sexta-feira, 8 de abril de 2011

EDUCAÇÃO RUMO À MEDIEVALIDADE

Partilhar
      A Educação está um caos. Isto não se aplica somente à escola, que estrutura a educação sistemática, que tem por função a compilação do conhecimento contextualizado com a realidade cultural e com a construção de uma nação. Mas a educação assistemática, aquela que é dada cotidianamente, com particularidades de contexto familiar, religioso, social, sexual, comportamental, de aquisição de valores éticos e morais.
      A Educação familiar entrou em falência com a ausência de mães e pais que precisam trabalhar, sentem-se culpados e não conseguem dizer "Não" a seus filhos e imporem limites a eles, nos poucos momentos que estão juntos. Então temos uma avalanche de "Sims". Tudo pode. "Meu filho é o melhor". Respeitar o outro pra quê?...por que?. Ele ( " o meu filho") tem que estar na frente. Tem que ser o melhor. E se não for?... vem a frustração. Aprendemos a lidar com isso?. Esquecemos que quando respeitamos o outro como legítimo outro, significa que nos respeitamos primeiro, que sabemos o que é isso e o que significa. Quando esse conceito não é formado, perde-se os limites de  até onde se deve ir, não se tem "freios", nem morais nem éticos. Avilta-se o outro e, dependendo do objetivo, o indivíduo vilipendia a sí próprio por algo que queira, seja esse "algo" importante ou não, aliás, a noção de importância também é uma construção, não se nasce com ela.
      O resultado dessa falta de "freios" é o Bullyng, as tragédias ( tão comuns nos EUA). Agora nós também temos a nossa própria. O péssimo traquejo em lidar com frustrações, o consumismo exacerbado entre crianças e a sobrepunjança deste em detrimento das relações sociais e afetivas, a negociação dessas relações na obtenção de um recurso material que se queira adquirir, a intolerância com o diferente, seja de aspecto positivo ou negativo, porque o "bonito", o "inteligente", "o bem educado" também sofre, não é só o "gordinho" ou o que tenha necessidades especiais, a intolerância é "democrática".
      O autor do Bullyng na escola, será o autor do bullyng na academia de ginástica, na universidade, um divulgador de boatos no trabalho, na internet. A proporção que a situação está tomando estende-se a muito longo prazo, o bullyng, segundo o andar da carruagem, não será privilégio só de colegiais, o será nas academias, em sites na internet ( já o são), no trabalho e etc...
      E o alvo do Bullyng? alguém já pensou no que se transformará? Vejamos.... talvez num medroso, num covarde com medo de ousar, num traumatizado... ou num revoltado, num esquizofrênico, num psicopata...basta que ele tenha tendência, o bullyng se transforma num gatilho. Temos "N" possibilidades e brincamos com elas. Nada justifica, tragédias como a que vimos esta semana na cidade do Rio de Janeiro, mas se explica. Não precisa necessariamente ser bullyng, pode ser uma rejeição sistematizada, uma alienação combinada. Querem experimentar o quanto o outro interfere na sua vida?  viva a experiência dos NÃOs. 10 "NÃOs" num dia, somente aquele dia, e perceba como o final do seu dia será infernal. "Não" para qualquer coisa e todas elas...doem. Somos parte de um todo. Não tem como assistir a algo e alijar-se, queiramos ou não, admitamos ou não, somos responsáveis por tudo o que temos, por tudo o que construímos, nós produzimos a sociedade que temos, pelo simples fato de não sabermos o poder que possuímos.
      Com essa falta de controle dos pais, por culpa, por pena, por falta de noção, resolveu-se colocar a responsabilidade na conta da escola. A responsabilidade do "freio". Mas quem está  acostumado a fazer tudo o que quer durante 6 anos ( idade inicial do Ensino Fundamental) não vai mudar com a pseudo-autoridade de desconhecidos em 1 ano. A construção já está feita, principalmente a de caráter, as arestas é que devem ser aparadas.
      A escola não dá conta de ensinar bons modos, respeito por si, respeito ao outro, planejamento familiar, educação espiritual, orientação vocacional, sexual, filosófica, comportamento social e etc... isto é dever da família, a escola é complementar.
      O que temos então? uma multidão de pessoas que acham que têm razão em tudo, incondicionalmente. Educadores reféns desse descontrole, pois numa titude de discordância com um desses " benfazejos do próprio destino", em qualquer assunto, principalmente em avaliação e comportamento, têm-se o carro arranhado, pneus furados, ameaças e etc... e assim vai-se vivendo, fingindo que as coisas são normais. Mas, sem "freios" a coisa pode continuar piorando e acaba explodindo. A escola não tem autoridade para expulsar um aluno que se constitua ameaça a integridade física ou moral  de alunos, professores ou funcionários. Não tem-se a quem recorrer, tudo cai na Lei de Inclusão, no ECA, no Conselho Tutelar, sempre tirando a razão da escola, e já que temos que conviver com isso, que nos seja fornecido segurança....NÃO TEM. Então ficamos entre a escola e a penitênciaria, de pés e mãos atados, sem poder fazer nada.
       Estamos criando uma sociedade sem princípios morais e éticos, excessivamente consumidora e tendo essa vertente ( a do consumo) como eixo norteador; barbaramente cruel, no que diz respeito ao trato social, que não sabe como ter filhos, quando tê-los, como alimetá-los, como educá-los, que não quer arcar com responsabilidades.Parecendo uma horda de medievais a tomar de assalto uma civilização, com o objetivo de usufruir de prazeres fúteis como o exercíco de poder por puro poder e pela força.
      Esta construção tem mais de 20 anos. Dentro da escola e fora dela.Como parar com isso?... na linha de projetos de políticas públicas? (debochadamente) instituir um adicional de periculosidade para os funcionários da educação (????!!!). Será que resolve? é tapando buraco que agente resolve a inclusão no Ensino Superior, abrindo cotas, ao invés de melhorar a qualidade da formação do profissional de educação e pagar-lhes com dignidade. Como resolvemos a homofobia? instituindo uma lei que puna com prisão inafiançável, ao invés de educar. Como resolvemos o racismo? da mesma forma. Como resolvemos a violência contra a mulher? fazendo a Lei Maria da Penha....mas a Maria da Penha está numa cadeira de rodas.....e....
      O que estamos assistindo é o resultado do descaso e da prática de jogar o lixo para debaixo do tapete, só que o lixo está tanto, que está dando para tropeçar. O problema é social, político, econômico, espiritual e etc... é a soma de fatores que uma só intituição não dá conta. `A educação cabe cumprir seu papel de construção do cidadão, de alicerce na constituição de uma nação.`A família cabe construir pessoas, indivíduos com noção de humanidade, pois a família é  célula mater de uma sociedade. O que estamos assistindo é a falência da família como instituição, arrastando todas as outras consigo, em suma, a sociedade inteira. A educação, hoje, é caso de polícia. Digo isso com pesar e tristeza, pois vivo da educação há 20 anos e acredito piamente nela. podemos mudar isso. É só  acreditarmos, querermos e nos mobilizarmos. Leva tempo? leva, mas o tempo vai passar do mesmo jeito, passemos este tempo construindo alguma coisa boa para deixarmos para as próximas gerações.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário