sábado, 8 de março de 2014

MIDAS DE SAIA

Partilhar
Uma maneira positiva de celebrar o dia internacional da mulher, seria exaltando mulheres extraordinárias. Que pensaram para além do seu tempo, que tinham consigo a semente da 'modernidade', no sentido de se ajustarem mais aos dias de hoje, do que,  propriamente, às suas épocas. Mulheres que não respeitaram os padrões designados para elas, que não se encaixaram na fôrma para qual foram destinadas, só por terem nascido mulher, e venceram, ou ao menos, deixaram a porta aberta para que as gerações seguintes fizessem a diferença.
A nossa musa de hoje é uma dessas. Uma mulher extraordinária, poderosa, inteligente, perspicaz e que não se curvou a um destino comum. Trata-se de Dona Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), uma filha de fazendeiros abastados da região do vale do paraíba, no estado do Rio de Janeiro. Que teve um educação diferente da maioria das donzelas da época. Regada a livros importados da França e orientações para os negócios. O mais espantoso é que tudo isso se desse em pleno século XIX.
Uma mulher ousada, para os padrões da época, sem ser vulgar. Tinha um visionarismo para os negócios,  que  era de espantar na época mas, mais ainda, por ser respeitada num nicho majoritariamente masculino. Gerenciava tudo de Paris, cidade na qual foi morar aos vinte e três anos, teve um caso longo com Joaquim Nabuco durante mais de uma década, em moldes bem modernos. E se recusou a casar-se,  que era um escândalo para a época.
Admitamos que o diferencial de D. Eufrásia era o seu assento financeiro e sua educação atípica. Mas muitas mulheres, herdeiras de grandes fortunas, não tinham seu poder de decisão, originalidade e coragem. O 'xis' da questão de D. Eufrásia era a sua personalidade, o quanto acreditava em si, sua ousadia bem calculada e meticulosa num território que não era tido como apropriado para mulheres. Isso tudo, sem afrontar, sendo necessária sem estardalhaços.
D. Eufrásia era uma mulher decidida, visionária, poderosa, sem fazer uso disso de forma espúria. Viveu oitenta anos com uma lucidez invejável e fechou muito bem o ciclo de sua existência. Destinou a maior parte de sua fortuna, sem herdeiros diretos, às instituições de caridade de Vassouras e para os pobres de Paris (cidade que viveu durante cinquenta anos).
D. Eufrásia nos dá um exemplo sobre a possibilidade do inusitado a partir do uso da estrutura que se tem, da não conformação com os modelos vigentes e do acreditar em si mesmo. D. Eufrásia, no século XIX, desmistificou o imaginário de que mulher não pensa, de que existe mundo de homem e mundo de mulher, de que padrões e convencionalismos são para serem seguidos.
Imaginemos, tendo como base os exemplos de descriminação de gênero de hoje, o que D. Eufrásia não deve ter ouvido de alguns, mesmo com sua fortuna; como não deve ter sido tratada por outros, e por outras, nós mulheres não somos corporativistas. Isso tudo numa época em mulher era propriedade dos maridos.
De vez em quando fazer esses voos rasantes pela nossa história, é bom para a gente perceber que sempre existiram mulheres que não se submeteram, que lutaram, cada uma de acordo com seu contexto, suas possibilidades e potencialidades. Que não somos as únicas e que não seremos as últimas.
Viva D. Eufrásia Teixeira Leite! Um espírito  nobre que vestiu um corpo de mulher por oitenta anos e que nos deu um exemplo magnânimo de possibilidades.
VIVA NÓS!

Saiba mais sobre D. Eufrásia (Aqui!)

Nenhum comentário:

Postar um comentário