domingo, 6 de maio de 2012

A DESIMPORTÂNCIA

Partilhar
Vivemos a vida procurando coisas importantes para fazer, assistir uma peça de teatro importante, participar de uma palestra importante, termos amigos importantes, sermos importantes no nosso cotidiano, no contexto familiar, social, profissional.
Na nossa cultura a palavra importância tem peso relevante. Somos respeitados se temos ao nosso redor "importâncias" e não reparamos que até a importância é devir. O que foi importante ontem já não o é hoje, o que é importante hoje não o será amanhã.
A importância também é relativa, transformamos coisas simples em coisas importantes, porque são nossas. Algo que é importante para uns pode não sê-lo para outros. Categorizamos a importância, damos prioridades àquilo que consideramos mais importante e elegemos as que são menos importantes. Fazemos isso para sistematizarmos nossa vida.
Damos tanta importância a importância que nos esquecemos do valor da desimportância. Associamos a desimportância com negativismo, rejeição, desprezo, não aceitação, mas a desimportância tem sua importância.
A desimportância faz-nos desapegar, saber largar, destralhar, seguir adiante. Se assim não fosse, teríamos um HD de memória emocional tão grande e extenso de situações que não mais fazem parte de nosso cotidiano, que comprometeríamos nossa qualidade de vida psíquica, não suportaríamos tantas informações desnecessárias tão vívidas e punjantes quanto à época em que aconteceram os fatos. Se assim não fosse, teríamos que ter um cômodo a mais em nossas casas para guardar todas as quinquilharias das quais não conseguiríamos nos desapegar, desde aquela fralda com a qual dormíamos quando bebês, passando pelo primeiro soutien até a última aliança do último relacionamento, comprometendo nosso aproveitamento de espaço e aumentando a conta de IPTU.  A desimportância transforma sensações, sentimentos e objetos em lembranças para que possamos ter uma história, um referencial sem excesso de bagagem.
A forma de lidar com a desimportância diz que nível de desprendimento temos, a velocidade na qual cresceremos, a maturidade que possuimos para lidar com situações novas. Assimilar mal a desimportância nos adoece.
A desimportância é o destralhar das energias velhas, deixando fluir as novas. A desimportância é mudança de nível no curso da vida. A desimportância é a chave para sobreviver sem traumas e certificado de saúde mental e emocional. Se pensarmos bem a desimportância é mais importante que a importância. Viva a desimportância!

Nenhum comentário:

Postar um comentário