quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O que é o Veganismo hoje¹

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Fonte: useahimsa.com


Falamos de ampliação da consciência em relação ao nosso planeta, o nosso berço. Falamos de ampliação de consciência no que diz respeito a alimentação dissertando um pouco (textão) sobre a história do veganismo. Mas, porque volto a falar do assunto? primeiro porque prometi² em algum texto que dissertaria sobre a definição de veganismo; segundo porque percebo que as pessoas - nas minhas vivências - realmente não sabem o que é o veganismo. E isso me assusta bastante. Convivo com pessoas de diversos níveis de formação, mas em sua maioria são bem informadas e têm acesso à informação de qualidade, se quiserem. A desinformação é tanta que nem sei por onde começar. Por isso senti a necessidade do registro.

Quando a gente pensa que as pessoas do nosso entorno, sabendo que somos veganos, não vão nos surpreender, ela nos surpreendem.... fazendo um milho para nos agradar... com manteiga. Já que sabem que não usamos couro, nos dão um casaco de lã ou um lenço de seda. Isso, quando não te oferecem uma cachaça com mel (espero sempre que isso não seja uma sacanagem). O que percebo é que na cabeça das pessoas em geral os veganos são vegetarianos chatos que além de não comerem o alimento animal não comem ovos e leite...mais nada. Ou seja, o grande equívoco é conceberem o veganismo como uma dieta...o que ele não é. E deste equívoco, quase cultural, entra em cena uma maneira inusitada de se definir alguma coisa...pelo que ela não é.

VEGANISMO NÃO É DIETA. Dieta é um procedimento alimentar que visa a nutrição, a manutenção da saúde e em alguns casos, a estética. Ela é centrada no indivíduo (animal humano) e no seu bem-estar. Quando nos referimos à uma dieta que não tem em seu menu animais e seus derivados ela é denominada vegetariana estrita. Costumamos chamar de vegano o indivíduo que não consome nada de origem animal na alimentação por que facilita a identificação e saber o que oferecer-lhe. Mas, ser vegano é muito mais do que isso. 

VEGANISMO NÃO É UMA FILOSOFIA DE VIDA. Uma filosofia exige teorias, teóricos, pessoas com acesso às ferramentas para acessar aquele conhecimento e exclui quem não as tem. O veganismo não tem teorias, tem informação. Informação de ordem ambiental, informação de ordem médica sobre saúde e nutrição, informação de ordem ética ao alcance de todos. Não exige um nível de conhecimento epistemológico e não produz epistemologias. No veganismo se põe para todos e não separa por nível de formação ou erudição. Esse é outro equívoco excludente do que se pensa saber sobre o veganismo.

VEGANISMO NÃO É MODA. Moda é uma tendência. Algo que vem e vai ao sabor de caprichos. O veganismo com sua urgência climática, de saúde e ética é uma NECESSIDADE. Não temos planeta para mais uma década consumindo alimentos de origem animal como se consome hoje, com a densidade populacional prevista. Não é sobre pensar no planeta (imagino que quem não pensa num animal que está em seu prato, não vai se importar com um planeta) é por nossa causa. Não haverá possibilidade de vida como conhecemos hoje com todas as modificações climáticas que essa postura acarreta. O planeta vai continuar aí, sempre esteve e sempre estará... já foi uma bola de fogo, já foi uma bola de gelo, se tiver que ser uma bola seca cheia de lixo, ele continuará aí. Quem não estará com condições para viver nele somos nós. Conosco ou sem 'nosco' ele segue seu caminho evolucional.

Mas, então, o que seria o veganismo?

O VEGANISMO É UMA MANEIRA DE OLHAR. olhar O MUNDO, de olhar O OUTRO. E essa maneira de olhar MUDA A FORMA DE ATUAR no mundo. O veganismo é a extensão do conceito de outro para 'coisas' que a gente não considera como 'outro'. Ser vegano é você descobrir pela ampliação de consciência que um SER que não tem a mesma noção de realidade que você também é 'o outro'; É entender que um SER que não tem a  mesma possibilidade de atuar no mundo como você, modificando-o através de habilidades cognitivas e outras, também é um 'outro'. Você não decide quem ele é. Ele já é um outro. Você vai reconhecer e respeitar, vai passar e enxergar o que já está ali e na prática cotidiana vai tratá-lo como tal. Logo, O VEGANISMO É UMA AMPLIAÇÃO DA VISÃO DO MUNDO QUE TIVEMOS ATÉ ENTÃO. É UMA POSTURA DE EXTENSÃO DO CONCEITO DE DIREITO À VIDA PARA OUTROS SERES. Aquele ser que está diante mim com um par de olhos, que tem sistema nervosos central, que esboça alegria, amor, carinho, tristeza, medo, raiva, pavor é um 'outro'. Essa concepção passa de nosso pet (cão e gato) para os bois, vacas, patos, carneiros, galinhas, cavalos³ mesmo que não convivamos com eles. Temos capacidade cognitiva, emocional e consciencial para fazermos esta transferência tão banal.

O VEGANISMO É UM EXERCÍCIO DE COMPAIXÃO. O VEGANISMO É UM EXERCÍCIO DE AMOR. Sim! em detrimento do seu paladar, de um prazer de alguns segundos, e que podem ser substituídos por outros tantos sabores muito mais ricos em  sua diversidade com outros alimentos. O CENTRO DO VEGANISMO É O ANIMAL ( a causa animal, a compaixão animal, a ética em relação ao direito á vida que esses seres tem de serem o que são, de viverem suas encarnações com os potenciais que têm, cabendo a nós cuidá-los e os desenvolvermos neles para que saiam de nosso planeta, melhor do que chegaram). QUALQUER UM PODE SER VEGANO, rico, pobre, branco, mestiço, negro, homens, mulheres, crianças, idosos (a medicina nutricional tem pesquisas científicas sérias sobre o assunto).  Qualquer um pode parar de causar dor e violência ao nosso irmãos menores (o outro) através desse financiamento nefasto. 

Logo, a definição de vegano é: aquele que além de não consumir nenhum produto de origem animal em sua alimentação (nem peixe), dentro do possível e do praticável, também não o faz no vestuário (não usa couro, seda ou lã); não usa produtos de limpeza ou de higiene que contenha sebo de boi para fazer espuma, fixadores de perfumes que contenham insumos de origem animal; não colabora com a manutenção financeira de atividades de entretenimento que violenta animais (circos, zoológicos, rodeios, aquários, shows aquáticos, touradas).... Pode parecer doutrina de religião fundamentalista....mas fazemos com prazer, sentimos de verdade como se fôssemos nós naquele zoológico, naquele aquário com um oceano imenso e uma floresta inteira pela frente, mesmo com todas as intempéries, presos num cubículo para entreter  animais humanos. Visto de longe parece difícil cumprir tudo isso, não é? Não é não. O difícil é ver que ninguém vê. A grande dificuldade é ir ao mercado e ver o açougue. É ir a um shopping e ver aquela jaqueta e saber que sob aquela pele morou alguém. Por esta perspectiva sim,  ser vegano é muito difícil. O preço da ampliação de consciência é esse....dói. O grande sacrifício, é disfarçar a dor. Nunca foi tão prazeroso procurar um cogumelo shitake, um caju e um côco na feira para fazer uma carne vegana. É uma aventura pelo mundo dos temperos, brincar de caldeirão de bruxa, inventar comidas coloridas, deliciosas e livres de dor, cheias de felicidade. Essa felicidade se sente. Não é difícil procurar uma sandália de corino, um tênis de lona, uma bolsa de materiais alternativos, sustentáveis e lindos... também é uma aventura maravilhosa, conhecemos gente muito boa, alegre, leve, feliz. Não é conto de fadas nem mundo de Pollyanna, é um fato. Quem não financia aquela dor horrenda, quem não coloca para dentro de si toda aquele pavor e tristeza, é mais feliz sim. Não precisa ter nada, se é feliz. Parece que a felicidade tem embalagem e a agente não sabia.   

Em suma, nosso mundo está mudando. Novas descobertas sobre o funcionamento do nosso organismo estão sendo feitas e registradas em pesquisas respeitáveis; novas descobertas sobre as causas das doenças que do século XIX para cá tem assumido proporções absurdas e que não existiam antes (não com a mesma incidência) também estão sendo divulgadas. Pensemos nisso!... é um bom exercício em direção ao AMOR e à COMPAIXÃO....QUE É O CERNE DO VEGANISMO. 

