstância, tem a mesma cara. À medida que crescemos o não-saber passa a ter cara de vergonha, de constrangimento, de inferioridade....mas a de ingenuidade é sem igual e fica para trás, na fase na qual não se sabia o que é saber.
Não saber o que é saber faz toda diferença no aprender, usamos o raciocínio livre de engessamentos, de cuidados, de meandros políticos, livre de grilhões, damos as respostas mais estapafúrdias, imbuídas de verdades quase absolutas, que são tão simples, tão claras, mas que revestidas da pecha da ignorância, já não ousamos mais usá-las.
Sofro de saudosismo de infância, daquela fase em que a gente sabe de tudo sem saber. Depois vamos crescendo, adquirindo saber e emburrecendo.
Sofro de manutenção oculta da infância, mantenho a minha criança viva, escondida, pirracenta, traquina e respondona. Por mais que eu não lhe dê voz, penso, respondo em silêncio, rio comigo mesma e não deixo passar uma, porque quando o fizer a estarei matando.
Sofro de felicidade escondida, de resposta silenciosa, de brilho oculto dos olhos. 
Sofro de bipartição de mim, proposital e construída. Não admito superposição  nem substituição, mas adição e agregamento.
Nunca quis ser "highlander", o cara que acumula o saber e vive para sempre, só para sentir o prazer celestial de descobrir coisas e saber que sempre haverá coisas a serem descobertas. Então, em níveis diferentes de não-saber, sempre seremos ingênuos e ignorantes em alguma coisa.

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