sábado, 3 de maio de 2014

PENSAMENTO: UM RASTRO DE EXISTÊNCIA

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Há duas semanas cumpriu sua missão e voltou para casa Gabriel Garcia Marquez. Um colombiano que viveu oitenta e sete anos entre nós. Um devoto da palavra. Um dos tantos e, nem por isso menor, escritores latinos que nos agraciou, quiçá, nos honrou com suas ideias, devaneios e histórias de mundos imaginados. Umas com o pé na realidade e outras com eles completamente suspensos, mas que encontrava dentro de nós um lugar comum, uma identificação de sonho, de desejo e de imaginário de nós mesmos.
Editor, jornalista, escritor, poeta, contista, prêmio Nobel de literatura (1982), cineasta por um tempo (não necessariamente nesta ordem), mas acima de tudo gente, muito gente, orgulhosamente gente como todos os mortais do planeta. Sua paixão era o cotidiano do povo, o povo, os movimentos do povo, através da política e do seu grande laço com a vida, a escrita.
Instigou-nos com seu veneno abençoado, nos levou às árias do fantástico/poético/político. Gabriel fez literatura como poucos. Em Cem Anos de Solidão nos brindou com a cidade imaginária de Macondo, um nome tirado de uma plantação de bananas avistada em uma viagem com a avó, na infância, e a saga dos Buendía com uma jornada que misturava o extraordinário com o ordinário e transformava discrepâncias em lugar comum. Em Amor nos Tempos de Cólera conta, nada mais nada menos, que a história de amor dos próprios pais e nos apresenta uma forma espetacular de reinventar a vida cotidiana, uma perspectiva diferente de ver. Em Memórias de Minhas Putas Tristes ousa falar do amor aos noventa anos, só para citar algumas das vidas extraordinárias que habitavam a mente e alma de Gabriel.
Mas seu grande feito foi tê-las dividido conosco, se libertar desses mundos imaginados/inventados/criados a partir do vivido e apostar que alguém leria, que em alguém teria ressonância. Pertencia ao grupo seleto dos que driblam a barreira da ignorância, dos que socializam o saber, dos que fomentam no outro o desenvolvimento de suas potencialidades, dos que provocam a reflexão e que tocam na alma alheia à distância.
Quando se foi todos sentimos, todos lamentamos, mas pensando bem ( e gosto de crer assim, me conforta) Gabo foi ao encontro da total liberdade, despojado da vestimenta que é mais esponja de interferências do que veículo de exercício de potencialidades....se foi Gabriel...pra Macondo... depois de ter nos embebedado com seu mais puro néctar da existência: o pensamento.
Morrer?!! Quem se desdobra, se expõe, ousa e deixa seu rastro, não morre. EL GABO está mais vivo que nunca e pode ser revisitado através de sua extensa e magnífica obra que se impõe como um registro de existência e de missão muito bem cumprida e que continuará inoculando esse vírus altamente contagioso nas futuras gerações.
Para qualquer ser humano que tem como prazer da existência e do viver o pensar, Gabriel se libertou de uma roupa que não servia mais. Mais do que dizer vá em paz urge dizer MUITO OBRIGADA!


 Saiba mais sobre o processo de escrita de Gabriel Garcia Marquez. (Aqui!)

Principais obras:
A revoada(1955); Ninguém escreve ao coronel(1961);  A má hora: o veneno da nadrugada (1962): Os funerais da mamãe grande (1962); Cem  anos de solidão (1967); Um senhor muito velho com umas asa enormes (1968); Relato de um náufrago (1970); A incrível e triste história de Cândida Erendira e sua avó desalmada (1972);  Olhos de cão azul (1972); O outono do patriarca ( 1975); Crônica de uma morte anunciada (1981); O verão feliz da senhora Forbes (1981); O amor nos tempos do cólera (1985); O general e seu labirinto (1989); Doze contos peregrinos (1992); Do amor e outros demônios (1994); Como contar um conto (1995); notícias de um sequestro (1996); Memória de minhas putas tristes (2004).


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