POR AMOR E POR COMPAIXÃO....CONSIDERE O VEGANISMO

Fonte: vegazeta.com.br


1 - o registro temporal é por acreditar que essa definição um dia vai se  ampliar e será mais significativa e potente do que é hoje

2- As atividades acadêmicas têm consumido meu tempo, minhas energias e minha inspiração. Por isso os longos espaços de tempo nas publicações e falhas no cumprimento de promessas (rsrsr) o que está fazendo com eu não as faça mais.

3- Nossa grande dificuldade é atribuirmos essas potencialidades emocionais a animais que não convivemos, que não sabemos como podem ser expressivos, como gostam de brincar também, a não convivência dificulta essa introjeção.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Corpo de comida

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Fonte: consciousplanet.org

Há pouco menos de um mês o guru indiano Saghguru terminou uma jornada de conscientização sobre o solo do planeta, o corpo físico de nossa mãe Gaia. Geradora de nossos veículos de experiência nessa existência, costureira de nossas roupas e de nossos corpos.

Pensamos tão pouco nisso....nem pensamos, não é mesmo? Nos atemos em quase nada ao processo sutil que nos trouxe até aqui. O biológico/material conhecemos, acreditamos, professamos, defendemos e o transformamos na mais pura realidade. O sutil/espiritual, não. Não é real, é só elucubração. E se for o contrário? Imaginemos por um momento essa ordem de coisas.  O aspecto biológico, o nosso cercadinho de 'explicações' limitadas, com a nossa mente e visão de uma existência que não compreendemos, como ilusão. E o sutil, como sendo o real. Justamente, por ser perene, eterno e constante. (pensemos neste critério para realidade). 

O que é quem vemos no espelho quando nos pomos diante dele? Um corpo tecido pelas refeições de nossa mãe biológica, com alimentos produzidos pela mãe sutil. Essa (a terra), fisicamente, bem real, concreta, materializada em um corpo imenso e cheio de vida. Vida presente no solo, nas águas dos oceanos e rios e no prana do ar, o nosso combustível. Cinco minutos sem ele e a conexão com essa 'roupa' se rompe ou apresentará problemas para o resto da vida. O corpo tecido célula a célula pela produção desse solo, concebida ali, nascida ali, criada ali numa doação magnânima é entregue a 'esse  nós' que passa a habitá-lo. Tudo isso dado de presente amorosamente para vivermos o que precisarmos e para aprendermos as lições que temos que aprender, na justa medida. Nem mais, nem menos. É como se fôssemos fagulhas divinas teletransportadas para este mundo para experienciá-lo através deste presente. Isso é amor! 

Somos verrugas ambulantes de amor sobre esse corpo celeste/divino, passeando por sua superfície, criados por ELA (ela, fêmina), alimentados ELA, amados por ELA  (se não fôssemos já teríamos sidos extintos....haja amor!) e amparados por  ELA. [embora, eu acredite que um dia essa paciência e misericórdia vão acabar, rsrs]. Tudo o que temos que fazer, ao longo da jornada é amar, se estivermos aprendendo a lição; e ao final é devolver a roupa, sem cheque caução. 

Vemos nossa fonte de vida como recurso. No nosso estado de cegueira, olhamos para o mundo/planeta e nos perguntamos: ISTO, me serve para quê?  Somos esse ISTO. Enquanto não desenvolvermo-nos - seguindo o entendimento desse conceito amoroso de doação - voltaremos e receberemos todos os presentes de novo, e de novo, até aprendermos a amar. Até parearmos nossa vibração com a dessa mãe esplendorosa e fazermos a tudo o que nos cerca, o que ela fez conosco: conceder crédito, oportunidade, compaixão e misericórdia*. 

Nosso dever de casa é: aprendermos a cuidar do solo que nos dá o invólucro; zelarmos pelo nosso corpo em agradecimento pela benesse de tê-lo; amarmos outras espécies  com níveis de consciência diferente do nosso - filhos de nossa mãe, logo, nossos irmãos; reconhecermos e respeitarmos a senciência dos outros seres; e reconhecermos que COMPOMOS este ambiente que nos recebe, entendendo que SOMOS UM. Se não reconhecemos esse amor, não significa que ele não exista. Talvez, seja porque não o estamos enxergando; se não sentimos esse amor, não significa que ele não exista. Talvez, seja porque nossa atenção (nosso direcionamento de consciência) esteja em outra perspectiva: a do corpo de comida. Essa ausência de presença significa que nossa identificação está localizada na ilusão, naquela persona que não permanece. Significa que estamos focados naquilo que será devolvido e não naquilo que ocupa esse transitório. Enquanto assim for, produziremos dor em nós, nos outros e em tudo o que nos cerca. E, enquanto isso se der, receberemos o que produzirmos. Nosso poder criativo de fagulha divina assim procede e não há nada que nossa mãe (gaia) possa fazer. O dia em que vibrarmos com o conteúdo do veículo que possuímos, estaremos vibrando com essa mãe de amor.

Somos um pouco filhos pródigos. Para aprendermos a lição temos que tomar uma sova (às vezes nem assim adianta) e o pai/mãe que ama respeita nossa decisão (haja lombo para arcar com os preços de nossas decisões equivocadas!). O que não significa que deixou de ser amor..... e, amor com autossacrifício.  Porque nessa jornada de equívocos, matamos o corpo físico de nossa mãe todos os dias, matamos e torturamos seus outros filhos todos os dias. Por preferirmos olharmo-nos através de nossos corpos de comida, medirmo-nos por nossos corpos de comida, emproarmo-nos através de nossos corpos de comida.  E ela continua lá.... acreditando em nós e tecendo corpos todos os dias, alimentando corpos todos os dias. [eu não gostaria de ver essa mãe zangada]. Para depois de toda uma saga de equívocos, devolvermo-lo à ela, impreterivelmente.

E, quem sabe, nesse momento derradeiro, descubramos que estaremos conosco mesmo (àquele a quem a gente não conhece nem quis conhecer) por toda a eternidade;  possivelmente, ali, fiquemos sabendo que nos foi dado crédito e confiança em nossa capacidade de evolução e descobriremos se correspondemos à altura, ou não; quem sabe neste momento com Anubis, compreendamos, factualmente, que TUDO vem da mesma fonte, e ela está NÓS; quem sabe ali, entendamos que não existe separação entre EU, VOCÊ, NÓS e TUDO. E, por fim, verificaremos que o que pensamos que somos, ela vai tomar de volta. Que este ente que pensamos ser nós, não era nem nós, nem nosso. Era só um corpo de comida... e emprestado.

VIVENCIE!!!



  



*amor sem merecimento

quinta-feira, 2 de junho de 2022

O Amor

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Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, é uma alma gigante que conviveu conosco durante quase todo o século XX. O médium nos deixou uma obra extensa sobre amor e caridade, além de seu próprio exemplo, nela tem um poema espetacular sobre o amor. Escrito dentro de um arcabouço literário da época, e assim deveria ser para que fosse lido e entendido pelos daquele tempo, nos traz um painel bem factível do que seria a possibilidade de entendimento do amor por animais humanos. Assim diz o escrito de Chico Xavier, intitulado "Sentimento de Amor":

A virtude mais sublime é o Amor,

E o homem traz em sua criação.

Conduz os sentimentos passo-a-passo

Retrata em cada um a evolução.

O Amor está na fé e na esperança.

O Amor que busca a Deus, é a oração.

O Amor quando analisa, é escudo.

O Amor quando pondera, é razão.

Na ciência, o Amor está investigando,

No trabalho, faz a edificação.

A verdade, é o Amor que se eterniza,

Fraternidade, é o Amor em expansão,

Orgulho, é o Amor que enlouquece,

Quando está sem equilíbrio, é paixão,

O Amor que se desvaira, é ciúme, 

Desespero, é Amor na contramão.

Se o Amor fica doente, vira ódio,

Sensualismo, é o Amor com ilusão.

Renúncia, é o Amor que depura,

O Ideal é o Amor em elevação

Filosofia é o Amor que está pensando,

Na caridade, é auxílio e proteção, 

Simpatia, é o Amor que está sorrindo, 

Os sentimentos são o Amor em construção.


Somos amor, viemos do puro amor, e à medida que nos fractamos, nos dividimos para cabermos nessa existência, nesta roupa fantástica, nesse corpo perfeito. Nos distanciamos, nos contaminamos com vibração densa, entramos em confusão sobre quem somos, o que somos e nos esquecemos de nossa origem, de nós, do UM que somos com a fonte. A busca por entendermos o que somos, quem somos, e o que é o contexto no qual estamos inseridos é, possivelmente, nossa tarefa nessa existência. Mas, no meio da caminho nos distraímos, nos identificando com o corpo, com o cenário, com o roteiros e ainda somos atores indisciplinados e insubordinados para com o diretor do filme que concordamos em atuar.

