domingo, 12 de maio de 2013

O PERDÃO

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Diz-se do perdão que é esquecer, que é conceder misericórdia a alguém, e assim  o perdão fica envolto numa aura religiosa, quase divina em que subtende-se que, quem perdoa é um ser superior oferecendo uma benesse a alguem menor,  mais que isso, que oferece a outra face e dá uma segunda chance ao seu algoz de fazer tudo novamente. Talvez não seja  bem assim. 
Tentando ser coerente,  perdão é 'dessignificação', tirar a importância, destituir de peso, abandonar algo que caiu mal, que incomodou, que prejudicou, que decepcionou. Perdoar é tirar do centro da vida, do foco da atenção alguma coisa tremendamente dolorosa. 
Toda ação ferina, seja ela qual for, é digna de perdão. Porque o alvo da ação é merecedor de paz, de vida e de saúde. Isso mesmo, o perdão é uma atitude de auto-estima indescritível, quem se gosta, perdoa, 'desimportantiza' o ato e seus autores. 
Quando não perdoamos, quando não 'dessignificamos', somos nós que adoecemos, somos nós que padecemos, somos nós que deixamos de perceber alguém especial do nosso lado, somos nós que não vemos o espetáculo que é o pôr-do-sol, que não atentamos para a singeleza de uma flor, que deixamos de sentir o prazer do cheiro da chuva na terra, que paramos de cantar, que deixamos de enlevar-mo-nos com uma música grandiosa, que não nos deleitamos com um bouquet de um vinho, que desaprendemos a ver a graça e a singularidade do sorriso alheio e que, além de  perder tempo e vida, 'empoderamos' o algoz.
O perdão é remédio, o perdão é paz, o perdão é um tapa com luva de pelica, o perdão é uma declaração de amor a si mesmo. Nós merecemos acordar em paz, leves, cheios de saúde, de disposição; nós merecemos ter a oportunidade de desfrutar tudo o que os nossos olhos e nossas almas puderem captar; nós merecemos nos relacionar com o outro com a alma limpa; nós merecemos uma vida cheia de luz, de esperança e sentimentos verdadeiros.
Perdoar é esquecer, sim. Nada de remoer o assunto, nada de ruminar questões, nada de comentar com as amigas. Ao invés disso, leiamos um bom livro, assistamos bons filmes, vamos ao teatro, beijemos na boca, façamos sexo, viajemos, matricule-mo-nos em um curso, corramos, caminhemos, saiamos com os amigos para rir, substituamos a química da murmuração pela da felicidade, não tem receita melhor, é tiro-e-queda.
Perdoar não é um presente para o outro é uma dádiva para nós mesmos. Perdoar é o egoísmo mais nobre que alguém pode ser capaz de usufruir. Seja egoísta você também, perdoe e levante acampamento, sacuda a poeira dos pés e vá em frente sem olhar pra trás.

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