domingo, 5 de fevereiro de 2012

ESTEIRA DE PASSAGEM

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Tive um amigo, na década de 80, que adorava frases feitas, e havia umas que ele tinha como norteadoras de vida. Dizia ele: " Antes da hora não é a hora, depois da hora passou da hora, a hora é na hora", e ríamos todos. Mas, ele continuava dizendo que isto era mais do que frase feita era uma "filosofia de vida".
Pensando dessa forma, poderíamos aplicar essa premissa a um episódio ocorrido há duas semanas atrás, quando do desabamento de três prédios no centro da cidade do Rio de Janeiro, em que um rapaz escapou  de passar desta para melhor, pegando o elevador do prédio em desabamento. Contrariando todos os prognósticos de segurança que advertem para não acessar elevadores em casos de incêndio, terremotos, desmoronamentos e etc...Neste caso a cápsula do elevador o protegeu.
Todos nós morreremos um dia. Esse dia talvez tenha data mesmo. Quem tem que ir, independente do que for, irá. Se for aquela a hora.....se não for de queda de avião o será de queda no box  do banheiro; se não for de ataque cardíaco por um aborrecimento o será pela vitória do time de futebol; se não for de carro numa viagem o será dormindo sonhando com ela. Dificílimo é entender isso quando é com os nossos. Isto apenas signifca que não controlamos tudo, talvez signifique que não controlamos nada.
Raciocinamos como se o universo, o cosmos, as diretrizes etéreas que detêm as nossas cordinhas fossem iguais a nós, com as mesmas argumentações e nos devesse satisfações. A nossa pequenez diante do sentido das "existências" nos faz parafrasear Chicó, uma personagem da obra" O Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna que, diante de situações que não conseguia explicar, dizia: " Não sei, só sei que foi assim...."
O nosso entendimento rudimentar, à manivela e ligado ao momento, ao tudo que achamos que é tudo, mas que em relação à nossa existência é nada, não nos permite alcançar itinerários e percursos de almas, as nossas. Não nos fornece caminhos para porquês. E aquilo que não alcançamos, contemplamos. Aquilo que não entendemos, sentimos. Aquilo que nos foge....nos foge.
Mas atendendo ao nosso chamado explicativo de consolação. Façamos ilações confortantes, respondendo a perguntas punjantes, duras e cruéis que nos corroem, como por exemplo, por que uns sim ( se vão) e outros não? Talvez porque para uns a missão já tenha sido cumprida. Quem decide isso não são os anos vividos, a cronologia humana, mas os feitos realizados, a quantidade de respirações,a cota de decisões tomadas e que já o foram. Os outros que não, pode ser que ainda tenham umas coisinhas a mais para aprender, rever decisões que não ficaram bem amarradas, uns feitos que precisam ser realizados, outros que precisam de conserto. A missão a que se propuseram não está cumprida, então há que continuar.
E nós, no exercício natural da emoção, pranteamos. Pranteemos! Não para lamentar ou entristecer-mo-nos, mas para expurgar a saudade e deixar ir em paz.
Os pêsamos são para os vivos, os que ainda têm uma cota para resgatar. Aos mortos, congratulações. O muito obrigada por ter estado conosco, por ter dividido o sorriso, o abraço, as experiências, a vida, as alegrias e por fazer parte do nosso crescimento deixando um pouco de seu brilho conosco. O que esperamos é que tenhamos tido a mesma importância...porque a " a hora é na hora".

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