Segundo as leis universais, aquelas pelas quais o universo é regido, compiladas pelos povos antigos (egípcios, fenícios, maias, e outros) e descritas nos escritos de Hermes Trimegistos* nos fala sobre a unidade divina. Sobre tudo ter uma única origem, com a qual tudo está conectado. Pela lei da polaridade (4ª lei), tudo é dual, tem extremos de uma mesma vibração. Logo, transmutar e ir para o lado oposto da frequência. A transmutação nos possibilita na mesma polaridade  amor/ódio; alegria/tristeza ir dentro dessa linearidade de uma ponta a outra. Pois segundo a lei da vibração (3ª lei) nada está parado, tudo vibra. 

Colocar-se na disposição da fonte criativa dentro desses princípios nos possibilita viver junto, co-habitar com tudo e todos, entender o limite do outro. Entender e receber o que o outro tem para oferecer, do jeito que ele pode oferecer. Compreender que ninguém dá o que não tem. Se percebemos que temos mais, mais deveremos oferecer, demos mais. Isto é justiça, recebemos mais, damos mais. Doemos mais amor, mais força, mais inteligência, mais recursos. Se não temos tanto, demos o que temos e recebamos o que nos falta. Recebamos mais amor, mais recursos, mais tudo. Este é um recebimento de aprendizagem, de exemplos, de humildade. Sejamos aprendizes por imitação, Aprendamos a desenvolver a admiração. Tudo isso é um processo de entendimento da energia do dar e do receber.

O que mais precisamos hoje é de dar e receber AMOR. O Amor é a força motriz que constrói tudo, tudo o que temos. De nossos corpos perfeitos dados pelo cosmos e pela terra às nossas habitações que também vieram do amor como ideia de proteção, de ajuntamento e afeto.

Mas, é mal? Se tudo é amor.... como se explicaria o mal? Filosoficamente seria a distância dessa fonte original de amor. Quanto mais longe, mais triste, mais frio, mais dor, mais sofrimento, mais raiva, mais guerra, mais prantos, mais atrocidades e mais injustiças.

O movimento de mudança é o de retorno a essa fonte, retorno para essa luz, de volta para casa, de recebimento desse conhecimento, desse alimento da alma, que é nosso verdadeiro ser. O grande Avatar Sananda (Cristo) nos deu a dica a tempos...."Amai-vos uns aos outros" Amemos a nós mesmo, ao outro, o nosso entorno, amemos o meio em que vivemos, amemos os animais não-humanos que nos cercam e os distantes, amemos as pessoas que nos rodeiam e aquelas de outros povos, culturas e lugares com todas as suas diferenças; pessoas boas ou não, compatíveis com nossas ideias ou não, agradáveis ou não. Pois, estar ou não estar em conexão com esta fonte é que nos faz desarmônicos, isto serve para todos, incluindo a nós mesmos.

Saibamos que a luz do sol que recebemos veio do Amor, que as águas que banham a terra e nos proporcionam vida, vieram do Amor, que a terra que nos dá alimento de graça (sim, de graça) veio do Amor, o ar que respiramos, veio do Amor. Recebamos este Amor, cuidemos desse Amor, zelemos por esse Amor, desfrutemos desse Amor, emanemos esse Amor. O Amor é a cura para fome, para a dor, para a tristeza, para todo o tipo de sofrimento e de tudo que nosso planeta é refém através de nós. 

Abramos nosso coração à compaixão, à misericórdia e ao perdão. Esses são os portões de amor ao alcance da vontade e das ações dos animais humanos, a partir daí, o resto vem. Pois através de nossa volição e livre arbítrio teremos dado o passa para diminuir essa longa distância entre nós e a fonte criadora, Pai-Mãe, Amor puro. E, a luz se fará... 

A luz clareará nossas mentes, nossos corações e seremos capazes de amar a nós, ao outro, à natureza, aos animais não-humanos, à nossa mãe terra com seus mananciais amorosos. E, assim, nos tornaremos dignos desse amor e seremos um com ele.... Esse é, possivelmente, o objetivo de toda essa jornada. Porque AMOR  é tudo o que há.



*Legislador egípcio e filósofo que viveu entre 1.500 a 2.500 A.C

domingo, 1 de maio de 2022

Ampliação de consciência II

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Fonte: consciousplanet.org

Já não se faz mais guru como antigamente. O imaginário social de guru para um ocidental é de um indivíduo isolado, alheio a tudo e introspecto em si mesmo. Em essência é mais ou menos assim mesmo. Mas, temos que levar em consideração que não estamos mais no tempo do primeiro yogui (Shiva), os modos de expressões são outros, e ser um com o todo pode ser mais do que apenas uma noção, uma postura e pode se tornar também um movimento. Sim, um movimento de conscientização com todos os instrumentos e ferramantas de que dispomos. 
Sadhguru (Yaggi Vasudev) criador da Fundação Isha, é um dos gurus mais respeitados da Índia. Escritor de vários livros sobre espiritualidade, mente e corpo, o guru se envolve em projetos de educação ("Youth and Truth" no qual conversa com jovens estudantes em suas universidades, respondendo perguntas sobre a existência); meio ambiente (Rallies for Rivers - movimento para salvar os rios da Índia)  e filosofia yogui dando sugestões sobre qualidade de vida e espiritualidade (disponíveis em seus canais no youtube - em português, Inglês e Tamil)
O contexto dos movimentos pelo solo se iniciou no final da década de 90 início dos anos 2000 quando a situação do Rio Cauvery e seus afluentes, no sul da Índia estava bastante séria, com um desertificação avançada ao seu redor. Dessa realidade nasceu o movimento "Cauvery Calling" que significou conscientização, educação e ação para salvar o solo de Tamil Nadu e Tatanaka, na ìndia. Esse projeto conscientizou 107 mil agricultores que plantaram 62 milhões de árvores. A ação de manutenção dessa conscientização continua até hoje contando com cientistas do solo na orientação sobre fertilização orgânica e programas de conscientização para as novas gerações de agricultores. 


Hoje, a Convenção das Nações Unidas para o Combate a Desertificação (UNCCD) prevê que até 2050 quase todo o solo da terra estará degradado. As consequências dessa degradação são: crise alimentar, escassez de água; perda da diversidade, alterações climáticas, perda dos meios de subsistência, acirrramento das migrações e conflitos advindos de todas essas variantes. Pelas estatísticas 52% dos solos agrícolas, hoje, já estão comprometidos. (Saiba mais). A partir da experiência de Tamil Nadu e Tatanaka Sadhguru lançou a campanha "Save Soil" a nível mundial no último Mahashivatri (festa cultural indiana) e que consiste em seguir o mesmo molde, salvaguardadas as devidas proporções, um Rallie para chamar  atenção para a causa, uma atividade de conscientização planetária. Dessa vez o Rallie é de um só, o próprio Sadhguru com uma equipe de suporte de dois carros que o acompanham numa saga de 30.000 Km, 24 países durante 100 dias. Nesse percurso ele será recebido em algumas cidades por populares e autoridades (representantes populares, ministros de agricultura, planejamentos, educação, meio ambiente, embaixadores da índia naqueles países, Reitores de universidades, secretários gerais de parlamentos, etc. participando de debates, dando entrevistas e respondendo perguntas do público. Confira a campanha!



Iniciada aos 21 de março do corrente ano, saindo de Londres em direção à ìndia, especificamente a área do Cauvery River, o movimento pretende reunir pessoas em todo o mundo, presencialmente e online, para defender a saúde do solo;  apoiar líderes políticos para aumentar o conteúdo orgânico no solo cultivável, propondo a reposição de 3 a 6 vezes de conteúdo orgânico no solo. A proposta da campanha se baseia no tripé: saúde do solo, políticas ambientais e apoio das pessoas através de conscientização de 60% do eleitorado mundial, cerca de 3.500.000.000 de pessoas (audaciosa a proposta!). Para tanto, Sadhguru já passou por Amsterdã (22/03); Berlin(24/03); Praga (26/03); Vienna (28/03); Ljubljana/Eslovênia (29/03); Veneza e Roma(02/04); Genebra (06/04); Paris (09/04); Bruxelas (11/04); Bonn/Alemanha (13/04); Frankfurt (14/04); Bratislava/Eslováquia (16/04); Budapeste/Hungria (17/04); Belgrado (18/04); Sofia/Bulgária (19/04); Bucharest/Romênia (21/04); Istambul/Turquia (23/04); Tblisi/Geórgia (26/04); Baku/Azerbaijão (29/04). Haja fôlego!!! 
Acompanhar o trabalho do relações públicas de Gaia, Sadhguru, sentado em casa já é um esforço e tanto, só de olhar cansa ver o 'velhinho' de barba branca montado numa moto o dia inteiro e parando nas cidades, participando de eventos, dando palestras, sendo recebido pelo público e dando atenção a este público só para conscientizar e chamar atenção do mundo para a causa. Creio que a demonstração de saúde e vitalidade de Sadhguru já é uma propaganda e tanto de seu estilo devida saudável (yoga, meditação e alimentação vegetariana). Lacrou!
Mas, o caro leitor deve estar se perguntando: Mas, o que eu posso fazer? 
- Consuma orgânicos, se puder. Assim você incentiva a agricultura sem agrotóxicos e ainda cuida da sua saúde (Os agrotóxicos matam não só os microorganismos do solo, mas também a nossa microbiota)

- Evite usar produtos de limpeza doméstica e higiene pessoal que tenham sequestrantes, pois eles retiram oxigênio do solo. Logo, qualquer microorganismo que se alimente dele é eliminado. (Saiba mais)
 
- Faça compostagem, se puder.

