domingo, 28 de agosto de 2016

A HORA E A VEZ DOS "CASCUDOS"

Partilhar

Wang Deshun - Modelo de passarela aos 80 anos

No ocidente temos uma visão muito apequenada da velhice, principalmente no esporte, em que o vigor, a velocidade, a agilidade e a competitividade são as variantes mais importantes, e a definição do conceito de velhice é trazido para cena mais cedo do que na vida social. Pois bem, nessa última olimpíada, finda a uma semana, tivemos lições importantíssimas em relação a esse aspecto e a outros. Aliás, essa olimpíada foi  a olimpíada da quebra da normatividade em muitos aspectos da vida em sociedade, mas hoje escolho o da velhice. Palavra feia que a gente substitui por 'maduro', 'cascudo', 'melhor idade' só para disfarçar. Mas é isso mesmo, o processo de envelhecimento se chama velhice. Mantidos o nome e o conceito, pensemos....
No último natal o mote das campanhas publicitárias foi a misericórdia com a velhice. Em uma das campanhas um 'velhinho' fingia que morria para reunir a família (Aqui!). Em outra, um 'velhinho' no ostracismo, esquecido, necessitado de compadecimento, morando na lua (metáfora excelente para solidão e abandono) é descoberto por uma criança com uma luneta. E que acaba lhe enviando um presente e o pobre 'velhinho' se debulha em lágrimas, agradecido. (Confira!)*
Na contrapartida, nas últimas olimpíadas tivemos um festival de 'velhinhos' dando um show, para o mundo inteiro, de saúde, vitalidade e muita autonomia. (Veja!).  O que nos faz repensar essa ideia fossilizada de velhice, vinda do tempo do ronca, que para alguns, é claro, ainda  é uma realidade por uma série de variantes. Mas que, hoje,  tem se apresentado como um imaginário forçado que diminui e alija os veteranos da vida de viverem.
Em algumas tribos indígenas e africanas, também em culturas orientais e organizações sociais com cultura diversa o 'velho' é um sábio, um indivíduo respeitado por sua experiência de vida, um radar de bastidores, quase um guru. Alguém a ser consultado e levado em consideração e jamais um indivíduo do qual alguém se compadeça. Nessas culturas é uma espécie de ideal de vida, envelhecer, ser querido, considerado e respeitado. Logo, percebemos que somos as ideias que cultivamos, que a força do coletivo que embala a ideia que acalantamos é muito poderosa. Então por que não muda-la, melhora-la de alguma forma?
Hoje, um 'cinquentão' é atleta amador de ponta. Um septuagenário tem autonomia. Temos casos de senhorinhas de noventa anos disputando maratonas (Dê uma olhadinha!). Pessoas de sessenta anos se divertindo mundo afora como mochileiros, e aprendendo muitas coisas novas. Uma galera feliz que se cuidou, que conhece seus limites e os respeita. Mas que, acima de tudo,  se ama e não permite que uma ideologia coitadista lhes digam quem são, ou que o poderiam ser. Os 'velhos' de hoje têm vida social, sexual, são ativos economicamente, estão atualizando seus conhecimentos cognitivos e de mundo. Os 'velhos' de hoje se contextualizam, e o melhor de tudo, não têm vergonha de seus cabelos brancos e de suas rugas, nem daquela barriguinha que teima em chegar primeiro, ou da flacidez que cisma de marcar presença. Por que? Porque ali tem muito mais do que isso, tem uma pessoa com uma história.
Os cinquenta de hoje são os novos vinte e cinco e devemos tudo isso à revolução tecnológica na medicina e ao acesso à informação por uma grande parte das populações do mundo. Se cuidar é bom e faz parte desse cuidado uma série de recomendações que já conhecemos bem, e que a longo prazo faz diferença na vida do indivíduo. E isso também inclui filtrar certos ideais vitimistas e que só servem para separar as pessoas umas das outras. Fazer ouvidos moucos a certos compadecimentos desnecessários, se distanciar de quem faz diferenças tolas e preconceituosas e ousar sempre, ouvindo apenas o nosso corpo e o que ele tem a nos dizer. Isso é fundamental. Mas existe uma outra variante importantíssima, que é sonhar, sonhar sempre. Possivelmente, esse seja o caminho para uma velhice saudável e feliz. Conheça essa outra história maravilhosa e tire suas próprias considerações. (modelo masculino aos 80 anos).
No mais, o sol brilha todos os dias, e os dias são para serem vividos em toda a sua plenitude e  com intensidade. VIVA OS COROAS!  VIVA OS CASCUDOS!  VIVA NÓS!

* Em relação às propagandas publicitárias, não vai aqui nenhuma condenação ao viés de abordagem, tendo em vista sabermos que algumas são direcionadas a familiares de idosos abandonados (isso existe). E essas serviriam de instrumento de conscientização. O uso no texto foi só o catalisador para iniciar uma conversa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário