quarta-feira, 16 de março de 2011

DEPOIS DE HIROSHIMA E NAGASAKI... FUKUSHIMA

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Após um terremoto de 7,9 graus, na escala Hichter , no meio do Oceano Pacífico, seguido de uma fúria marítima sem precedentes contra o arquipélago japonês. Além das imagens assombrosas da tragédia, das perdas humanas e materiais, um acidente nuclear decorrente do tremor numa das usinas pasma o mundo. Nada que o Japão não conheça, acostumados a tremores diários em escalas menores, é claro. E ressurgido das cinzas, após a explosão das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki em 1945. O representante milenar da cultura oriental vê-se, de novo, às voltas com o exercício da capacidade de reconstrução e disciplina. Suas marcas registradas após a 2ª guerra mundial.
O Japão tem em sua história as palavras: reinvenção, disciplina, sobriedade, assertividade, paciência e sabedoria. Um país com reservas trilhardárias e dívida externa cavalar, embora administrável, com uma cultura milenar e um histórico de tragédias devastadoras. A disciplina silenciosa de reconstrução deve se repetir, salvaguardadas as devidas proporçoes e diferenças.
Na década de 80, não me lembro o ano, o cinema hollywoodiano lançava o filme de "The Day After", que abordava as consequências de um acidente nuclear de grandes proporções, numa linha senso comum e factual, alertando para os perigos de uma nova forma de geração de energia. Uma energia limpa que contribui para o desenvolvimento sustentável, para a manutenção do meio ambiente, sem poluentes agressores aos biomas. Mas nada é sem preço. Tudo tem consequências. E essas não são das melhores no caso de um infortúnio. Preservamos o planeta,  o que é louvável, mas nos expomos à morte lenta e dolorosa causada por reações químicas de agente nucleares interagindo com as propriedades de nossa modalidade de existência, a humana. Efeitos lentos, devastadores, impactantes e dolorosos, sem cheiro, sem gosto, sem cor, sem cara.
Enfrentar um inimigo invisível é um exercício mental e espiritual. Seres acostumados ao impirismo, ao exercício dos sentidos, como nós, ter que lidar com estimativas, prognósticos, pré-diagnósticos, estatísticas de saúde, probabilidades, porcentuais de, taxas de, referenciando-se a seu próprio corpo, à sua saúde, à sua existência e a condição e situação dela. Construção etérea difícil, pois neste contexto ainda tem-se que atender a condição humana inerente a todos, sonhar. Sonhar e construir em meio ao pesadelo, acreditar em meio ao caos, interno e externo.
Mas a reconstrução tem que começar. Olhar para os destroços físicos e iniciar a grande jornada significa pegar a primeira flerpa do monte de destroços e colocá-la no lixo, o primeiro pé de meia, aquele sapato  desgastado, aquela boneca sem braço e se livrar de tudo o que faça lembrar o que se quer esquecer. Pegar a pá, a vassoura e agir, e aclarado o chão aclara-se também a alma. Vem a inspiração, os novos objetivos, a sistematização da nova vida e tudo ganha impulso, força velocidade e ritmo. Com o silêncio característico dos orientais a reconstrução ganha uma trilha sonora personalizada e uma cara de formigueiro em ebulição.
A reinvenção é um processo lento, assertivo e doloroso. Significa deixar para trás aquilo que se acreditava ser, os conceitos que alicerçavam sua existência, desfazer a estrutura que se imaginava ter e sob a qual pensava embasar a vida e recomeçar. Reinvenção significa desconstrução como primeira premissa, isso a natureza já fez. Trabalho de formiguinha faz diferença e alguém já disse: " Uma grande jornada começa com o primeiro passo ". Força ao Japão.

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