- Consuma menos alimentos de origem animal

- Converse com outras pessoas sobre o assunto, troque informações.

- Se você planta, não use fertilizantes químicos, somente orgânicos

- Se você é representante eleito, crie projetos ecológicos.

- Se você canta, compõe músicas que falem sobre nossa maravilhosa mãe Gaia, sobre o amor dela por nós.

- Se você escreve, escreva.

- Se você dá aulas, fale sobre isso.

- Assista ao documentário "Beije o solo" (rode a barra de rolagem, está no meio da página). Você vai ficar surpreso com o que está a seu alcance.

- Se informe mais, sempre.

A campanha "Save Soil" não é para angariar fundos ou qualquer outra ação financeira, é sobre CONSCIENTIZAR, CHAMAR  ATENÇAO, INCENTIVAR AÇÕES AMBIENTAIS, é pelo congraçamento, pela informação, pelo amor à terra, à nos. É um momento de amor, de direcionamento do olhar para quem nos dá o corpo e um ambiente propício às oportunidades que viemos ter para crescermos. Esse movimento é apoiado por artistas, personalidades conhecidas no mundo inteiro, cujos trabalhos fazem diferença, como a primatóloga, etóloga e antropóloga Jane Goodall (estudou os chimpanzés e gorilas na África); Vossa Santidade Dalai Lama; o presidente em exercício do Fórum Econômico Mundial Klauss Schwob e tantos outros nomes e celebridades. A campanha está completa tem um ideal importante, uma música chiclete que cola mesmo, e uma dancinha fofa. O solo transforma a morte em vida. Viva Sadhguru! o guru midiático do século XXI. Confira!





"Plante uma árvore em sua cabeça. Esse é o terreno mais difícil" (Sadhguru)


#SalveoSolo #SaveSoil #PlanetaConsciente #ConsciousPlanet

*acompanhe o restante da jornada de Sadhguru pelo solo de nosso planeta em: consciousplanet.org/events
Agenda divulgada até agora: 04/05; 10/05; 15/05; 20/05 e; 25/05...


domingo, 24 de abril de 2022

Ampliação de consciência

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fonte: veganagente.com.br


"De todos os animais, o homem é o único que é cruel. É o único que inflige dor pelo prazer de fazê-lo." (Mark Twain)


Desde que o mundo se mostrou para nós como o quintal de nossa casa - da globalização para cá - estamos mais próximos dos acontecimentos, ficamos sabendo de notícias e fatos em tempo real, temos mais poder no mundo da informação - para o bem e para o mal -. A partir da tessitura dessa complexidade e por conta dela, tem surgido movimentos de conscientização de toda espécie. Seja sobre questões socio-históricas (decolonização), questões identitárias (como as de gênero) questões econômicas (como o neoliberalismo e a luta de classe para além das salas de aulas), ambientais (mudança climática, ) etc. Entre esses movimentos de conscientização está o veganismo.

Este movimento ativista se posiciona pela libertação animal, é movido pela compaixão e se ocupa de conscientizar a humanidade (sim, é essa a pretensão) sobre o que estamos fazendo com seres sencientes sem sequer nos darmos conta. Então, os ativistas nos aproximam de realidades veladas com o objetivo de que, através dessas informações tomemos a decisão de compactuar com elas ou não. Sim, É UMA ESCOLHA. A abordagem do movimento ultrapassa o âmbito da alimentação e se estende para os usos cotidianos dentro do possível e do praticável abarcando, também, questões ambientais.

Hoje, tem-se um movimento organizado, que cresce bastante por questões óbvias de nosso tempo (gases de efeitos estufa, desmatamento para plantio de alimento para gado e abertura de espaço de terra para pastagens, para além do bem-estar e dos direito animal) que são interseccionalidades com a causa. Mas, o movimento se baseia na causa animal sob a égide da compaixão. Logo, é um movimento de despertar para a existência do outro - sim o outro pode ser de outra espécie - principalmente porque esse outro não pode se defender dentro dos parâmetros que designamos como possibilidades e condição para defesa. (falar, reclamar, abrir um processo jurídico, questionar, argumentar, etc.). Então, esse é um exercício de empatia. Um exercício que incomoda porque vamos beliscar a nossa  indiferença, como sociedade, para com aqueles seres. Isso nos coloca numa posição de vilões que não queremos ser, na condição de recusa dessa denominação. Por isso, a conscientização.... porque se você sabe o que é, o que acontece, como é, e continua na sua ação você aceita e assume a denominação e o faz com consciência. Mas, a coisa é ainda mais complicada. às vezes sabemos e não conseguimos nos libertar dos costumes. O que nos leva a refletir sobre uma série de outros condicionamentos que nos enlouquece, nos mostra o quanto somos moldados por um sistema, pelo outro (hegemônico), e como isso nos tira do lugar de poder sobre nós mesmos.  Aquele poder que gritávamos aos quatro ventos que tínhamos. Olha a profundidade da questão!!! Olha onde ela nos atinge e para onde ela nos leva!!!

Por isso é importante a compreensão de que esse saber doloroso implica num processo, um processo de amor. Não só de amor pelos animais mas de amor por nós mesmos. Não podemos falar de um movimento de compaixão que acusa, que vilipendia o outro. O objetivo é a CONSCIENTIZAÇÃO, CONSCIÊNCIA + AÇÃO e tudo isso movido pelo amor e compaixão. É bem verdade que os animais têm pressa, que devemos o quanto antes desapegarmos de nossos condicionamentos e pararmos de financiar seu sofrimento, são bilhões por ano. Então é urgente pensarmos sobre isso, falarmos sobre isso e agirmos sobre isso.

Neste compasso, vamos passear pelo alvorecer desse olhar até os nosso dias. É uma história filosoficamente linda, de coragem, de visionarismo  e ousadia. Assim como o nosso caminho na humanidade....a passos lentos. 

Pitágoras (570 ac - 495 ac) e Siddhartha Gautama (563 ac - 483 ac) já pensavam a respeito do tratamento que dávamos aos animais antes mesmo da indústria alimentícia surgir. Antes mesmo de Cristo nascer. O poeta romano Ovídio assim registra em sua obra "As Metamorfoses" o pensamento de Pitágoras  

Pitágoras - Fonte: Wikipedia.org

"Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca, conhecerá a saúde e a paz. Enquanto homens continuarem massacrando animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade o que semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor"  (Ovídio, In: Metamorfoses)

Siddhartha Gautama (563 A.C - 483 A.C), o buda que conhecemos da História do budismo, é mais ameno e menos contundente, mas não menos incisivo: "A única coisa que precisamos dos animais é o perdão". (In: The teaching of Buddha)

Quarenta e seis anos depois de Cristo nasce o historiador Plutarco que também se ocupou de falar sobre a questão do consumo de carne em seu Discurso I - "Do consumo de carne":

Plutarco - Fonte: Becodasplavras.com


"(...) aos inocentes, aos mansos, os que não têm auxílio nem defesa - a esses perseguimos e matamos - só para ter um pedaço da sua carne, os privamos da luz do sol, da vida para que nasceram. Tomamos por inarticulados e inexpressivos os gritos de queixumes que eles soltam e voam em todas as direções." (Plutarco. In: Obras Morais)

