domingo, 29 de julho de 2012

ESCREVER

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Esta  semana (25/07) comemorou-se o dia do escritor. Define-se escritor como sendo alguém que escreve profissionalmente, porém, nada é estático, com as multiplicações de veículos de escrita, colunas de jornais digitais, blogs, notas do facebook, etc... Contextualmente, escritor é quem escreve e se expõe através do veículo escolhido. Temos os que escrevem por prazer, por terapia, por profissão, por brincadeira e tal. Já que é a pauta da semana, vamos e ela, pensemos a cerca.  A escrita me dá medo pelo seu poder de fixar o que se pensa, pela dificuldade de retirar o que se diz, pela apropriação dos outros de uma coisa que, até então, era pessoal, pelas múltiplas interpretações, pelas múltiplas consequências, pelas múltiplas visões. A escrita foi uma forma inventada de não esquecer, de selecionar quem lê, de elitizar o pensamento, de blindar o conhecimento.
A escrita é um processo de expurgação de nossos demônios, nossos fantasmas, de nós mesmos. Vamos deixando um pedacinho aqui, um outro ali, nos revelando um pouco cá e um pouco acolá.
Ferramenta perigosa, arma respeitável, baú de realidades mil, depósito de idéias, de revoluções, de nascimentos e renascimentos em nós mesmos.
Escrever é deixar um pouco da alma e do sangue através das idéias, é deixar cair bem devagar os sete véus, é uma sedução em slow motion.  É pique-esconde, é poder exercido com charme, com classe. É parir um filho, é esculpir um vaso. Escrever é trabalhar como oleiro moldando uma forma, a mais bela e intrincada forma de se esconder. É um convite a descoberta, a descoberta do texto, do contexto, do autor.
Escrever é um jogo de se revelar não se revelando, é viver sem viver, de falar sem abrir a boca, é provocar e esperar. É jogar xadrez sozinho. Escrever é se esconder se mostrando, é gritar em silêncio, é jogar pedra atrás de um vidro blindado. Escrever é emaranhar-se numa floresta de letras e esperar que algum dia elas digam quem somos. É procurar um leitor a altura aumentando sempre o nível de dificuldade. É procurar sem querer encontrar.
Escrever é usar um código em benefício próprio e ser ovacionado como talentoso. Escrever é fazer no imaginário o que não se consegue fazer na prática. Quem escreve é um sofredor, um observador com  ares de experiente. A escrita é um exercício nobre de covardia.


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