segunda-feira, 14 de março de 2011

JOÃO BATISTA NO DESERTO

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Desde que a  humanidade existe a necessidade de comunicação faz parte desta existência. Essa urgência é inscrita nos cromossomos. Se não se tem com quem falar...fala-se sozinho. Assuntos não faltam. Mas será que você tem sempre ao seu alcance alguém que queira conversar? Que se interesse pelos mesmos assuntos que você? Que esteja disposto a lhe ouvir? Interagir com você a altura do que você aborda? E corresponde a essa expectativa?
Há 40 anos atrás a família era maior e as conversas se davam à mesa ou na varanda, os assuntos eram diversos, de futebol a política, regados a cafezinho. Aproveitava-se a visita do almoço de domingo e  tinha-se verdadeiros seminários em família ou entre amigos, sobre notícias de jornais, religião - nos quais quase saiam tapas - emissão de opinião sobre fatos acontecidos na vizinhança....enfim, havia o exercício do diálogo, da comunicação, essa característica do advento da humanidade - ser humano, estar humano.
Hoje a família não tem mais o mesmo tamanho, dos três a quatro filhos  hoje se tem um, quando se tem. Os vizinhos e familiares já não se reunem mais aos finais de semana, não há tempo. As mesas de jantar já não são mais locais de encontros, elas já não cabem mais nos minúsculos apartamentos. Mas a punjante necessidade de interação continua inscrita nos genes e grita. Tenta-se no trabalho, na padaria, nas filas de bancos - em extinção - com os vizinhos, mas...o assunto que se quer abordar agrada? O interlocutor tem nível para discutir o que te interessa? fica a frustração.
Porém a inquietude humana sempre encontra um caminho. Surgidos nos sites de jornais e revistas eletrônicos para serem utilizados por seus colunistas com uma liberdade maior de diagramação e  possibilidade de comentários, os blogs se tornam espaços de diálogos/monólogos para saciar essa sede de comunicação. Ao alcance de qualquer um, a serviço do quer que seja - que o diga Bruna Surfistinha no auge de suas atividades, quando as exercia.
 E assim, os pobres mortais que estão entalados com seus assuntos encalhados que ninguém quer ouvir, se transformam em uma versão de João Batista, o que pregava no deserto para o vento e se alimentava de mel e gafanhotos.
Os blogs, hoje, são um espaço democrático de quem quer emitir opinião, de preferência com responsabilidade, e fazer-se ouvir/ler por alguém que se interesse pelo assunto abordado e, sendo um ouvinte/leitor muito mais dedicado e afeito a atenções do que um desinteressado que viesse ser abordado à revelia.
Escrevemos num veículo que tem acesso a 7 bilhões de pessoas no planeta, pelo menos a possibilidade, e nos sentimos aliviados de termos exorcidado aquele texto/fala que nos engasgava.
Mas na verdade estamos falando sozinhos, deixando a fresta da porta aberta para que, se alguém passar e se interessar, pare, ouça e interaja, como há 40 anos atrás, só que via satélite. Estamos institucionalizando a esquizofrenia e legitimando a solidão. Mas são outros tempos, outra realidade, outro contexto e sobrevive quem se adapta.
Viva a seleção natural ! Viva o progresso!  Viva a democracia!  Viva os espaços de cidadania! Viva os Blogs!

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