Interessante percebermos que isso tem quase dois mil anos e se manteve assim, sendo, ainda, otimizado e ampliado com a aumento populacional. Naquela época não tínhamos um indústria 24 horas com alta tecnologia e bilhões de animais, mas a essência já era a de dominação, e de uso dos animais como coisa.
Viajando mil e quatrocentos depois e encontrando Leonardo Da Vinci (1452-1519), sem papas na língua, registrando anotações em seus cadernos de anatomia, onde discorre sobre a fisiologia alimentar humana e a astúcia na manipulação de animais para nossa alimentação, dizendo, com todas as letras, já naquela época,  que o homem, sem necessidade, se transforma em sepultura de animais apesar da natureza fornecer ricamente alimento suficiente, dizendo o quanto essa atividade é desnecessária, Da Vinci disse sobre a nossa ardilosidade:

Leonardo Da Vinci - Fonte: Cartacapital.com


" (....) Além de ajudá-los, aproxima-se deles para que possam gerar filhos que saciem seu paladar. assim criando sepulturas para todos os animais. E devo dizer mais, se me for permitido dizer toda a verdade: não acha que a natureza já produz alimentos o suficiente para que se satisfaça?" (In: Quaderne D'anatomia I/VI)

Nessa mesma contemporaneidade Michel de Montaigne (1533-1592) ao publicar em 1580 seu livro "Ensaios" onde ensaia a si mesmo e traça paralelos entre as sociedades daquela época e as históricas ligadas à ela e seus aspectos culturais de forma crítica, ele faz um apanhado geral do percurso desde as arenas romanas com espetáculos de mortes de animais entre si, com a extensão desses espetáculos aos homens com o advento dos gladiadores, que se matavam uns aos outros, e as manifestações da natureza bestial dos animais humanos e animais não-humanos. Nesta obra, reeditada em 2010 pela editora Companhia das Letras Michel Montaigne, diz:

Michel Montaigne - Fonte: aleteia.org

"Em Roma, depois de acostumarem-se aos espetáculos de mortes dos animais, chegaram aos homens e aos gladiadores. A própria natureza, temo, fixou no homem um instinto de desumanidade. Perdera-se o prazer de ver as outras espécies brincando entre si e acariciando-se; ninguém deixa de senti-los ao vê-los dilacerarem-se e desmembram-se. Os animais foram sacrificados pelos bárbaros para os benefícios que deles se esperavam."(In: Ensaios)

Notemos que, até a abordagem com o passar dos séculos foi se endurecendo, foi se tornando mais materialista. A abordagem de Pitágoras passava pela felicidade, pela condição de se ter alegria, paz, amor; a de Plutarco pela rudeza da ação humana de exploração e uso, a de Da Vinci pela dureza da acusação de atos tortuosos e pelo apontamento como sepulcros, chegando por fim a Montaigne que se detém na crueldade pura e simples aventando a possibilidade de isso ser um  advento inerente à condição humana. 
Chegamos ao Século XVIII, momento histórico de muitas transformações, a revolução industrial que começara em 1760 e que por ser tecnológica e precisar de 'rearranjos' políticos durou 80 anos, tendo sido considerada como estabelecida em 1820 e comportando dentro de si a revolução francesa (1789-1799), que promoveu um terremoto político para que as transformações econômicas advindas do desenvolvimento industrial pudessem ser impetradas, e com isso reestruturar toda uma sociedade em seus aspectos constituintes. Neste contexto surge Jean- Jacques Rosseau (1712-1778) com sua obra " O Bom Selvagem" apostando na boa alma existente em algum lugar recôndito no homem social, esse novo homem que vem trazer à tona os valores morais e éticos de um novo tempo. Aposta na razão e no poder de 'adonamento' que o homem tem de si, mergulhado num romantismo que se estenderá até o século XIX e se emaranhará inclusive na literatura.  Rosseau, então, diz:

Jean-Jacques Rosseau - Fonte: freemason.pt

"Envolvido num turbilhão social, basta que ele não se deixe arrastar nem pelas paixões, nem pelas opiniões dos outros homens; veja ele pelos seus olhos, sinta pelo seus coração, não o governe nenhuma autoridade, exceto a sua própria razão" (In; O bom selvagem)

Sabe nada, inocente! Essa é uma aposta e tanto no ser humano. Mas, na esteira de romantismo embricando-o com o utilitarismo que estava surgindo com as mudanças culturais por conta do novo modo de produção, o filósofo e jurista Jeremy Benthan (1748-1832) foi mais longe, e deu o ponta-pé inicial ao que mais tarde se chamaria de especismo qualificando de racismo esse exercício de superioridade dos homens em relação aos animais de outras espécies. Em sua obra de 1789 "Introdução aos princípios, à moral e à legislação" (An introdution to the principles and morals and legislation). Benthan diz: "O problema não consiste em saber se os animais podem raciocinar; tampouco interessa se eles falam ou não; o verdadeiro problema é este: Podem eles sofrer?"  
Chegamos, então, ao século XIX. Momento em que já havia acontecido os movimento que instauraram uma nova realidade econômica e política no mundo. As monarquias cairam, o regime feudal foi para o vinagre. Agora a burguesia estava estabelecida e em ascenção. Os teóricos políticos, econômicos e filósofos já sinalizavam sobre as possibilidades dos limites desse novo modo de produção fazendo análises levando em consideração esse nosso caráter de exploração e usos espúrios dos mais fracos. A revolução industrial estava de vento em popa, com produções em série, o fomento ao consumo etc. nesse contexto os que falam sobre alimentação e compaixão são inseridos na corrente 'romântica' da vida e o vegetarianismo foi considerado um romantismo idílico. Essa época de crescimento da indústria iniciava um processo de aumento de animais mortos em série devido ao crescimento populacional e das cidades, mas não tanto quanto hoje. 
Esse momento histórico traz à tona o surgimento de obras literárias que abordam o tema, e o que se vê é o recrudescimento (para os parâmetros da época) de ideias mais contundentes sobre uma alimentação sem animais e de origem vegetal. É dessa época a publicação da obra de   Joseph Ritson em 1802, intitulada: "Um Ensaio sobre a abstinência de animais na comida como um dever moral" (An essay on abstinence from animal foods: as a moral duty). Em 1811, John Frank Newton publicou "O retorno à natureza ou a defesa de uma dieta vegetal" (The return to nature or a defense for the vegetable regimen). Mas, o mais célebre deles, nesta época, foi o poeta inglês Percy Bysshe Shelley que, em 1813 publicou "A reivindicação de uma dieta natural" (A vindication of natural diet), seguido de William Lambe que, em 1815, escreveu "Água e dieta vegetal" (Water and vegetal diet) simples assim. A questão era que Lambe era médico, ou seja, uma autoridade. E isso mudou tudo. Ele endossou o discurso vegetariano como não prejudicial à saúde. Isso em plena Inglaterra do século XIX. O marco que tornou mais visível. As ideias de uma dieta vegetariana abarcou um número maior de pessoas com a publicação do livro de literatura "Frankstein" (1818) de Marie Shelley (esposa de Percy) em que o monstro composto de pedaços humanos, criados por Victor Frankstein é vegetariano e fala sobre isso aos seres humanos como uma mostra de sua pacificidade:

Marie Shelley - Fonte: quintacapa.com.br

"Não tenho que matar cordeiro e cabra para saciar meu apetite. Bolotas e bagas são suficientes para minha alimentação. Minha companheira vai ser da mesma natureza que a  minha, e vai se contentar com o mesmo que eu. Faremos a nossa cama de folhas secas; o sol vai brilhar sobre nós da mesma forma que brilha sobre os homens e vai amadurecer a nossa comida. A imagem que apresento a você é humana e pacífica." (In: Frankstein)


Com a força que essa abrangência de áreas - jurídica, médica e literária - apresentou para a sociedade inglesa, falando sobre o bem-estar animal, surge a primeira  Sociedade Vegetariana do mundo em 1847 presidida pelo médico James Simpson (1811-1870). Recebeu, então, apoio do cristianismo, por ter como base de ideias, a compaixão. 
Em 1850, o presbiteriano Sylvester Graham criador das bolachas/biscoitos 'Cracker' funda, nos Estados Unidos da América, a Sociedade Vegetariana Americana, inspirada na culturas religiosas budista, hinduísta e jainista. Sempre partindo do amor como premissa e não como dogma. 
O bichinho do amor já havia contagiado dois continentes, a ação, agora, era de aprofundamento dessas questões e assim se deu. O escritor inglês Henry Salt (1851-1939) que defendia reformas sociais e entre elas a do tratamento de animais, postulava o vegetarianismo ético influenciado pelos estudos do advogado especialista em ética Mohandas Karamchand  Gandhi sobre o vegetarianismo. Estudos esses que são considerados o pai dos direitos dos animais. Em 1892, Salt publicou o livro "Direitos animal: considerações na relação progressista social" (Animal Rights:  considered in relation to social progress) em que bota fogo no parquinho e critica a não vinculação da dieta vegetariana aos âmbitos da ético-políticos, se referindo ao consumo de ovos  e leite como não-éticos,  pois acreditava que isso corroborava para a continuação da exploração animal e assumia que esses alimentos faziam parte indispensável da alimentação humana, o que na visão de Salt, não era verdade.  Com isso , o escritor peitou a Associação  Vegetariana  inglesa que, naquela época já tinha mais de cinco mil membros. Salt defendia a conservação natural do meio ambiente e a necessidade de sua  proteção do vandalismo comercial, se revelando um verdadeiro visionário. A partir daí, cria uma liga contra crueldade animal nos esportes, como a caça, por exemplo. Sua contundência conduziria a atenção do, então, conclamado 'bem-estar animal' para o DIREITO ANIMAL. Esse movimento foi chamado de quebra epistemológica (Epistemological break). No livro "Animal Rights", Salt diz:


