domingo, 4 de março de 2012

A FUNÇÃO DA ARTE

Partilhar



Nossa sina é aprender. Aprendemos a andar, a falar, a ler, a escrever e tantos outros aprendizados sociais. Ser sociável, educado, polido, quase tudo a escola, a família e as instituições de convívio - igrejas clubes e afins - nos ensinam ao longo de nossa existência. Só não nos ensinam a sentir, a aparar as arestas das emoções, a polí-las. É por esta fresta que entra um fragmento/versão da vida ou ciência não exata ou disciplina, seja lá como classifiquem, chamada arte.
Ao longo da vida, com o corre-corre do cotidiano, com as preocupações que alçamos como prioridades, chegamos a pensar que apreciar arte, seja de que estirpe for, é frescura para classes mais abastadas e que não fará a menor diferença a alguém, se não for apresentado a ela. E não nos damos conta de que somos apresentados todos os dias às formas mais sutis do belo. Somos expostos, sem a menor cerimônia, a sensações e percepções das mais suaves as mais contundentes. Seja a um amanhecer divino ou a uma música tocante  e até a uma imagem aterradora. Estamos o tempo todo lidando com os sentidos. E estes nos proporcionam sensações de deslumbre, contemplação, dor ou deleite. O que não sabemos é classificá-las, saboreá-las, perceber sua intensidade, sintonizar o canal e desfrutar da paz proporcionada.
A arte, o belo situa-se entre o instinto e a racionalidade, aquilo que nos compõe, que aproxima a nós de nós mesmos, que nos harmoniza com o mundo.
A arte proporciona o entendimento sem conceito, eleva-nos a excelêcia do sentir, construindo um juízo de gosto. Elabora os afetos, desdobra-os, refina-os, vivifica e exercita a faculdade do sentir. Esse turbilhão de transformações se dá dentro de nós, pertence ao âmago do ser, desenvolve a imaginação e o entendimento.
A arte detém o processo de fossilização da sensibilidade, traz à tona verdades reprimidas e equilibra as dimensões  razão/imaginação/sensação
A arte não luta contra o mundo. Faz-nos relaxar, aceitar, contemplar, unifica-nos com ele. Insere-nos e fortalece-nos pela sensação de pertencimento.
A arte tem a si mesmo como finalidade, rompe o fluxo do tempo e nos envolve numa "estática". Na arte não existe limitações geográficas. O que existe é a exaltação da criação, da vida. É um direito de todo ser humano, direito a interioridade.
A arte através da subjetividade nos proporciona a verdade da existência, a nossa verdade. O exercício de contemplação do belo é reinvindicação de prazer, e prazer é um instinto incrustado nos cromossomos.
A sistematização  do sentir usa o mundo como fonte inesgotável e multifacetada de significados. É pelo estético que se educa a subjetividade. A estética estimula uma percepção nova, guiada pelo prazer e pela liberdade.
Este estado de felicidade deveria permear todos as aspectos de nossa vida, as relações sociais, produtivas, científicas, nos motivando a um desabrochar harmônico com o mundo e para a vida.
Este ano, até Hollywood, através da academia de cinema, em plena era 3D e de efeitos especiais inimagináveis, curvou-se ao belo puro e simples, ao fazer artístico representativo da ingenuidade embuído de arte e beleza sem par. O vencedor da noite do Oscar 2012 foi The Artist um filme estrangeiro (francês), em preto e branco, mudo, que se "metalinguageou" e que ideológicamente engrandece o amor nobre, o amor-doação, o amor-cuidado, o amor-ternura, o amor pelo amor.
Este ano, os milhões de dólares bem investidos foram os utilizados para fazer o caminho inverso, de usar a tecnologia para fazer uma apologia a não-tecnologia. E arrebatou, encantou porque tocou nos sensores que todos nós possuimos e que anda em desuso. Só a arte tem esse poder.
E ainda bem que temos os persistentes, pirracentos de plantão que insistem em fomentar o exercício dessa sensibilidade, onde quer que seja, e cujo lema é: " Se maomé não vem à montanha, a montanha vai a maomé"....e funciona.









Por que e escola não ensina a sentir? ...talvez, por que essa seja a função da arte, da vida, do movimento da estética e do belo em nossas existências.




Nenhum comentário:

Postar um comentário