domingo, 21 de dezembro de 2014

POSTERIDADE

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Todos nós, mortais, de uma forma ou de outra, nos preocupamos com o que deixaremos para a humanidade. Mesmo que não definamos esse desejo dessa maneira, pensamos no que deixaremos em nossos filhos, netos, bisnetos e tal, como legado do que fomos, como representatividade de nossa estada aqui.
Alguns têm plena consciência disso, outros não. Mas, mesmo assim agem da mesma maneira, com o mesmo objetivo. Existem alguns personagens históricos/mitológicos que são quase,  que guardiões dessa premissa. Aquiles, o guerreiro grego que tinha seu ponto fraco no calcanhar, antes de envolver-se na batalha de Tróia, reza a lenda, que em conversa com a  mãe, ainda em processo de decisão ouviu dela: O que buscas? Se for ser lembrado por mim, seus filhos e seus netos, fique. Mas não serás lembrado por ninguém mais. Porém, se fores para a batalha, eu nunca mais o verei. Mas serás lembrado por mim, pelas futuras gerações e por toda a humanidade, enquanto essa existir. Salvaguardadas as devidas proporções, queremos o mesmo, sermos lembrados.
Não nos damos conta que construímos essa lembrança todos os dias, passo a passo, no nosso cotidiano, no silêncio de nossas vidas, no anonimato em uma multidão de sete bilhões de pessoas. Alguns metaforizam essa premissa nas expressão: "ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro".
Às vezes, me pergunto por que passam por nós pessoas como: José Saramago, Garrincha, Muhammad Ali, Ghandi, Martin Luther King, Madre Teresa ou a história do seu Zé, do fim da rua, como  histórias de exemplo a serem seguidos ou não. Por que essa histórias nos alcançam?
Por que saber o que alguém escrevia sobre a nossa cegueira cotidiana e o quanto enxergava tudo magistralmente? Por que acompanhar os altos e baixos de uma vida igual a nossa com um talento majestoso? Por que me tocar com a história de alguém que opta por ganhar a vida se vilipendiando até se encontrar com um conjunto de ideias que arrebatam tanto que o fazem mudar de nome? Por que saber quem foi e o que fez um hindu que tinha uma complacência e uma sabedoria assustadoras? Por que ter acesso a ideologia e coragem de um negro norte-americano que lutava por igualdade de direitos? Por que saber quem foi uma albanesa que defendia os pobres na Índia, protegida por uma religião, mas de uma grandiosidade que transcendia a todas elas? Por que me alcança a história do vizinho da rua?
Talvez, porque um detalhe em cada uma dessas histórias eu precisasse para construir a minha  e outras pessoas precisassem de outros detalhe para construir a sua. Talvez, seja tão importante o nosso cotidiano, nossas ações simples, nossas atitudes sem a intenção da posteridade, sem a noção de que  estamos sendo observados. Talvez, a posteridade de mortais anônimos seja ser um exemplo em alguma coisa para quem está ao nosso lado. Talvez, o silêncio num momento de aborrecimento, uma decisão mais veemente num momento mais adequado, uma ação de apoio a uma causa que parece perdida, seja o que vai ficar de nós no outro, para a posteridade. Cada momento de nossa atuação no cotidiano, possivelmente, seja mais importante do que imaginamos.
 
 
P.s: A inspiração para escrita desse texto veio do documentário sobre a vida profissional do piloto brasileiro de fórmula I Ayrton Senna. (Aqui!)
 
 

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