Henry Shakespear Stephens Salt - Fonte: henrysalt.co.uk

"A noção de que a vida de um animal não tem propósito moral, pertence a uma classe de ideias que não podem ser aceitos pelo pensamento humanitário avançado dos dias atuais - é uma suposição puramente arbitrária, em desacordo com o nosso melhor instinto, em desacordo com a nossa melhor ciência e absolutamente fatal. ( se o assunto for claramente pensado) para qualquer realização plena dos direitos dos animais. Se vamos fazer justiça às raças inferiores devemos nos livrar da noção antiquada de um 'grande abismo' fixado entre elas e a humanidade. E devemos reconhecer o vínculo comum da humanidade que une a todos os seres vivos numa fraternidade universal." (In: Animal Rights)

Isso, porque Salt não fazia ideia do que seria hoje, em pleno século XXI,  a indústria da exploração animal. E por terras brasileñas, o que estava rolando?... 
Em 1914, o jornalista paraibano Carlos Dias Fernandes escreveu o livro "Proteção aos animais" na obra ele enfatiza ao papel do ser humano, como um ser dotado de uma  consciência mais ampliada à proteção dos animais e não à sua subserviência, Com isso o jornalista criou desafetos, inclusive no meio médico, com aqueles que defendiam  a necessidade do consumo de carne para a saúde humana. Em sua defesa saiu o, também, médico e  higienista Flávio Ferreira da Silva Maroja especialista em educação sanitária publicando um artigo no jornal "A União" em 30/08/1916 intitulado: "Hygiene alimentar: regimen vegetariano e regimen carneo, confronto de opiniões, como penso a respeito." Em 1917 é criada a Sociedade Vegetariana Brasileira e sobre isso Fernandes se pronunciou, dizendo "Vai ganhando surto em todo mundo civilizado o regime vegetariano como solução prática do problema moral  econômico e terapêutico dos povos (...) vegetarianismo quer dizer vida de acordo com a natureza."

O mundo ainda não estava pronto para o veganismo. O que inclui as questões dos direitos animais, da saúde, da ética e do meio ambiente. Porém, 27 anos depois, em 1944, a despeito de tudo o que se cogitava na época, em plena Segunda Guerra Mundial, o marceneiro Donald Watson - secretário da Sociedade Vegetariana de Leicester, na Ingaterra - tentou garantir um espaço no editorial da instituição para discussão do tema. Como a proposta não foi aceita ele reuniu cinco vegetarianos éticos no Attic Club em Londres para discutir a criação do veganismo como um aperfeiçoamento do vegetarianismo. O grupo sofreu resistência, mas aguentou firme cunhando um termo novo "VEGAN' e fundaram a "The Vegan Society" que tinha uma mulher como co-fundadora Elsie Shringley. O boletim informativo da Sociedade vegana o "Vegan News" foi criado e, a partir daí, grandes nomes aderiram ao movimento ético-filosófico que tem muitas interseccionalidades (meio ambiente, saúde, ética, compaixão, questões de classe, etc.) O dramaturgo e escritor George Bernard Shaw que estava entre os leitores da primeira edição parou de consumir leite e ovos quando soube do que envolve a produção desses insumos e escreveu em seu diário: 

George Bernard Shaw - Fonte: amenteemaravilhosa.com.br

"Os animais são meus amigos...eu não como meus amigos. Enquanto formos túmulos vivos dos animais assassinados, como poderemos esperar uma condição ideal de vida nessa terra? (...) quando um homem mata um tigre ele chama isso de esporte, mas quando um tigre mata uma pessoa, dizem que isso é ferocidade". (George Bernard Shaw)

Em 1945 o boletim passou a chamar "The Vegan" e contava com mais de 500 assinantes, A partir desses movimentos Fay K Henderson começou a publicar receitas veganas num livro chamado "Vegan Recipes" (que é vendido até hoje) e Kathleen V. Mayo publicou "Aids to vegan diets for children". Em 1948 foi a vez de Katherine Nimmo e Rubem Abramovitz fundarem a "Vegan Society" na Califórnia. Em 1949 os objetivos estavam mais bem definidos, a prioridade seria pelo fim da exploração animal (alimentos, commodities, trabalho, caça, vivisecção). Surge, em 1956, a primeira empresa fabricante de leites vegetais a "Plant milk", na Inglaterra. Em 1960, H. Jay Dinshah criou a American Vegan Society aliando veganismo e Ahimsa (não-violência). Em 1962 o termo "Vegan" apareceu pela primeira vez em um dicionário. Em 1979, a Vegan Society aprovou seus objetivos e neles inclui o desenvolvimento e a criação de alternativas de produtos sem uso de animais beneficiando, também, o meio ambiente. Sendo o objetivo maior: PROMOVER CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A EXPLORAÇÃO ANIMAL.
Em 1994, ao completar 50 anos "The Vegan Society" instituiu o dia 1º de Novembro como o dia mundial do veganismo. Donald Watson em 2005 um pouco antes de falecer (aos 95 anos de idade) concedeu uma entrevista para George Roger, dizendo:

Donald Watson - Fonte: bbc.com

"É algo realmente grande que desconhecíamos quando criamos o veganismo, criticado por muitos, mas sobre o qual ninguém tem nenhuma prova contra." (Donald Watson em uma entrevista)

Hoje, lutamos para conscientizar as pessoas sobre a vilania da indústria da carne que mata animais 24 horas por dia, para consumo. São mais de 70 bilhões (70.000.000.000) de animais terrestres (sem contar os aquáticos) mortos por ano no mundo inteiro. Isso dá:
 - 5. 833. 333, 333 (cinco bilhões, oitocentos e trinta e três milhões, trezentos e trinta e três mil, trezentos e trinta e três) animais mortos por mês.
- 194. 444, 444 (cento e noventa e quatro milhões, quatrocentos e quarenta e quatro mil, quatrocentos e quarenta e quatro) animais mortos por dia
- 8. 101, 851 (oito milhões cento e um mil, oitocentos e cinquenta e um animais mortos) por hora
- 135. 030 (cento e trinta e cinco mil e trinta) animais mortos por segundo.

Hoje, tirar animais e seus derivados do prato não é tão difícil quanto foi em 1944. Hoje, temos uma gastronomia que inventa mil e uma receitas que facilitam a transição. Comer sem carne sai mais barato do que se alimentar de carne, principalmente se a opção for por vegetais in natura (sem pratos processados, gourmetizados, vamos falar sobre isso no texto: "Mitos do veganismo").

Pense a respeito!


"Não é sobre fechar a boca, é sobre abrir o coração" 
(autor desconhecido)



REFERÊNCIAS



CANDID Hominid (História do veganismo)

INTERNATIONAL Vegetarian Union.  (Onde estavam os veganos no mundo antigo?)

TIME, Revista. (A História do Veganismo)

VEGAN Society The (a história da sociedade)





sexta-feira, 8 de abril de 2022

CONFISSÕES PANDÊMICAS

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Fonte: seedsbrasil.com

Não, não sou das redes sociais, nem meu espírito, nem minha geração. Mas, sim, sou das contextualizações, dada às adaptações, sou aquela que sabe que a vida segue em frente e que sempre temos muito a aprender. Que as novas gerações, com sua maneira de pensar, seu modo de ver o mundo e sua tecnologia (vide o vale do silício) têm muito a nos ensinar. Então, se as redes sociais são o que temos para hoje para existirmos, mesmo com todos os prós e contras, que seja! 

Esse espaço - o Conversa Afinada -  sempre foi esporádico, aqui se fala sobre os modos de ver o mundo, sobre poesia, filmes, sobre educação do caráter, da espiritualidade e de atitudes cotidianas que podem mudar nossas vidas, e consequentemente, o mundo. Enfim, de coisas que nos deslumbram, coisas boas, vibrações do bem que merecem ser registradas para refletirmos.

Há dois anos e três semanas me tornei vegetariana estrita (sem consumo de qualquer produto de origem animal na alimentação). Há dois anos iniciei um processo de limpeza de toxinas e de saúde plena, que já se apresentavam como necessidade, e que foram impulsionados pelo advento da pandemia. Há dois anos vejo o mundo diferente, sei de coisas que não sabia antes, desenvolvi sentimentos (amor, compaixão) por seres que jamais imaginei, desenvolvi atitudes que nunca ser ser capaz de praticar e tenho testemunhado seus efeitos em mim e no meu entorno. E isso tem me conectado com algo maior do que eu. Depois desse tempo de isolamento quase distópico, de convívio comigo mesma de uma forma muito diferente do que havia 'experienciado' antes; assimilando experiências pessoais muito profundas criei coragem para falar sobre isso. Sobre o quanto esse período sui generis me mudou e o que significou deixar de consumir a carne dos outros, seus flúidos e células-ovo; o que significou na minha saúde e na minha forma de ver e sentir o mundo o não consumo do outro e de todos os processos de sofrimento pelos quais passam, e o que foi o processo doloroso de ver/saber/conhecer  isso. Paul Maccartney diz que: "Se as paredes de um matadouro fossem de vidro, ninguém, jamais consumiria carne". Concordo, pois o que os olhos não veem o coração não sente. Mas, será que aquilo que os olhos não veem a alma não sente? os corpo vibracional de nossos corpos físicos não sente? O corpo físico não reage? (vou deixar um vídeo no final do texto sobre saúde na alimentação)

Somos os indivíduos que querem que tudo seja provado, demonstrado, fotografado dentro dos nossos parâmetros epistemológicos para que acreditemos. Sabendo que nosso conhecimento de mundo são EXPLICAÇÕES de mundo dentro de nosso arcabouço de conhecimento dele. Ou, seja, é invenção, é criação dentro do contexto do que sabemos (que pode mais tarde se demonstrar que não era nada disso). Mas, hoje, aquilo que nossas 'explicações' não dão conta, não serve. Não é porque não vemos o sofrimento de 'alguém' que esse sofrimento não existe. Mas, o que eu fizer para acirrar esse sofrimento, mesmo que eu não saiba que é sofrimento, não deixa de ser cumplicidade. O que muda é a responsabilidade. Se eu não sei o que significa o que fiz, não posso ser responsabilizada. Mas se eu sei o que é, se me tornei sabedor do sofrimento, dos tipos de sofrimentos (são vários: físicos, psicológicos e de dignidade) e do meu papel nesse processo, passo, sim a ser responsável pelo que lhe acontece. Alguém pode me argúir sobre quem me impinge esta responsabilidade...possivelmente, uma lei que está além do nosso arcabouço de 'explicação' de mundo e que em algum lugar recôndito dentro de mim ela se manifesta e grita; e eu abafei e fingi que não sentia e fechaeios olhos para não ver alguma coisa que a eu já tinha desconfiado, ou vislumbrado. Será que por ser tão onírico deixa de ser uma possibilidade de verdade? Esse foi o processo pelo qual passei a partir do dia 11/03/2020.

Por conta da declaração do caráter sanitário pelo qual passamos fui buscar as relações do ser humano com os animais e a natureza (sei que os que me conhecem podem estar pensando...Mas, Sonia, tu és tão inteligente, tão bem informada, não sabias? Não, não do jeito que é) Assim como todo mundo, mesmo sabendo que a propaganda é o cão vestido de anjo, eu comprava a ideia da vaca feliz, dos ovos de fazenda, da pesca solitária (eu sei que parece ingenuidade, mas é não querer saber, é ser ludibriado pelo paladar e pelo costume), não sei se por preguiça, comodismo, falta de tempo ou tudo isso como desculpa - eu tinha outras prioridades - nunca fui buscar, nunca fui pesquisar. Quando o fiz - e a pandemia me deu tempo suficiente para isso - a minha imagem de mim para mim mesma foi para o ralo. Me senti a pessoa mais imbecil do mundo, uma pessoa metida a inteligente e curiosa que tendo todo o acesso a informação de qualquer lugar do mundo, eu era cúmplice dolosa de crueldade e de sofrimento, quiçá, do maior holocausto animal da História do planeta. Me cobri de vergonha, desolação e culpa. Creio que o período de pandemia, para mim, foi o momento mais pesado da minha vida, o momento de 'mea culpa' por várias encarnações. Chorei por dois dias, passei esse período de cara inchada, sofri de verdade. Os vizinhos perguntavam: "Está tudo bem?" Não, não estava. Nem para mim, nem para ninguém, por motivos diferentes. Mas todos dentro do mesmo espectro: o desrespeito à natureza e à vida por parte de toda humanidade em níveis e intensidades diferentes, conscientes disso ou não. 

Seis meses depois estava mais leve (literalmente), mais saudável (fiz exames para atestar isso), mais amorosa, mais compassiva, menos raivosa, menos rancorosa, mais focada e mais espiritualizada (não me refiro a religião) e querendo compartilhar com outras pessoas da possibilidade dessa visão e modo de estar no mundo. Nessa mudança pela qual estamos passando como humanidade planetária, como sociedade, como indivíduos; nessa ampliação de consciência para o que está em nosso entorno -  o outro, a natureza, o meio ambiente -  e suas conexões, ter um espaço que possa ser fomentador de ideias novas, propositor de diálogos e  conversas sobre temas como mudança de hábitos nocivos a nós, à natureza, aos animais e ao meio ambiente é como uma chance de expurgar minha culpa pela indolência na busca de informação durante tanto tempo e por causar tanta dor desnecessária. 

Sim, depois de dois anos de processo de transformação me tornei ativista do direito dos animais e pela vida do planeta. Como boa cinquentona, serei mais comedida, polida, menos contundente, mas nem por isso menos astuta. E sempre grata  ao Cosmos pela oportunidade de fazer esta mudança ainda em vida nessa encarnação e ter a coragem e os instrumentos para lutar por isso com compassividade, é claro. A partir de agora vou compartilhar com vocês as minhas reflexões sobre o tema. Qual? MUDANÇA. Mudança em todo os seus aspectos, na alimentação, no lazer, na vestimenta, no uso de produtos de higiene e limpeza e na maquiagem; mudança de consciência, perceber mais o que está o nosso redor, olhar com outros olhos para tudo, principalmente para o planeta, essa mãe que nos dá o alimento, as condições de vida e o corpo de que dispomos até devolvê-lo a ela.  Por conseguinte, esse é o momento de declarar a maior das mudanças por aqui. Acompanhando a energia do planeta e das novas gerações o CONVERSA  AFINADA e essa vos escreve, a partir de agora é um blog e uma editora VEGANOS. As publicações anteriores serão mantidas como um rastro do caminho percorrido até aqui, um registro do meu processo de maturidade em todos os sentidos, desde os temas à escrita e suas formas, passando pelo desenvolvimento como pessoa, como cidadã, como profissional de educação e ser humano integrado às questões pertinentes à humanidade e sua evolução. 

Nessa vibe deixa eu contribuir para ampliação de consciência geral e para o conhecimento do nível de responsabilidade para com os nossos irmãos sencientes.  Abaixo deixo links, que descrevo um a um, sobre informações importantes para um melhor conhecimento de nossa realidade nessa ladeia global, desde informações médicas e nutricionais para uma alimentação vegetariana estrita até audiovisuais com informações sobre o trato com os animais na indústria da alimentação. 


Entrevista com o Dr.Erick Slywitch (CRM: 105.231 - Mestre em Nutrição, especialista em Nutrologia. diretor do departamento de Medicina de Nutrição da Sociedade Vegana Brasileira (SBV)).


Os links a seguir são de documentários - os que estão disponíveis no Youtube - e trailers - os que estão disponíveis em outras plataformas streamings -, eles foram adicionados de acordo com a nível de impactação de forma crescente. 

