sábado, 25 de fevereiro de 2012

VERSÕES DO CARNAVAL

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O carnaval é uma festa desde os idos de 600 a.C. Surgiu na Grécia, eram comemorações e festejos em agradecimento aos deuses  pela fertilidade do solo e fartura nas colheitas. Posteriormente os romanos inseriram bebidas, práticas sexuais durante os festejos, liberavam temporariamente os escravos, suspendiam as atividades de negócios e comércio , as restrições morais eram relaxadas e durava sete dias. Toda e qualquer festa pública era carnaval. Com o passar do tempo, lá por volta de 590 d.C a Igreja Católica se adonou da festa, mesmo com todos inconvenientes espirituais, para marcar o início da quaresma - quarta-feira de cinzas. Aí a coisa piorou de vez. Já que todo mundo ia ter que ficar sem comer carne sem fazer todos os pecadinhos cotidianos a galera resolveu ir à forra antes da quaresma e fazer valer o  nome "Carne Vale", que refere-se à despedida dessa "carne" que só poderia ser comida depois da páscoa.
No Renacimento, a galera resolveu organizar o babado e inseriram uns costumes mais civilizados, máscaras, fantasias e carros alegóricos. No século XVIII - aproximadamente 1723 -a tal festa chegou ao Brasil e,é claro, fomos inserindo o nosso jeito brasileiro de ser, era chamada "entrudo" e as pessoas jogavam água nas outras, farinha, ovos e havia até casos de mortes  por violências comezinhas - como se hoje não os houvesse.
Mas foi  a partir do século XIX - lá por volta de 1830 - influenciados por Paris, que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas na forma como conhecemos. Mas, e daí? E daí que podemos estar diante de uma nova mudança nas festas carnavalescas como conhecemos.
O carnaval, contextualmente, é uma festa irreverente, em que todos os sentidos estão aflorados, a transgressão é permitida e é a ordem do dia. Ao longo da história do carnaval o "tudo é permitido" pegou. Pode tudo, o ficar a vontade para rir, brincar e debochar é uma tônica.
Em alguns fóruns o desfile de artes plásticas específico do evento é o foco. Alvo de uma disputa que encanta, inebria e envolve. Em outros, no terrenos das maldades, as licenciosidades e atrocidades também tem seu crescimento exponencial. Mas o que regeu o contra-senso do carnaval de rua do Rio de Janeiro foi o desfile de bloco evangélico. Sim, bloco em que ninguém seguia porque  não podia, era fechado com um cordão de isolamento humano. Extremamente organizados, com bateria ao vivo, carro de som, alas divididas por temas, coreografias com direito a encenações e ...evangelização.
Tivemos os santos de Deus, saídos dos lugares celestiais, pisando o inferno dos mortais levando a palavra de salvação para os perdidos em plena terça-feira de carnaval na Avenida Rio Branco.
Os aspectos a serem analisados, mesmo que superficialmente, são vários: a dicotomia de usar a festa da carne para pregar a espiritualidade em pleno exercício da carne, embora num regime democrático isso seja um direito, o desconforto era cabal; o uso da própria linguagem do carnaval para falar mal dela, de certa forma afrontá-la e o inconveniente de ter centenas de jovens distribuídos pela Avenida Presidente Vargas e Avenida Rio Branco evangelizando, literalmente. O uso do palco  do carnaval para fazer propaganda da instituição, e quiçá, propaganda política, tendo em vista, a pastora ser vereadora da câmara da cidade do Rio de janeiro.
Mas show mesmo, digno de uma dissertação de sociologia, deram os foliões de outros blocos, que assistiam, os transeuntes e os espectadores; curtiram o sambinha, ninguém jogou ovos, nem tomates, nem garrafas ou latinhas do que quer que fosse. Quem não curtiu, assistiu, recebeu a "mensagem de salvação" e foi tomar conta de sua vida.
Tivemos um momento de civilização sem precedentes na história da humanidade, suportamos a invasão de fórum, uma violação de território, fomos empapados com uma ideologia imprópria para o evento, seja lá com quais objetivos fossem e tudo isso, com muita classe.
Lembrando que para este bloco desfilar oficialmente, foram seguidos todos os trâmites legais que todos os blocos seguem e foram aceitos, tiveram permissão e foram bem recebidos.
Agora podemos estar diante de mais uma virada na história do carnaval, já foi uma festa grega, já foi uma festa romana, já foi um marco no calendário católico, já foi uma festa vitoriana do século XVIII, é a festa do povo, mas pode ser que nossos netos venham a conhecê-la como festa Gospel. rsrsrsr. Viva a cidade do Rio de Janeiro! Viva o carnaval da Rio Branco! Viva o Folião Carioca!
.....Ah! se o objetivo foi propaganda, conseguiram.




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