segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

BALANCETE

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Quando era pequena, numa casa grande com árvores e muito barulho, me pegava olhando a sombra das folhas das árvores no chão, advindas da luz da lua cheia. Eu gostava da lua cheia, eu gostava mais da luz da lua do que da luz do sol.
Eu não sabia "aparar" meu raciocínio e levá-lo às árias da poesia mas, alguma coisa em mim me levava a observações indevidas e inusitadas.
Eu já tinha angústias, Eu já possuía inquietações, eu já filosofava, eu já questionava coisas profundas, como feitos divinos, manipulações, exercícios de poder arbitrário - não com estes conceitos, mas questionava, do meu jeito. Eu já tinha anseios, eu já não gostava da minha realidade, eu já não gostava de rotina, eu já não gostava de mesmice, eu já não gostava de pasmaceira.
Eu procurava a lua, entre os galhos das árvores, como se ela pudesse ser alcançada. Eu já me perguntava tantas coisas, eu já tinha tantos planos, eu já procurava tantas saídas.
Saber que, quase quatro décadas depois, eu continuo na mesma sintonia, questionadora, igual, imensa. É um orgulho, saber que não me deixei quebrar. Caí, levantei, lutei, venci, perdi, continuei. Saber que fiz os meus caminhos e saí ilesa, saber que aprendo bem a jogar xadrex, saber que sem saber eu já sabia o que era mesquinhez e me abstinha dela, eu já sabia o que era mediocridade e me esquivava dela. Saber que preciso praticar o que já sei e penso que não sei e, enquanto penso que não sei é que sei de fato, porque o dia em que eu achar que sei, será o dia que desaprenderei.
Hoje eu continuo, conotativamente, na janela do quarto dos meus pais, olhando as folhas dos coqueiros fazerem sombra no chão, sob a luz da lua; bolando meus planos, alimentando meus sonhos, ruminando minhas inquietações, fustigando minha agudeza, fomentando meu agir, empurrando o meu criar e estocando força motriz. Porque parar é um estado de coisas que não estão. FELIZ CONTINUIDADE NOVA!

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