domingo, 13 de julho de 2014

FORMIGUEIRO

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Esqueçamos a visão sociológica do formigueiro como simbologia de tecnicalismos, automação sem pensamento, exército de braços em consonância, feito relógio suíço (o fordismo no trabalho).
Não é essa a vertente que tem graça. Tudo tem dois lados (no mínimo) e o lado que admite a licença poética, esse recheio de doce de leite da vida, é muito mais bonito, muito mais vivificante.
Temos muito o que aprender com as formigas. Esses insetos insignificantes que passam ao nosso largo sem serem percebidos ou para serem varridos pelo nosso desprezo.
Existem muito mais formigas na terra do que gente. O planeta é delas. Elas são pequenas, são muitas e unidas e isso faz delas muito maior que muitas espécies, fora suas peculiaridades. Uma formiga carrega até cem vezes o seu peso, nenhuma espécie consegue isso. As formigas constroem cidades imensas, com uma desenvoltura arquitetônica espetacular e, cidades essas, muito maiores que a nossas, se formos levar em consideração a proporção de seu tamanho e a capacidade que têm de percorrer distâncias. As formigas são guerreiras, defendem seus formigueiros, suas "casas", sua rainha (sua raiz/origem). Nós entregamos as nossas. As formigas são previdentes, armazenam alimentos (meia tonelada por ano), é como se pensassem no amanhã, como se fizessem planejamentos anti-imprevistos. As formigas são um nadinha em relação ao mundo que vivemos, tanto quanto somos em relação ao universo, mas fazem diferença. Se não fossem elas a consumirem outros seres em decomposição, nós, os donos do pedaço, não conseguiríamos viver num mundo sem assepsia e pereceríamos. Elas consomem mais carne que tigres, leões e lobos juntos. Não daríamos conta do que as formigas fazem.
Mas temos muito em comum. As formigas também mantém animais domésticos. Isso mesmo, os pulgões. São movidas pela química. O que as guia são estradas de cheiros deixadas pelas outras. Possuem sistemas de comunicações secretos, códigos e mensagens clandestinas. Como nós, através dos olhares e da leitura corporal.
Agora, as diferenças são abissais. O tamanho, o raciocínio, a capacidade de afeto, etc... Formigas não amam, não pensam, não tomam decisões. São autômatos especializados, nascidas para a função que desempenham e não evoluem existencialmente... Apenas existem.
Nós temos limitações cabais, em relação à constituição de sociedade e convívio social, se comparar-mo-nos às formigas. Talvez, nem sejamos tão importantes para o mundo tal qual elas o são. Às vezes somos muito mais afeitos à destruição.
O que me ocorre é a possibilidade de pensar a nossa própria melhora a partir do modo de olhar e do lugar de onde se olha. Refletir sobre a nossa existência olhando para baixo, para as formigas. Sua organização, respeito ao outro, solidariedade, capacidade de luta (defesa - nunca ataque) e o uso de potencialidades naturais colada pela argamassa do afeto ( no nosso caso) 
As vezes aprendemos com o que menos imaginamos. Olhar para baixo nem sempre é "baixar a cabeça", às vezes, é encontrar um modo brando de exercício da própria superioridade. As vezes, é viver para além de, simplesmente, existir.

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