domingo, 14 de agosto de 2011

A NOSSA CASA

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A nossa casa tem janelas, portas, quartos, sala, cozinha, banheiro, varanda e quintal.
As janelas da nossa casa tem a cor que a natureza escolheu. A cor que foi combinada silenciosamente  por vinte e uma entidades nanoscópicas. Podem ser azuis, verdes, castanhas ou negras, mas são as nossas janelas. Delas vemos o mundo, assistimos a vida, observamos o passar do tempo e são nossos faróis, os sinalizadores do que acontece no resto da casa. Nos expressamos pelas janelas, elas podem estar abertas, semi-serradas ou serradas, e estes estados tem significados mil, que outras casas e outras janelas saberão traduzir.
As portas da nossa casa são igualmente importantes, delas saem e entram o que precisamos, pessoas, palavras, sentimentos, declarações. As portas da nossa casa falam, escutam, excretam, parem, beijam, copulam. As portas da nossa casa são a simbologia do para que serve a nossa casa.
 Os quartos da nossa casa nos guardam, nos protegem, protegem o que somos, o que construímos. São nossa memória, nossos arquivos, neles estão nossos sonhos, nossas aspirações, neles descansamos, refazemos nossas forças e plasmamos nossos afazeres.
 A sala de nossa casa é o perímetro milimetrado no qual permitimos que os outros adentrem, ali colocamos o que queremos que seja visto, a noção de conforto que possuímos e que permitimos que o outro usufrua. A sala da nossa casa é o nosso cartão de apresentação, é o nosso trato a outrem. A nossa civilidade, educação e prazer de estar junto.
 A cozinha da nossa casa é, por certo, o lugar mais importante, é ali que é processado nosso alimento, nosso combustível, é ali que é feito o nosso dia-a-dia, a nossa construção.  É o gerador de energia de todo o empreendimento "vivenda". Ela tem que estar sempre abastecida e limpa. É a força motriz da existência. É a alma que nos move.
O banheiro de nossa casa é casa de limpeza, de despejo do que não precisamos mais, de despojo do que foi processado. Também é lugar de "refazimento", de lavagem da alma, de limpeza do corpo, lugar de deixar o pó do dia, a poeira da empreitada, é o lugar da capacidade de se refazer.
A varanda da nossa casa é o lugar de contemplação, lugar de confecção de artesanato, espaço de gestação das idéias, do que colocamos em casa. Espaço largo, à frente do principal, pode existir ou não, ser usado ou não. Mas, sempre estará lá. O ventre construtor da existência por obra artesã.
O  quintal da nossa casa é a cara externa do que é a nossa casa, tudo o que não cabe vai pra lá; o que chega vem por lá. O quintal é o nosso entorno. O campo de força que protege, que seleciona, um bom quintal é sinal de boa proteção, de casa saudável.
Mas afinal, o que é uma casa? um lugar que você escolhe, constrói, para viver durante um período. Uma cúpula de proteção das intempéries da natureza, de descanso, de alegrias, tristezas, conflagrações, filosofias e questionamentos. Um lugar em que se vive. Mas a casa a que me refiro não é comum, além das janelas, portas, quartos, sala, cozinha, banheiro, varanda e quintal , ela tem pernas, braços, cabeça e pensa
A casa a que me refiro tem janelas que enxergam ou não; tem portas que usam batom ou não; tem quartos que as vezes tem alzheimer ou não; tem salas que ás vezes não têm trato, educação, nem polimento; tem cozinhas que são doentes, que não amam, que não sentem ou não; tem banheiros que não têm capacidade de processamento de dejetos; tem varandas que gestam ou não e quintais limpo ou não.
A casa que é nossa é o nosso corpo. A nossa morada confundida conosco mesmo. Às vezes cuidamos, às vezes abusamos, às vezes usamos nossa casa para SERMOS. Quando na verdade o ter da vida é só ela. A única coisa que, de fato, você TEM é a que você pensa que você É. Somos caracóis pensantes.










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