Seaspiracy. (Trailer do documentário disponível na plataforma streaming Netflix)


Cowspiracy (documentário completo)


A Carne é Fraca ( documentário completo)


Carne e Osso (documentário completo)


Domínio (documentário completo)


Terráqueos (documentário completo)

domingo, 9 de agosto de 2020

CABELOS DA TERRA

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Árvore chamada Dragoeira, localizada em Socoba no nordeste da África. Foto: Beth Moon no livro: "Ancient Threes: Portraid of Time /Abbeville Press 
 
Tempos difíceis...  para falar o de menos. Como não pensar nos milhares de mortos da pandemia? Como não pensar nas polaridades políticas e não se indignar com elas, trazendo um ranço de energia ruim para o nosso cotidiano? Como não pensar no Líbano e nas complexidade de forças que ali atuam e com o que aconteceu esta semana? Como não pensar no aproveitamento hediondo de uma pandemia pela política nacional e internacional para se forçar ações nas questões geo-políticas-econômicas do planeta que, jamais seriam cogitadas, se não estivéssemos vivendo o caos ou o princípio do fim?
Evadir-se para uma galáxia muito, muito distante (Star Wars, 1977) é uma excelente maneira de se afastar da ilha para se conseguir ver a ilha (Saramago, 1997). Parar e pensar holísticamente naquilo que nos cerca e no que somos dentro desse contexto, talvez  nos explique, possivelmente até justifique, tudo o que passamos hoje. Entrar em introspecção e procurar nos afastarmos dos maus pensamento e energias malévolas, abundantes neste momento, talvez nos ajude a perceber nosso tamanho, nosso vão desespero ao não conseguirmos controlar forças que estão acima de nós. E que, por não as controlarmos temos que admitir... estão acima de nós (embora não saibamos o que é).
Vivemos num mundo/dimensão o qual pensamos ser donos e agimos como tal. Por termos consciência e autoconsciência (seja lá de que nível for) estamos no topo da cadeia dos seres que compõem esse mundo. Por esse critério acreditamos sermos 'superiores' aos demais seres. Se o critério for integração e harmonia a premissa é inversamente proporcional, somos menores que um protozoário que, sem consciência vive e cumpre sua função em harmonia com o seu entorno, se nada ou ninguém o desequilibrar. Em nossa atuação como "superiores" que criam e resolvem problemas, que inventam artefatos para facilitar a vida e o cotidiano (sempre ao nosso bel prazer, é claro), que explicam fenômenos e que desenvolvem ciências, nos adonamos daquilo ao qual pertencemos, daquilo de que fazemos parte como mais um componente nessa engrenagem natural de seres.
Mudamos tudo: nossa fisiologia (quando a desrespeitamos em função de um modo de produção), mudamos o meio ambiente (quando desviamos percursos de rios, desmatamos para criar gado, envenenamos os rios para extrair minerais). Nos adonamos do corpo de Gaia e a esburacamos sem dó nem piedade, saqueamos seus órgãos minerais, testamos bombas atômicas em seu interior a incríveis profundidades, obstruímos suas veias, passamos máquina zero em seus lindos e verdes cabelos, sem pensarmos para quê estão ali, muito menos para o que servem. Os oceanos transformamos em lixões para plásticos e cemitérios para navios que não queremos mais. Estamos transformando nossa casa num inferno e aceleramos isso brutalmente nos últimos cem anos.
O poder é nosso prato favorito - digo nosso, porque pertencemos à espécie que o faz - usamos o poder espúrio para tudo desde o jardim de infância quando escolhemos quem brinca com nossos brinquedos e como o deve fazer, por que é nosso; para decidir quem vai ser nosso amiguinho segundo nossos critérios e, de quem ele não pode ser amigo, se quiser manter nossa 'preciosa' amizade; o que pode fazer ou não quem namora ou se casa conosco; o que pode ou não pode fazer quem sustentamos; quais oportunidades vão ter quem está subalterno a nós, quem não tem a mesma cor de pele; qual país pode ou não pode ter uma arma nuclear - só por construí-la já estamos a dizer o que somos -; quais sanções terão as comunidades que não concordam conosco e/ou que tenham outro viés ideológico; como deve se comportar um país que esteja assentado sobre combustível fóssil.... E resolvemos tudo à bala.
Pertencentes a Gaia como um de seus seres a usurpamos e nossos investimentos são bélicos com vistas a ameaçar e suplantar o outro, ferindo inclusive o planeta. Não nos sentimos parte integrante dessa criação estupenda para cuidar, zelar, usufruir, viver e agradecer. O equilíbrio desse projeto indescritível não nos interessa. Ao contrário, quanto mais o bagunçarmos deixando nossa marca de território, melhor. Entendemos toda essa grandeza como sendo um objeto a nosso dispor. Que pretensão!!! 
Nossa pequenez de entendimento e consciência é vergonhosa. Uma árvore evolui mais que nós. Sim. Elas já chegaram ao ápice de sua evolução. Àquilo para o qual elas foram desenhadas já alcançou seu nível pleno. Árvores são projetos prontos, perfeitos, cujo estágio atual é servir, doar-se, transmutar energias e substâncias. Nos dão sombra, frutos, paz, alguns outros alimentos e, em pequena escala, oxigênio - as algas, também vegetais, o produzem em maior escala. Absorvem nossas energias densas, pesadas e ligam a terra aos céus (entender essa expressão como poesia é uma opção mais digestiva)
A partir de uma pequena semente que já tem em si todo a consciência da árvore que se tornará - se não interrompermos o processo - ela sai do nível mais tenro da terra, aprofunda suas raízes, cresce, amadurece, se alimenta do sol e entrega toda essa energia vital para nós. Doando-se e ligando-se ao etéreo em alturas que não conseguiríamos chegar em nossos parcos tamanhos. Os vegetais protegem ao solo e a nós. São testemunhas vivas e mudas, por séculos, de tudo o que acontece em seu entorno e, quiçá, no planeta. Já imaginaram o que uma árvore teria a dizer se falasse? Esses seres em sua missão já são maiores que nós que, ainda estamos nos estágios iniciais de nossa evolução e rumando a largos passos para a própria extinção. Cada espécie tem sua especificidade. Pensar e raciocinar não é especificidade de um vegetal. Para o que ele foi desenhado ele já chegou onde tinha que chegar com sucesso. Já nós....Estamos deixando Gaia careca. Não sabemos receber o que essa mãe, que nem a enxergamos assim, tem a nos oferecer. Por conseguinte, não somos merecedores. 
Perguntem a um índio o que é uma  árvore. Ah!!! eu esqueci! A gente também acha índio inferior.... Se paramos para pensar que a prepotência é um indício de inferioridade, de não saber lidar com suas limitações, de não aceitar que não sabe, que não conhece, que tem que aprender isso ou aquilo que não entende, nós - seres humanos e sociedade ocidental judaico cristã, capitalista - é que somos inferiores dentre todos os seres que vivem em Gaia. Somos a parte da experiência que não está dando certo.
A força-motriz que está contida na semente de uma árvore é a mesma contida em um óvulo e em um espermatozóide o que muda é o projeto de criatura. É ai que que está a fonte de onde viemos...ou seja de um mesmo lugar. É aí que está inscrito que somos todos UM. E isso inclui os animais, os insetos, os microorganismos e ....Gaia.
O que fazemos recebemos de volta. Não somente em nossas ações pessoais como também em nossas ações coletivas. O que plantamos colhemos e não é no nosso tempo de entendimento. Mas, colhemos no tempo que tem que ser. Se isso for mesmo assim, acreditar ou não, não vai fazer a menor diferença. O que fará diferença é semear o bem, o melhor, o bom, a harmonia, o respeito, a vida, o amor a tudo e a todos. Quando semeamos belicismo,colhemos belicismo. Quando semeamos destruição, colhemos destruição. Quando semeamos o ódio, colhemos ódio. Estamos semeando a destruição da nosso única casa, logo, natural se faz que colhamos nossa própria destruição.Estamos matando as florestas, os animais, os oceanos, os rios, os negros, os índios, os pobres do mundo. Nosso modo de produção escraviza 90% da população mundial para enriquecer a 5% de privilegiados. Usurpamos a tudo e a todos e queremos ser felizes.....Manga não dá em pé de goiaba.
Ao invés de me entristecer, me irar, me revoltar contra tudo o que percebo e vejo - por mais que evite, vejo - procuro pensar neste corpo majestoso que é Gaia, sendo torturada e ainda  assim, nos dando água, sombra e frutos. Procuro pensar na grandiosidade de uma árvore que transmuta nossas energias ruins ligando a terra aos  céus. Fazendo o que ela pode com amor para ajudar-nos a elevar-nos a uma outra dimensão: a da harmonia, da gratidão, do entendimento de nós mesmos, de nossa realidade e do amor fraternal. O amor fraternal dessa força-motriz que anima a todos nós, nos perdoa, quem nos pune somos nós mesmos com nossas atitudes gerando as consequências que recebemos. 
Colhemos o que plantamos!.... Plantar é uma metáfora profunda, poderosa e visceral que faz justiça ao lugar que devem estar como referências - pelo menos em nossos discursos - àqueles seres que, de acordo com seu design, são os únicos evoluídos entre nós. 
Que aprendamos que pé de manga dá manga e pé de goiaba dá goiaba.